Muito do que se diz ou pensa sobre cabelo está errado. E não nos referimos a preferências de corte ou coloração. A verdade é que o funcionamento do cabelo é um fenómeno complexo e que ainda intriga os investigadores. Bruno Bernard é um deles. Membro da Sociedade Europeia de Pesquisa Capilar e investigador na área capilar há mais de duas décadas no grupo L'Oréal, participou na descoberta da molécula antiqueda mais emblemática do mercado. Recentemente, esteve em Portugal para a apresentação de uma nova gama da L'Oréal Professionnel, Serioxyl, para combater a perda de densidade capilar e revelou-nos o que descobriu sobre o volume do nosso cabelo.
Em que se traduz a densidade do cabelo?
Quando falamos de densidade capilar temos de falar de cabeleira e não de cabelo, porque ela é o resultado de todos estes parâmetros em simultâneo. O aspeto geral que vemos, o número de cabelos por centímetro quadrado, o diâmetro dos fios e a forma do cabelo. A nível mundial, é interessante verificar que o número de folículos por centímetro quadrado e até mesmo a velocidade de crescimento capilar não é idêntica na Ásia e em África. Pontos comuns são o funcionamento do folículo e as necessidades em nutrientes.
O cabelo cresce e cai de forma cíclica?
Não gosto da ideia de ciclos de crescimento capilar. Penso que a noção de estado ativo ou dormente é mais rica, até porque a duração das fases pode ser diferente de um cabelo para outro. Diz-se que a fase de crescimento, anagénese, dura três anos, mas isso é apenas uma média. Analisámos os folículos durante 140 meses e constatámos que num só folículo varia imenso, desde meses até anos. A duração de cada estado é imprevisível. A média é de três meses na fase de repouso/dormência (o folículo está em repouso após ter perdido o cabelo naturalmente) mas verificámos que há umas muito curtas e outras que podem superar os 12 meses.
O que está na origem da perda de densidade?
O folículo é um órgão que está sob influência da alimentação, das alterações hormonais, do estilo de vida, da exposição solar e até, por exemplo, do uso de capacete.
De que forma é que a alimentação afeta a saúde do cabelo?
O folículo é um órgão muito dependente da nutrição. Por exemplo, a ingestão muito regular de fast food reflete-se na saúde dos cabelos. E se ingerimos alimentos ricos em cisteína (nozes, aveia e brócolos, por exemplo), isso vai refletir-se na qualidade do cabelo e das unhas. Há também um aminoácido, a arginina, cuja síntese endógena não é suficiente e é preciso obtê-lo pela dieta [nozes, amêndoas, caju, sementes de sésamo e de girassol, milho, aveia, arroz integral, laticínios, carne e chocolate].
A arginina é um percursor das moléculas chamadas poliaminas, que são essenciais para a divisão celular. Um défice de arginina afeta a poliamina e, no corpo pode não se notar mas, como o folículo piloso é o órgão no qual o ritmo de multiplicação celular é o mais elevado, vai notar-se no cabelo.
Veja na página seguinte: A perda de densidade capilar é um problema exclusivamente feminino?
A perda de densidade capilar é um problema feminino?
A mulher está mais atenta à qualidade da sua cabeleira, por isso queixa-se de forma mais espontânea. Além disso, há uma dimensão cultural e social mais importante a esse nível. No sexo masculino existe outro problema que se sobrepõe à perda de densidade global, a alopécia. Eles apercebem-se mais rapidamente de uma alopécia em fase inicial do que de uma perda de densidade. Geralmente não acontece nas mesmas idades. Nas mulheres, a diminuição do diâmetro começa a meio da década dos 30, nos homens pode ocorrer um princípio de alopécia aos 15 anos. Na mulher a queda capilar (alopécia difusa) acontece, regra geral, mais tarde, após a menopausa.
As características do cabelo podem afetar a sua densidade?
Se os cabelos são muito encarapinhados, terão tendência para quebrar mais facilmente. Raramente são cabelos muito compridos, porque têm pontos de rutura que quebram ao escovar. O cabelo oleoso não tem necessariamente uma perda de diâmetro ou de número de fios por centímetro quadrado, mas o aspeto é afetado pelo sebo.
Lavar o cabelo todos os dias é prejudicial?
Depende do tipo de champô que usa. Se for suave, não há problema. Hoje em dia, temos cada vez mais em conta o papel das leveduras e bactérias que residem na superfície da pele. Estes micróbios são aliados da pele e há uma espécie de simbiose que tem um efeito benéfico na pele e no cabelo, por isso não devem ser eliminados totalmente. Como são bactérias renovam-se muito rapidamente, mas não tenho a certeza de que seja necessário lavar o cabelo todos os dias.
É possível inverter a perda de densidade?
Sim, se encurtar a fase de dormência conseguirá aumentar a densidade capilar visível. Não vai aumentar a densidade de folículos no couro cabeludo, pois esse número está definido à nascença, mas poderá otimizar a transição entre as fases (dormente e ativa) globalmente ao nível da densidade do cabelo visível.
A perda de densidade é uma fase prévia à queda de cabelo?
Não, o que é considerado um sinal preditivo é o aumento da heterogeneidade de diâmetro capilar. Ao observar uma determinada zona, verifica-se que há cabelos mais finos, outros grossos, mas quando há mais de 20 por cento de heterogeneidade anuncia a alopécia. Isso, juntamente com o aparecimento de uma zona mais escura à volta do folículo, que indica uma microinflamação local e não é bom sinal. Na perda de densidade normal isso não se verifica.
Texto: Manuela Vasconcelos com Bruno Bernard (cientista especialista em biologia capilar)
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