Já que decidiu render-se à cirurgia estética, que tal aproveitar para corrigir duas (ou até três) imperfeições em vez de apenas uma? Esta prática está a vulgarizar-se, graças à utilização de técnicas e equipamentos cada vez evoluídos, que permitem intervenções menos invasivas e recuperações rápidas. Poupa-se tempo, dinheiro e até em incómodos e ganha-se em resultados, assegura quem sabe

Barriga lisa e peito firme, rosto rejuvenescido e glúteos remodelados, nariz e queixo em harmonia... Porquê tratar só um problema de cada vez se pode resolver vários de uma assentada? As técnicas de nova geração e o grau de desenvolvimento da cirurgia plástica nos últimos tempos tornaram possível a mudança de mais do que uma zona da anatomia com uma única visita ao bloco operatório.

Como explica o cirurgião plástico Ângelo Rebelo, «muitos procedimentos que, há anos, eram considerados intervenções distintas, são hoje encarados como partes de um mesmo trabalho». «A partir de determinada idade, não faz sentido fazer um lifting facial sem o complementar com um lifting cervical (na área do pescoço), em nome da harmonia do resultado. Em alguns casos, pode justificar-se também uma blefaroplastia (cirurgia das pálpebras)», exemplifica.

Quantas cirurgias se pode fazer de uma vez?

«Não pratico cirurgias que impliquem internamento ou anestesia geral, nem faço uso de transfusões de sangue. Quando me surgem pacientes com indicação para esse tipo de intervenções, reencaminho-os para outros colegas». O diretor da Clínica Milénio, em Lisboa, reforça que se aperfeiçou em cirurgia estética de ambulatório, com incisões mínimas e perdas sanguíneas quase inexistentes.

«Na minha sala de operações, o limite não é a quantidade de intervenções mas sim a quantidade de anestésico que o organismo de cada paciente pode suportar. Isto é calculado em função dos resultados de uma série de exames e análises prévias, que têm em conta os mais diversos fatores, da saúde geral do indvíduo ao índice de massa corporal», explica o famoso cirurgião estético.

«Isto quer dizer que, numa pessoa, pode ser necessário fazer uma abdominoplastia em duas fases e, noutra pessoa, ser possível operar a barriga, mamas e braços ao mesmo tempo... Mas cada caso é um caso», realça. A maioria das cirurgias executadas por Ângelo Rebelo implica um período de recuperação total não superior a seis semanas. Na opinião deste cirurgião, «as combinações duplas ou até triplas recomendadas são as que não obstruam a vida normal dos pacientes».

«As que não prolonguem o normal processo de recuperação de uma intervenção», esclarece. As vantagens destes procedimentos 2 em 1 são várias:

- Passagem por um único processo de anestesia, pós-operatório e recuperação

- Rentabilização dos recursos técnicos e humanos do estabelecimento clínico, o que se traduz numa fatura mais barata no final

- Obtenção de resultados globais mais compensadores

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As combinações mais habituais

Todos os dias, Ângelo Rebelo recebe mulheres no seu consultório com ideias muito claras sobre o que querem modificar em si próprias. E não é invulgar estarem decididas a alterar mais do que uma característica anatómica. Adelgaçar a zona das ancas, glúteos e coxas e aumentar o peito é um pedido frequente. A partir de determinada idade, a combinação do lifiting cervico-facial com a abdominoplastia simples também é bastante popular.

Outra dupla recorrente, sobretudo depois dos 50 anos, é a braquioplastia (cirurgia da face posterior dos braços) com a mastopexia (lifting das mamas). Estes são alguns dos procedimentos estéticos mais solicitados:

- Ancas, glúteos, coxas e peito com proporções perfeitas

Adelgaçar a metade inferior da silhueta e aumentar o volume das mamas é o sonho de muitas mulheres portuguesas, cuja genética tende para o desenvolvimento do chamado corpo de pera. As técnicas actuais de vibroliposucção e de colocação de implantes mamários tornam possível fazê-lo em poucas horas e ir para casa no mesmo dia.

A vibroliposucção (das ancas, glúteos e coxas) permite a remodelação das mais variadas zonas do corpo. O objetivo é extrair a gordura localizada através de pequenos orifícios (de 2 a 4 milímetros), com cânulas muito finas que aspiram a gordura com recurso a movimentos subcutâneos de vibração mecânica.

Está indicada para a redução de volume e alteração localizada da forma, com a vantagem de conseguir uma boa retração da pele. É, comparativamente com a lipoaspiração tradicional, um método menos traumático, sem cortes, que não provoca sangramentos e permite uma recuperação rápida, com menos edemas e menos dor.

- Duplo alisamento de rosto e abdómen

Num mesmo acto cirúrgico, pode-se rejuvenescer a face e adelgaçar o ventre, numa combinação de várias intervenções que resultam numa pele mais tonificada e com contornos mais definidos em ambas as regiões do corpo. Neste caso, a blefaroplastia (cirurgia das pálpebras) corrige os sinais mais evidentes da passagem do tempo na zona dos olhos, levantamento das pálpebras superiores, correção do aspeto descaído dos cantos exteriores dos olhos, eliminação dos papos das pálpebra inferiores.

