Juntos há quase 20 anos, a antiga arquiteta de interiores, portuguesa, Sónia Millard e Antony Millard, hair stylist inglês, trocaram o primeiro olhar numas férias no Algarve. Dois anos mais tarde, voltaram a encontrar-se em Lisboa. O facto de morarem na mesma cidade aproximou-os e não faltaram ocasiões para estarem juntos. Entre as festas, onde Antony Millard, na altura DJ, passava música e os passeios românticos a dois, despertou a paixão...

Oito meses depois, estavam a viver juntos e até hoje nunca mais se separaram. O que os mantém unidos? «A surpresa e o romantismo. Não precisamos de ter um motivo especial para oferecer um presente e todos os dias reservamos um momento só para nós», revela Sónia Millard, hoje à frente da Tease Bakery, em Lisboa.

Como qualquer casal, ao longo de uma união da qual já nasceram dois filhos, habituaram-se a lidar com as discussões que o passar do tempo forçosamente traz. «Damos o espaço necessário um ao outro para refletir e agimos com serenidade», refere Antony Millard. «Vivemos um dia de cada vez. Não procuramos atingir a felicidade a longo prazo, mas sim todos os dias», conta a arquiteta de interiores.

Uma forma de liberdade individual?

Sónia Millard e Antony Millard são apenas um dos muitos casais de nacionalidades diferentes que residem em Portugal e um dos muitos que a Europa regista. França é o país que soma mais uniões do género.Uma realidade que um anúncio da United Colors of Benetton em tempos explorou. «O pai é preto, a mãe é amarela e eu sou castanho», afirmava uma criança.

Ana Sofia Martins e Tomás Barroso, Heidi Klum e Seal e Matthew McConaughey e Camila Alves são apenas alguns dos muitos casais de nacionalidades diferentes que ficam para a história. «Numa sociedade muito normativa, a opção de viver com uma pessoa de uma cultura diferente é uma forma de exercer a nossa liberdade individual», analisa a socióloga Gabrielle Varro. Muitos especialistas garantem, contudo, que mais do que uma escolha individual existem factores genéticos que condicionam o processo.

A influência da genética

Um estudo da Universidade da Colombia, no Colorado, nos EUA, publicado no site da National of Academy of Sciences, assegura que homens e mulheres sentem-se atraídos por pessoas geneticamente semelhantes, ainda que essas possam ser de uma nacionalidade ou de uma cultura diferente. Ainda assim, nem tudo são rosas, apesar dos muitos casos de sucesso. E Frans e Aurélie (nomes fictícios) são a prova viva disso.

Ele é finlandês e ela francesa. «Temos a mesma cor de pele e o mesmo passaporte de cidadãos europeus mas isso não impede que, no nosso íntimo, sentimos que somos diferentes um do outro», admite a designer que, no início, tinha receio da reacção da família do arquiteto. «Os finlandeses não têm a fama de ter uma grande abertura de espírito face aos estrangeiros», recorda.

Texto: Sofia Cardoso com Luis Batista Gonçalves