Cerca de meia centena de pais de crianças e jovens com necessidades educativas especiais manifestaram-se hoje em frente à Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGESTE) do Centro, em Coimbra, contra a falta de apoio.
"Que Governo é este que ajuda a banca e corta no apoio às crianças com deficiência", questionava uma das muitas faixas que o grupo de pais, do distrito de Aveiro, segurava à frente do edifício, durante a manhã de hoje.
Ao lado da entrada da secção da Região Centro da DGESTE, o grupo de pais colocou uma mesa, com "bolas de cristal" e uma manequim vestida de bruxa, mas "que é uma investigadora" que "desenvolveu uma nova escala de avaliação" - "Mota and Passos Intelligence Scale for Children and Adults [analogia a uma escala de avaliação de inteligência]", ironizou Rosa Maria Menezes, da Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades Educativas Especiais (APACJNAE).
O processo de avaliações das necessidades das crianças, desenvolvido através de um protocolo entre o ministério da Educação e o da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, é "confuso", considerou a membro da APACJNAE, salientando que o protocolo celebrado foi "criado para cortar nos apoios às crianças".
A representante da APACJNAE frisou que "há cerca de 13.000 crianças em Portugal" sem subsídio e que não há "sequer uma resposta aos processos".
"As famílias, em que a maioria dos pais está desempregada, têm grandes dificuldades em gerir o orçamento e não conseguem pagar a terapia", contou Rosa Maria Menezes.
É o caso de Vera Domingos, de 27 anos, mãe solteira e desempregada, que não consegue garantir a terapia de fala ao seu filho de cinco anos.
Ana Sá, de Ovar, conta que também o seu irmão de seis anos deixou de "ter terapia de fala e psicologia" devido "aos cortes no princípio deste ano".
"Notou-se logo no desenvolvimento dele. Está no 1.º ano e vai lá continuar. E nem há subsídio nem uma resposta. Isto é inadmissível", protestou, sentindo-se "impotente" perante a situação.
Os 485 euros com que Manuel Costa, de Esmoriz, tem de sustentar a sua família "não chegam" para pagar a terapia do seu filho de cinco anos, que "custa 280 euros por mês", tendo perdido o apoio este ano.
"Pagamos renda, água, luz e gás e ainda querem que a gente pague a terapia? Isto é uma roubalheira", criticou Manuel Costa, visivelmente revoltado com a situação.
Elisabete Savedra, que tem uma filha de 10 anos com autismo, disse à agência Lusa que o apoio "nunca lhe tinha sido negado até agora".
Apesar disso, os pais "tiveram que lutar desde sempre. Agora, parece que por mais que se reclame e se lute as portas ficam fechadas e não há respostas".
Rosa Maria Menezes foi recebida pela direção da DGESTE da Região Centro, explicando à agência Lusa que este órgão admitiu "que o processo não está a correr muito bem".
Por SAPO Saúde com Lusa
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