O processo de desenvolvimento da sexualidade começa no período de gestação. À medida que a criança vai desenvolvendo a sua linguagem e motricidade também vai aprendendo e consciencializando-se acerca do seu corpo, das suas sensações (carinho, prazer), do seu género e sexualidade. Sendo que a partir destas aprendizagens a criança vai construir a sua própria imagem, acerca do seu aspeto físico, da sua autoestima e, consequentemente, começa a aceitar-se como menino ou menina.
A sexualidade está presente desde o nascimento do ser humano, sendo uma das manifestações sexuais infantis o chuchar, que surge desde cedo no bebé e perdura até à maturidade, podendo durar a vida inteira. Este fenómeno é caracterizado por uma repetição rítmica através de um contacto de sucção com a boca e lábios, sem possuir uma finalidade nutricional. O comportamento de uma criança que chucha vai ser determinado pela procura de prazer e, portanto, esta sucção de uma parte da pele ou de uma membrana mucosa irá transmitir-lhe a satisfação que procura.
De onde vêm os bebés?
A criança vai procurar junto dos pais ou de outros adultos obter uma resposta a esta questão. Por norma irá receber respostas pouco concretas ou histórias irreais e, até poderá ser censurada pela sua curiosidade. No caso da justificação de que os bebés vêm das cegonhas, enquanto psicólogos sabemos são poucas as crianças que ficam satisfeitas com esta última explicação. Sendo que muitas vezes esta teoria é mesmo recusada levando a que as crianças comecem a desconfiar dos adultos, bem como suspeitam que estes lhes escondem ou mentem sobre “algo proibido”, aumentando assim a sua curiosidade.
Convém ressalvar que é tão importante a informação que se transmite bem como o clima afetivo e emocional que se sente nesses momentos. Se o adulto falar com a criança sobre este assunto demonstrando constrangimento, ansiedade ou vergonha, pode transmitir esses sentimentos à criança e esta poderá pensar que se trata de um assunto mau e proibido. As crianças têm que compreender que a sua curiosidade e as suas dúvidas são extremamente importantes, que merecem ser esclarecidas e que a sexualidade pode e deve ser falada e vivida da forma mais natural possível.
A sexualidade e a idade
- Entre os 3 e os 6 anos
Nesta fase, a curiosidade pelo próprio corpo e pelo do outro começa a revelar-se pelo que os pais deverão aceitar com naturalidade e sem culpabilização o surgir de “comportamentos exploratórios assumidos” pela criança. A manipulação dos genitais por prazer, que por vezes surge, não deve ser contrariada, reprimida ou censurada, cabendo aos pais contextualizar o momento e o espaço da sua ocorrência, apelando a que a criança o faça por exemplo no seu quarto (quando não partilhado) e quando está sozinha.
É nesta fase que a criança desenvolve uma relação de maior proximidade (também no seu imaginário sexual) com o progenitor do mesmo género e rivaliza com o outro pela 'posse' e atenção do pai/mãe. Esta fase culmina com a reaproximação e estruturação da criança em relação ao próprio género. É, também, uma oportunidade de o casal definir os limites e reforçar a sua relação e necessidade de intimidade, sem que isso seja sentido como uma perda pela criança.
- Dos 6 aos 10 anos
A entrada na escola traz novos desafios e curiosidades à criança, sobre aspetos anatómicos da sexualidade. Os pais deverão aproveitar esta oportunidade para discutir com a criança os limites e o direito à privacidade, essencialmente, alertando para o fato de que a nossa sexualidade deverá de ter em atenção o respeito pelo outro.
Ao fazê-lo, abordaremos, necessariamente, as questões da homossexualidade e na forma natural como vivemos e assumimos as várias preferências e orientações sexuais. A compreensão do respeito pelos limites é também crucial para a prevenção das situações de abuso sexual.
É ainda nesta fase que a criança aposta na afetividade em relacionamentos extrafamiliares, com o alargamento progressivo da sua rede social, amizades e os primeiros "namoros".
- Adolescência
A adolescência, que a Organização Mundial de Saúde considera, o período entre os 10 aos 19 anos, traz novos elementos, como as significativas transformações corporais com especial enfoque nas mudanças sexuais, a redefinição permanente da identidade do/a adolescente e a insatisfação que muitas vezes esta acarreta, a vontade de testar os limites e a descoberta do sexual (no próprio e em relação com o outro). Trata-se, portanto, de uma fase natural de distanciamento dos pais.
Surgem também questões relacionadas com a parte “mais sexual” e erótica da sexualidade e é importante que a sexualidade não seja um assunto tabu entre pais e filhos. Esta é a altura para “abordar as questões sobre a responsabilidade inerente ao início da atividade sexual, da contraceção e das infeções sexualmente transmissíveis.
Estes temas devem ser debatidos sem nunca esquecer a questão dos afetos e como deverão estar no centro de qualquer relacionamento.
6 conselhos práticos para os pais
Sentido de oportunidade para falar sobre sexualidade
Não existem momentos perfeitos para falar da sexualidade. Aliás, todos os momentos deverão ser utilizados para promover o esclarecimento das questões relacionadas com a sexualidade, sendo que poderemos aproveitar as conversas ou dúvidas que surgem a partir de um programa de televisão, rádio, um livro ou uma conversa na escola.
É um erro não falar sobre sexualidade e assumir que, se as crianças/adolescentes não perguntam, é porque não têm dúvidas; os pais e educadores deverão estar preparados para quando o tema surgir ou para introduzir este tema com as crianças.
Disponibilidade
Saber ouvir é fundamental! Sem criticar ou julgar. É importante a criança/ adolescente sentir que pode confiar no adulto e que poderá repetir este processo o número de vezes necessário.
Verdade e rigor científico
A criança/ adolescente não pode nunca se sentir enganado. Os pais podem não contar tudo de uma só vez, mas o que contarem tem de ser verdade; cabe aos pais perceber até onde devem ir e procurar adaptar a resposta ao contexto que provocou a dúvida.
Educação para as emoções
As emoções deverão estar sempre no centro de todas as conversas sobre sexualidade.
Naturalidade e tato
A descontração e o bom humor podem ser bons aliados na hora de ultrapassar os constrangimentos que os temas possam provocar. Agir com naturalidade (e brincar até!) com os temas em discussão pode facilitar a comunicação. A informalidade ajuda à empatia e isso é fundamental para que os pais consigam perceber que linguagem devem usar e “até onde devem ir”.
Amor e respeito
O ritmo de crescimento é diferente e a personalidade da criança/ adolescente também ajuda a ditar as regras. Mostrar amor é também, neste caso, mostrar respeito pela pessoa que têm à sua frente, sem querer impor a sua visão pessoal, a sua verdade.
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