
Em declarações à Lusa, a professora Manuela Silva, que faz parte do projeto, adiantou que as conclusões de um ano e meio de trabalho, que vão ser apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian, na conferência "Pensar a Educação Portugal 2015", são um “desafio aos partidos” para que, em tempo de campanha eleitoral, integrem o tema nos seus programas e agendas, pedindo-lhes que “enunciem com clarezas as escolhas que pretendem fazer”.
“Estamos na altura de olhar para a realidade e identificar os principais problemas e tentar esboçar propostas que configurem um projeto educativo, com um conceito explícito e objetivos bem definidos e que seja politicamente consensualizado, de maneira a permitir esta situação de intermitência que temos vivido nos últimos anos”, defendeu Manuela Silva.
A académica, licenciada em Economia, e que já assumiu funções governativas no I Governo Constitucional (entre 1976 e 1977), no qual foi secretária de Estado do Planeamento, não afasta a ideia de que este trabalho possa ser um ponto de partida para um qualquer programa de Governo.
Educação como fator de sustentabilidade
“O grande desafio é que quem tem poder para alterar as coisas se aproveite deste conhecimento, que o critique, que o faça seu de forma a todos, em conjunto, construirmos um projeto educativo para o nosso país”, disse.
O trabalho desenvolvido pelo grupo ‘Economia e Sociedade’ - ativo 'online' no 'blog' ‘A Areia dos Dias’, dedicado ao desenvolvimento sustentável – defende a educação como fator de desenvolvimento humano com sustentabilidade, e o papel e responsabilidade do Estado na criação de um projeto educativo com qualidade e igualdade de acesso para todos os cidadãos.
No relatório que é hoje apresentado, os seus membros defendem ainda que é necessária uma valorização do corpo docente a criação de “condições básicas” para que os docentes possam exercer a sua atividade “de forma proficiente”, referindo que aspetos como a progressão na carreira têm que ser devidamente acautelados.
O grupo ‘Economia e Sociedade’ defende ainda que é “fundamental assegurar formas de gestão que respeitem a autonomia das escolas”, dando como exemplos negativos a criação nos últimos anos dos chamados “mega-agrupamentos” escolares.
“Caminha-se num sentido de agrupamentos gigantescos, que vieram introduzir fatores de perturbação, pelo gigantismo, pelo anonimato das relações. Defendemos a necessidade urgente de avaliar a criação dos agrupamentos e tirar daí as devidas ilações. Não faz sentido ter agrupamentos que obrigam docentes a prestar serviço em duas, três escolas, distantes umas das outras. O pseudo-argumento da economia nos gastos está a traduzir-se em pior educação e entropia a outros níveis de gestão”, defendeu a professora universitária.
Manuela Silva deixa ainda críticas ao projeto da chamada municipalização da Educação, que considera “um grande risco, porque o Estado não pode demitir-se da definição de um projeto educativo para todos os cidadãos”, referindo o exemplo de países como a Suécia ou o Reino Unido, onde a avaliação da aplicação dessas experiências levou os Governos a retroceder nas decisões tomadas.
O relatório admite ainda que é preciso repensar a formação inicial de professores, sobretudo ao nível da monodocência e da educação de infância e reforçar a formação contínua.
“Defendemos que se reforce a formação contínua de professores, porque hoje têm de enfrentar realidades que mudam muito rapidamente, públicos muito diferenciados e isso exige formação permanente, que deve ser assegurada pela entidade patronal, dentro dos horários de trabalho dos professores, o que presentemente não acontece”, disse Manuela Silva.
A conferência tem sessão de abertura marcada para as 09:30 e, ao longo do dia, contará com a participação do reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, e do ex-reitor dessa instituição, agora candidato à presidência da República, Sampaio da Nóvoa, entre outros.
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