O cirurgião actua sobre as bolsas de gordura instaladas sob os olhos e na musculatura das pálpebras através de minúsculas incisões. A operação de lifting cervico-facial repõe no devido lugar os tecidos do terço inferior do rosto (oval da mandíbula e pescoço). O objetivo é corrigir a pele descaída e eliminar vincos, rugas profundas, duplo queixo e papada.

Consiste em despegar a pele dos planos profundos, através de incisões pouco visíveis (perto das orelhas), para retirar o excesso de pele e gordura. A abdominoplastia simples reduz o volume e remodela a parte inferior do abdómen (barriga). A partir de uma incisão sobre a púbis, mais ou menos longa, semelhante à cesariana, o cirurgião acede à zona das ancas para extrair, de um lado ao outro, gordura localizada e pregas de pele a mais abaixo do umbigo.

- Reduzir e refirmar braços e peito

O efeito da passagem dos anos e da gravidade é inexorável. Depois das gravidezes, aleitamentos, ganhos e perdas de peso sucessivos, menopausa ou outras alterações hormonais, a quase totalidade das mulheres sente-se descontente com a perda de tonacidade da pele. O peito descaído e as carnes penduradas da face posterior dos braços podem ser especialmente lesivas da autoestima.

Mas são problemas simples de corrigir por um bisturi experiente. A braquioplastia (cirurgia da face posterior dos braços) é indicada em casos de perda acentuada de peso. A remoção do excesso de pele e de gordura melhora significativamente o contorno local. A cicatriz resultante deve ser posicionada ao longo do sulco da axila. A mastopexia (lifting das mamas) é uma cirurgia pouco traumática, porque o cirurgião tem apenas que tirar a pele em excesso e arrumar a mama.

Existem várias técnicas, que diferem quanto à localização da cicatriz (pode ser só à volta da aréola ou acompanhada de uma pequena cicatriz vertical no sulco infra-mamário). Em alguns casos, é aconselhável o implante de uma prótese, para dar o volume pretendido à mama. Noutros, pode ser necessário uma redução.

Veja na página seguinte: Remodelação radical da face com intervenções múltiplas

- Remodelação radical da face com intervenções no nariz e no queixo

A realização conjunta de uma rinoplastia (cirurgia do nariz) e uma mentoplastia (cirurgia do queixo), denominada perfiloplastia, obtém uma mudança radical do perfil, que ganha em harmonia. A cirurgia do queixo tem uma dupla versão. Pode ser de aumento ou redução. O aumento do queixo realiza-se através de uma incisão na mucosa da boca, entre a gengiva e o lábio inferior, colocando um implante (existem em várias formas, tamanhos e de diversos materiais).

Quanto à redução do queixo, esta zona do rosto costuma dar de si com a idade, em consequência das alterações buco-dentais. Para reduzir o queixo, realizam-se técnicas mais complexas e pluridisciplinares. Em relação à rinoplastia, os cortes, realizados no interior do nariz, permitem que o cirurgião esculpa e modele os ossos e as cartilagens para obter o efeito desejado.

Outras combinações possíveis

Numa época em que anda meio mundo a fazer de tudo para emagrecer, há quem desespere por falta de carnes, sobretudo à medida que a idade avança. A cirurgia estética também tem algumas soluções para estes casos.

O lipofilling consiste em fazer enxertos de gordura para preencher e assim atenuar rugas, cicatrizes, vincos, sulcos ou depressões, sejam de causa genética, resultado da passagem dos anos ou devido a doenças ou traumatismos. Pode ser utilizado em quantidades maiores ou menores, em várias zonas do corpo.

Os resultados que se obtêm

Conseguem-se, por exemplo, bons resultados em mãos muito magras e ossudas, que ficam como que rejuvenescidas através do enchimento do dorso com gordura. Esta técnica pode completar-se com implantes para dar volume a determinados pontos (como as maçãs do rosto, por exemplo). Implante de próte ses de glúteos. Trata-se de aumentar o volume das nádegas com a colocação de próteses de silicone.

Essa intervenção faz-se através de uma pequena cicatriz mediana baixa (sobre o cóccix). Tem indicações próprias e específicas, havendo vários tamanhos que se escolhem previamente em consulta. É ao especialista que compete, depois de analisar o estado de saúde e características físicas da paciente, avaliar a necessidade (ou não) de intervir em mais de uma zona e sugerir a conveniência da realização de mais do que uma operação num só acto cirúrgico.

O limite de cirurgias a executar num paciente numa intervenção única tem a ver, não com a multiplicidade de operações, mas com as doses de anestésico necessário que o organismo de cada indivíduo pode suportar. O pós-operatório de uma intervenção múltipla não deve ser significativamente dificultado pelo facto de haver mais do que uma área anatómica do corpo em recuperação.

É importante ter a certeza que as operações são realizadas por cirurgiões e anestesiologistas experientes neste tipo de intervenção, num hospital ou clínica equipado segundo os mais elevados standards de qualidade. Para o paciente, supõe-se a vantagem de o preço total ser apreciavelmente reduzido quando se faz duas ou três cirurgias de uma só vez, comparando com o que custariam se fossem realizadas em separado.

Texto: Ana Prista