A Lusa acompanhou uma hora na vida de cinco dos seis alunos que, voluntariamente, ao início da tarde de sexta-feira, prescindem da brincadeira para aprender com os cães da associação Ânimas e participam no projeto “Confia”, desta vez interagindo com o Zazu, um golden retriever de dois anos.
Na conversa, a diretora Manuela Carvalho apressa-se a mencionar tratar-se de “um projeto pioneiro na escola pública portuguesa”, explicando depois envolver “alunos do 3.º Ciclo e do secundário, sendo as idades entre os 13 e 16 anos”. Todos rapazes.
“Aqui, o lado emocional é muito mais estimulado e eles são outros. Há uma oposição completa entre o estar no dia-a-dia e quando estão a interagir com o Zazu, a Ervilha ou o Feijão”, acrescentou.
O psicólogo Júlio França completou: “trata-se de alunos que já tinham sido objeto de vários tipos de intervenções e os resultados não foram os pretendidos ao nível da motivação, assiduidade e relações entre eles. Este projeto surge como uma possibilidade de chegar a estes meninos através de um animal e isso promove muito a motivação e a adesão às tarefas, ao trabalho das competências socioemocionais e do conjunto de regras”.
Testemunhando que a adesão deles ao projeto “foi imediata e em termos de assiduidade muito boa”, revelou viverem atualmente outro problema, o de “haver mais alunos a querer participar”, uma vontade impraticável porque as interações com os cães “só funcionam num grupo reduzido”, disse.
Catarina Cascais é, semanalmente, quem surge às 14:00 com o cão e explicou à Lusa que o projeto pretende “trabalhar competências sociais e escolares (…) através da alteração do padrão do comportamento”.
“São alunos que entre eles não têm nenhuma ligação sem ser a que se começou a construir aqui no projeto. Aquilo que pretendemos trabalhar é uma série de benefícios ao nível da ansiedade social”, acrescentou, antes de assinalar que o facto de os cães não “julgarem” cria “um ambiente livre de julgamentos onde eles [os alunos] são capazes de trabalhar o respeito mútuo, o respeito próprio e, através da interação com o cão, trabalhar a autoestima, a metodologia, a paciência e a resistência à frustração”.
A tutora do animal sublinhou ainda que tratando-se de jovens com problemas comportamentais “a interação com o cão permite que eles baixem as suas defesas”.
“Todos eles apresentam alguns problemas comportamentais e, habitualmente, têm padrões de comportamento desajustados (…) do género faltar às aulas, disciplinares, agressões, muita falta de motivação e nós pretendemos contrariar um bocadinho isso trazendo para a escola uma atividade que seja mais lúdica, no ponto de vista deles, e depois ensinar-lhes padrões de comportamento adaptativos”, prosseguiu a voluntária da Ânimas.
Cinco meses decorridos, disse, em termos de resultados, o que tem sido reportado “é que a motivação para a escola já está a aumentar, há melhoria nas notas e uma diminuição da agressividade entre eles”, revelou Catarina Cascais.
Mais disponível para interagir com o cão do que com vontade para falar à Lusa, Filipe, de 14 anos, aluno do 8.º ano, revelou ter aprendido “a ter paciência, a ter calma, a saber esperar e a ter amor ao próximo”, enquanto ao lado, Martim, de 13 anos, aluno do 7.º ano, disse que “aprendeu a ficar calmo, a não se chatear e a não gritar nas aulas”, confessando, contudo, que isso “só acontece nos dias em que está com o Zazu”.
“Dava-me jeito ter mais vezes o Zazu na escola”, confessou antes de todos se deitarem todos no solo num abraço ao cão que fez deles um grupo com muita vontade de mudar.
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