A “idade do armário” é caracterizada por sofrimento psicológico – os adolescentes com as emoções à flor da pele vivenciam demasiado todos os sentimentos e emoções e, os pais, por vezes (ou muitas vezes) não sabem o que fazer e quando fazer.  A pergunta “quem sou eu?” inteira-se, muitas vezes, destes adolescentes que estão confusos, numa crise de identidade. Acabaram de ser crianças, ainda não são adultos… Afinal quem são eles?

Não há repostas certas ou erradas sobre a forma de educarmos os nossos filhos, contudo, talvez seja importante percebermos um bocadinho o que se passa na mente deles. Por isso, abordar o tema “autoestima” talvez seja importante nesta fase.

A autoestima é um indicador de bem-estar mental. Tem sido dada, cada vez mais, importância ao desenvolvimento da autoestima, pois os adolescentes que possuam auto-confiança e uma visão positiva acerca de si próprios têm mais capacidade de aumentar a sua eficácia e de resistirem às pressões de grupo para comportamentos de risco.

Só que é dificil um adolescente apresentar uma autoestima elevada, durante toda a sua adolescência. Em algum momento, por mais autoestima que tenha (até ao nível da personalidade), o adolescente acabará por ceder… Muitas vezes, cede às transformações hormonais, que aparecem no corpo – acne, início da menstruação, pêlos no corpo, mudança da voz. Tudo é uma nova descoberta e, por mais que gostemos de nós próprios é difícil lidar com tudo isto.

“Quem sou eu?” Aparecem novamente todas estas questões… E para continuar nesta descoberta do seu corpo, do seus psicológico; no fundo, da sua identidade, o adolescente procura no grupo de amigos o apoio para se sentir seguro. Para isso, irá criar um “passaporte” que, muitas vezes, não é aquele que os pais desejavam. Por exemplo, a forma de vestir, o penteado, etc. São atitudes para aprovação no grupo. “Se eles são assim, então eu também terei de ser.”

Mas a questão continua… “Quem sou eu?”

Se na infância os pais colocoram limites e regras, souberam dizer que não (quando assim tem de ser), valorizaram, repeitaram e amaram o seu filho, reforçando os seus comportamentos positivos, então o auto-conceito do adolescente é construído de forma positiva, sentindo-se mais seguro, confiante e, consequentemente, com uma autoestima mais elevada.

A infância é, então, uma fase muito importante e crucial no desenvolvimento da personalidade. Quanto mais assertivos os pais forem, melhor é para a criança. Isso irá, sem sombra de dúvidas, afetar toda a sua adolescência e, claro está, a vida adulta.

Na adolescência é mais frequente que as meninas tenham baixa autoestima, devido aos padrões de beleza incutidos pela sociedade; contudo, é possível elevar a autoestima. Possível e essencial, para que o sofrimento psicológico do adolescente não seja tão grande.

Com uma autoestima elevada, sentirá mais confiança em si próprio e terá mais capacidade para saber aquilo que quer e o que deve ou não fazer.

O “Quem sou eu?” é perfeitamente normal que exista. Todos os dias são uma nova descoberta interior (e também exterior) para os adolescentes. Não se preocupe, mas tenha sempre em atenção algum comportamento que não seja normal e que esteja a ser demasiado repetitivo (por exemplo, chorar muitas vezes; estar sempre triste, isolado…).

Quando assim for, procure a ajuda de um psicólogo. Por vezes, a solução é tão “fácil” e está ao nosso lado, mas nós temos tendência a não querer ver.

Até lá, elogie o seu filho todos os dias. Elogie as coisas boas que ele fez, interesse-se pelo dia a dia dele (na maior parte dos casos ele não vai querer contar nada, mas é perfeitamente normal); sorriam juntos, partilhem momentos; peça a ajuda dele (ele sentir-se-á importante); mas, acima de tudo, imponha regras e limites, com muito amor. O “quem sou eu?” dará lugar ao “Eu sou…”! Dê-lhe tempo!

Por Mafalda Leitão, Psicóloga nas Clínicas Em Forma