A maioria dos refeitórios das escolas espanholas são servidos por empresas de catering, mas os pais querem acabar com esta realidade. Como? Pedindo que os estabelecimentos de ensino recuperem o conceito de cozinha escolar.

Em 2016, em Valderrobles, comunidade autónoma de Aragão, um grupo de pais da escola Vicente Ferrer encetou uma batalha para ter de volta a cozinha. E conseguiu. “Queríamos mais comida de qualidade”, afirmou Javier Ciprés, pai de um aluno do secundário, citado pelo El Pais.

Naquela região de Espanha, a restauração está em declínio. O governo autónomo vai construir cozinhas em nove escolas até ao fim deste ano. “Com esta medida estamos a responder a um crescendo de pedidos de pais”, explicou uma fonte do Departamento de Educação ao El Pais. Para os especialistas, ter cozinhas nas escolas é essencial, mas “não surgem por razões econômicas”, como sublinha Santiago Atrio, arquiteto e professor especializado em educação da Universidade Autónoma de Madrid.

No entanto, 60% das escolas públicas de nove comunidades autónomas não cozinham, segundo um relatório elaborado este ano pela ONG Del Campo Al Cole, feito em conjunto com a Confederação Espanhola de Pais de Estudantes (Ceapa). O relatório informa que a restauração não é a melhor opção para os quase dois milhões de menores espanhóis que comem na escola. O mesmo documento revela que quatro empresas partilham 70% das cantinas, um modelo criticado por Victoria Lea, porta-voz da Ceapa, para quem esta opção “não permite a participação das famílias e das escolas na elaboração das ementas”.

Refira-se que as empresas de catering trabalham com refeições quentes e frias passíveis de transportar e preservar. A empresa de restauração Serunion garante que, por norma, a comida é consumida numa semana, mas tem validade assegurada até 20 dias sem que isso afete a sua qualidade.

A mesma opinião é corroborada por Rosaura Leis, secretária do Comité de Nutrição da Associação Espanhola de Pediatria. “Uma vez que se respeitem todos os procedimentos, não há qualquer problema”, defende a responsável, advertindo que o essencial é que as crianças sigam uma dieta equilibrada. A Ceapa, porém, continua a falar em falta de transparência, argumentando que “nenhuma empresa revelou a composição dos menus escolares.”

Em Espanha, os regulamentos exigem que as ementas sejam feitas por um nutricionista contratado pelas empresas de catering; algo que para o deputado do Podemos na Assembleia de Madrid, Miguel Ardanuy, é uma armadilha: “O profissional não é neutro”, diz o político.

Em 2012, o professor da Universidade de Barcelona (UB) Jesús Contreras dirigiu um estudo sobre alimentação e analisou a composição de 50 cardápios escolares. O seu relatório já alertava para as diferenças entre o que foi programado e o que as crianças acabaram por comer, defendendo que os menus podem perder as qualidades no transporte.

A Del Campo Al Cola defende que o catering tem uma forte influência no apetite dos alunos e lembra que as empresas não podem usar alguns métodos de confeção, porque isso acelera a deterioração da comida, o que torna os pratos menos saborosos e mais artificiais.

Para saber mais:
https://elpais.com/sociedad/2018/09/21/actualidad/1537524041_150402.html