Com presença em 15 cidades do país e parcerias com diversas clínicas, a CAPITI tem apoiado famílias carenciadas para que tenham acesso ao diagnóstico e tratamento de crianças com perturbações como o autismo e a hiperatividade. A associação vive de donativos privados e o leilão solidário CAPITI Art Mind permite que cada vez mais crianças recebam o apoio de que precisam.
Em entrevista ao SAPO Lifestyle, Mariana Saraiva, presidente da CAPITI, dá a conhecer o percurso e impacto desta associação que, desde 2016, tem sido um pilar para muitas famílias.
Como surgiu a associação CAPITI e que trabalho tem desenvolvido junto da comunidade?
Nascemos há 8 anos, em 2016, e o nosso grande objetivo é apoiar crianças e jovens na área da saúde mental. A instituição surgiu após um convite do Dr. Nuno Lobo Antunes, diretor clínico do PIN - 'Partners in Neuroscience' de Lisboa, uma clínica privada que percebeu que as famílias procuravam apoio para identificar os problemas dos seus filhos e que após tomarem consciência dos custos associados ao tratamento, não voltavam à consulta. Essa situação começou a preocupar a equipa técnica porque sentia que havia, de facto, muitos casos a necessitar de apoio e que não voltavam para fazer o devido seguimento. A partir daí, o que fizemos foi um projeto-piloto na zona da grande Lisboa, onde começámos por identificar cerca de 40 famílias que estavam nesta situação e na altura conseguimos dar apoio efetivo a 30 delas.
E como é feito o processo de avaliação para atribuição de apoio?
Avaliamos mediante uma candidatura que nos é feita e que é propositadamente bastante completa e exigente. Depois, é atribuído o escalão de apoio adequado, nunca apoiando a 100%. Achamos muito importante que, por muito carenciada que seja a família, ela se responsabilize por, pelo menos, 10% dos tratamentos médicos e atos clínicos.
Quando percebemos que o modelo funcionava e que os resultados estavam a aparecer, fomos crescendo de forma estruturada para o resto do país. Hoje em dia, estamos em 15 cidades do país - Porto, Coimbra, Almada, Montijo, nas zonas do Algarve, Interior Norte, entre outras. Temos parceria com 11 clínicas e continuamos com o mesmo modelo.
Os casos na CAPITI têm demonstrado que as consultas atribuídas pelo Estado ficam muito aquém das realmente necessárias.
Qual é o panorama que as famílias encontram após superada a barreira do diagnóstico?
É importante explicar que as famílias chegam já muito preocupadas e muito desgastadas com a situação que estão a viver em casa ou com a escola e, portanto, para recorrerem a uma clínica privada é porque a situação já está complicada. Em primeiro lugar, porque tentam, naturalmente, deixar passar um tempo, perceber se é uma fase, ver como corre, comparam com o irmão, etc.
Depois, as famílias carenciadas procuram apoios públicos e o que acontece é que, apesar dos apoios existirem, e não quero ser injusta em relação a isso, infelizmente, não cobrem as necessidades. Por exemplo, uma família que precisa de apoio para um filho pode ter o diagnóstico e o plano de tratamento, que demora mais que numa clínica privada, o que é natural, mas que normalmente é bem feito, mas os casos na CAPITI têm demonstrado que as consultas atribuídas pelo Estado ficam muito aquém das realmente necessárias. Por vezes, as famílias começam o processo e veem que não está a resultar ou nem chegam a começar porque não conseguem e, portanto, procuram-nos já nessa situação, muitas vezes de desespero.
Portanto, o que nós fazemos é tentar perceber este contexto, tentar ajudar na parte financeira e na alocação de uma clínica próxima da sua zona de residência. Tentamos aproximar-nos o mais possível da família e ensinar a pescar, não dar o peixe. Estes tratamentos são morosos e explicamos sempre isso às famílias. É um caminho longo e são ferramentas que se vão adquirindo. O que é certo é que as crianças quanto mais novas forem, melhor. Até aos 3 anos o cérebro de uma criança é completamente moldável e, portanto, se ajustes tiverem de ser feitos é muito mais fácil, portanto, incentivamos muito ao diagnóstico precoce.
Quando falamos de diagnósticos, é possível perceber perturbações predominantes?
Sim, temos quatro grandes perturbações. A principal é a perturbação do espectro do autismo, até porque uma das principais clínicas parceiras é o PIN, especialista em autismo, e há muitas famílias que procuram ajuda no PIN.
Uma segunda perturbação é a PHDA - Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção. Há muitos diagnósticos já feitos a crianças e jovens que chegam com este tipo de perturbação e depois, associados ou não a este tipo de problemas, temos problemas de aprendizagem como a dislexia, discalculia, etc. Outro tipo de perturbações frequentes são as de oposição e desafio, afetando o comportamento e humor.
Para esta 8.ª edição [...] convidamos artistas para doarem uma obra cujo valor da venda reverte 100% para a CAPITI [...] É uma iniciativa importante para nós que representa uma grande fatia dos recursos angariados.
No próximo dia 10 de outubro, Dia da Saúde Mental, vão realizar a 8.ª edição do leilão solidário. Como surgiu esta iniciativa?
A CAPITI vive exclusivamente de donativos, portanto, para conseguirmos ajudar as famílias e para podermos pagar a equipa de recursos humanos temos de angariar cada cêntimo.
A ideia de leilão que, inicialmente, se chamava “Dar luz a esta causa”, era exatamente para se falar da saúde mental infantil. Nos 2 primeiros anos, dávamos candeeiros brancos com abajur castanho aos artistas para eles intervencionarem. Cada um interpretava a peça à sua maneira e o resultado era de facto espetacular.
A partir daí começámos a evoluir e para esta 8.ª edição fizemos o convite aos artistas, consagrados e emergentes, para a doação de uma obra cujo valor da venda reverte 100% para a CAPITI para podermos apoiar mais crianças e jovens. Ao contrário dos outros anos, vamos ter mais obras, são 40 obras, e convidamos todas as pessoas a visitarem a exposição entre as 12h00 e as 19h00, no dia 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental, no antigo Museu da Eletricidade, agora MAAT Central.
E como vai funcionar o leilão?
O leilão vai funcionar num modelo híbrido, que, na prática, é um leilão live online. Ou seja, o leilão já foi lançado e está disponível em www.pcv.pt, o site do Palácio do Correio Velho, e qualquer pessoa pode licitar a obra que entender. No dia 10, temos a exposição e o encerramento do leilão no jantar solidário para mecenas. Convidamos empresas que ainda não conhecem a nossa causa para podermos apresentá-la e fazer o encerramento do leilão no final do jantar. É uma iniciativa importante para nós que representa uma grande fatia dos recursos angariados.
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