O meu filho Tiago é, tal como os irmãos, uma criança maravilhosa. Reguila, como faz parte da idade, mas de uma meiguice e de uma bondade desmedidas. Tem um sentido imenso de justiça e, no meio das Nerfs e das bolas que manuseia como gente grande, surpreende-me diariamente com uma maturidade que me desarma. Abraça-me muito, diz que me ama, confessa que, se pudesse, não saía um segundo de perto de mim.
Mas o Tiago vai fazer nove anos e continua a ter sérias dificuldades na leitura e na escrita, apesar do segundo ano que se encontra a repetir. E, cansada de o ver lutar contra as letras que nem sempre lhe parecem ser possíveis de conjugar, apoiei-me na sua professora – maravilhosa – que me aconselhou a levá-lo a uma consulta de despiste.
“O Tiago é uma criança normal e fantástica”, disseram-me. Mas sofre de um aparente Défice Específico de Aprendizagem. Poderá ser uma disgrafia, uma dislexia, um eventual défice de atenção. Poderá ser muita coisa que ainda iremos aprofundar. E resolver, com toda a certeza.
Mas, naquele momento, naquele singelo momento em que me confirmaram o que eu já suspeitava, só consegui apertar a mão do meu pequeno Tiago e simular um sorriso que apenas camuflava a cascata de lágrimas que insistia em inundar os meus olhos.
Não é um drama, não é um problema, não é algo que não consigamos resolver e ultrapassar como sempre fizemos em todos os momentos da nossa vida – com apoio, com partilha, com amor. Mas é uma diferença. E todos nós queremos, no fundo, que os nossos filhos sejam iguais aos demais, evitando paradigmas e preconceitos de exceção que, de algum modo, os podem magoar.
É uma caminhada totalmente nova esta que se adivinha. E acredito que iremos vencê-la com um sucesso tal que, daqui a pouco tempo, me fará olhar para esta criança com um orgulho ainda maior do que já sinto. E que nos fará crescer enquanto pessoas mas, sobretudo, enquanto família.
Até porque este meu menino que transpira carinho de todos os poros, rapidamente se apressou a fixar os seus olhos castanhos nos meus e a dizer-me, confiante:
- Isto é bom, não é, mamã? Ser diferente é ser especial!
Alda Benamor
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