A seguir ao português, o espanhol é a segunda língua mais falada no Agrupamento de Escolas de Vagos, muito por causa da mais de uma centena de alunos que é natural da Venezuela.
Fátima Garcia e Nascella Cervetti são duas dessas adolescentes que têm em comum a língua, o país de nascimento e, agora, também os corredores da escola.
“Vim da Venezuela há uns sete anos e no início foi muito difícil. Era a única estrangeira na escola, com a barreira da língua, o que me obrigou a aprender mais depressa o português”, recordou Fátima Garcia.
Quando Nascella Cervetti chegou a Vagos, há cerca de três anos, já não precisou de aprender português com a mesma celeridade.
“Nos corredores falamos espanhol entre nós. A maior parte dos meus amigos são venezuelanos, o que não ajuda muito, porque não me obriga tanto a falar português”, gracejou.
Os alunos venezuelanos, que já são mais de 100, representam pouco menos de um terço dos quase 350 estrangeiros, que frequentam o agrupamento de escolas deste concelho do distrito de Aveiro.
Ao todo, convivem jovens de 27 nacionalidades, que acabam por conviver todos uns com os outros.
“É como se conhecêssemos outras culturas sem sair do país”, destacou Fátima Garcia, que aos 15 anos abraçou o projeto mentor linguístico, uma figura criada na escola para ajudar os estrangeiros recém-chegados.
Foi assim que conheceu Karina Chernikova, que chegou à escola há pouco mais de dois meses e, apesar do curto tempo de integração, já fala um português desenvolto, que lhe tem permitido “fazer amigos” e até jogar na equipa de basquetebol da Associação Desportiva de Vagos.
“Estamos a aprender russo com a Karina. Já sabemos dizer algumas palavras”, assegurou a jovem de 16 anos, Nascella Cervetti.
A par da comunidade venezuelana, também a comunidade brasileira tem vindo a crescer nas escolas de Vagos, representando uma significativa fatia dos quase 200 novos alunos que o Agrupamento de Escolas de Vagos registou este ano letivo, comparativamente com o ano transato.
“Pode parecer que a adaptação é muito fácil por causa da língua, mas o português do Brasil tem termos diferentes. Aqui até usam termos, como rapariga, por exemplo, que no Brasil tem conotação pejorativa”, contou Aymé Santos, que frequenta o 12.ºano.
Em Portugal há cerca de meio ano, a jovem de 17 anos considera-se completamente integrada, apesar de encontrar “grandes diferenças em termos de estudos”, mas também em relação à comida.
“A comida portuguesa é gostosa, mas prefiro a brasileira”, alegou.
Também Morena Alvarez, natural da Argentina, ainda não conseguiu apreciar a comida portuguesa, que diz ser pouco condimentada.
Nos cerca de oito meses que leva em Vagos, a língua continua a ser a maior dificuldade, que procura esbater com a ajuda dos novos amigos.
Já para Diego Nóbrega não existem “barreiras”, dominando completamente a língua do país onde espera concretizar o sonho de se tornar “um grande futebolista”, embora confesse que, um dia, gostaria de regressar à Venezuela.
Até lá, vai ‘matando’ saudades das “arepas e das frescolitas” sempre que pode, enquanto continua a praticar o espanhol nos corredores da escola ou no grupo de ‘WhatsApp’, onde conversa com perto de uma dezena de amigos venezuelanos.
O Agrupamento de Escolas de Vagos, no distrito de Aveiro, tem 342 alunos estrangeiros, de 27 nacionalidades, num total de 2.320 alunos.
De acordo com o diretor do Agrupamento de Escolas de Vagos, Hugo Martinho, o ano letivo de 2022/2023 registou um crescimento de cerca de 200 alunos, quase todos de nacionalidade estrangeira.
“As comunidades venezuelana e brasileira são as mais presentes nos últimos anos e, agora, chega-nos uma nova realidade, com a vinda de franceses e argentinos. É um grande desafio trabalhar para a integração destes alunos que estão distribuídos pelas diferentes turmas”, admitiu.
À agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Vagos, Silvério Regalado, congratulou-se com a procura que o seu concelho está a ter por parte destas famílias.
“São famílias que vêm de fora e se fixam, porque temos qualidade de vida, emprego e os alunos têm boas condições nas nossas escolas. Somos um concelho que sabe acolher, com capacidade de integração e que dá as mesmas condições a todos: são as suas diferenças que enriquecem culturalmente uma sociedade”, concluiu.
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