Se a babysitter der o seu aval, podemos jantar das oito e meia às onze, em ponto, e num local perto de minha casa. Se for muito longe, terás que descontar o tempo de viagem e provavelmente eu sairei às dez e meia da mesa.
Não te atrases, pois é possível que eu me atrase e assim alguém segura a mesa.
Por favor, não marques em nenhum local da moda, pois as minhas olheiras não estão muito apresentáveis, e a música alta abafa-me os ouvidos, as multidões fazem-me confusão, e não tenho roupa desta nova estação. Arranja um com cadeiras confortáveis, boa comida, que não seja muito condimentada pois já não estou habituada, e que a mesa tenha espaço suficiente para pôr o meu Iphone sempre ao meu alcance.
Não leves a mal estar sempre a olhar para o visor, pois pode iluminar-se a qualquer instante, e tenho que estar atenta. Pode ser uma emergência, ou pode ser apenas para matar as saudades e dar uma vista de olhos à foto adorável que tenho no ecrã.
Faz-me a vontade e finge estares interessada nos primeiros passos desajeitados do meu filho, nas nossas noites longas, e nas habilidades novas que me conquistam ou nos cocós que faz todos os dias. Eu finjo-me interessada nas fofocas que nada me dizem, nas cusquices dos amigos de amigos, nos desamores da prima da sobrinha da vizinha, ou até mesmo na surpresa do fecho daquele bar tão nosso conhecido de que já nem me lembro o nome.
Pede o vinho, mas não o beberei. Não leves a mal mas estou cansada e quero mesmo é tentar ter uma noite bem dormida e com a cabeça leve. É que sabes, daqui a pouco chego a casa, descalço os saltos, dou um biberão, mudo a fralda que cheira mal, embalo e canto até não ter mais força na voz e no braço. Faço malabarismo para sair do quarto sem barulho, e rezo que durma a noite toda. Contento-me com 4 horas, sem interrupções, e depois, já quase com o Sol a nascer (sim, porque agora vejo mesmo o Sol a nascer e as cores do céu), vou fazer outro biberão, mudo a fralda que cheira mal, embalo e canto até não conseguir mais.
Marta Andrade Maia
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