É o sonho de qualquer jovem adolescente e parece fazer todo o sentido para a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore, perita em ciência cognitivas e autora de vários livros sobre o cérebro infantil e juvenil. A especialista, presença habitual nas TED Talks, sugeriu que os exames escolares deveriam ser descartados porque ocorrem “na pior fase possível” do desenvolvimento.

“Obviamente que são uma má solução, pois acontecem numa altura em que muitos jovens estão a lutar com grandes alterações físicas e emocionais”, declarou Blakemore ao Daily Mail, explicando que “aos 16 anos eles estão sujeitos a mudanças sísmicas no cérebro, isto enquanto realizam provas extremamente exigentes e stressantes, o que pode deixar muitos deles vulneráveis a problemas de saúde mental”.

E acrescentou: “Até pode parecer que o jovem fala, veste-se e age como um adulto, mas sabemos que o córtex pré-frontal é a última parte do cérebro a desenvolver-se completamente e que passa por alterações significativas até aos 20 anos.

Essa zona do cérebro é o principal comando emocional”, explica a neurocientista, revelando que “aí está sediado o controlo dos impulsos, a capacidade de antever e julgar consequências, a possibilidade de agir de forma apropriada e a de travar gestos desadequados e a ferramenta que controla reações a pessoas e a eventos”.

O facto de o “edifício” estar ainda em construção serve para explicar muita coisa. “Um adolescente pode até perceber que fazer isto ou aquilo é perigoso, ou errado, mas falta-lhe o hardware para trabalhar esses pensamentos da forma que o adulto os trabalha”, defende a cientista. E lembra que é por isso que os jovens são particularmente bons recrutas militares: a capacidade de avaliar riscos ainda não está amadurecida. Da mesma maneira, muitos jovens desistem de carreiras militares aos 20 anos quando a parte do cérebro que avalia o risco de perigo fica completamente formada.

Sarah-Jayne defende ainda que a compreensão da evolução do cérebro juvenil é determinante para manter certas regras, nomeadamente no que toca à autorização para conduzir, beber ou votar.

E fala de outros ‘dossiers’ delicados: “Enquanto, na maioria dos casos, um adulto que vê pornografia é capaz de entender que aquilo não é um modelo a seguir, o adolescente pode acreditar que sim e acabar por deformar a sua ideia de sexo em função disso”. O impacto dos videojogos violentos e o uso desregrados das redes sociais – por vezes com a publicação de mensagens ou imagens completamente desapropriadas – assentam na mesma questão: a imaturidade do cérebro.

Três quartos das doenças mentais, como a depressão, ansiedade, distúrbios alimentares ou esquizofrenia, surgem antes dos 24 anos, período de grande vulnerabilidade. Os especialistas usam o termo “tempestade perfeita” para falar da explosão de mudanças que varre a vida dos jovens nesta altura:  mudanças hormonais, neurológicas, sociais, pressões exteriores (as alterações que se vão operar no cérebro indicam precisamente que o jovem é particularmente suscetível ao stress do exterior).

Com a pressão dos exames, esse caldo torna-se ainda mais perigoso, diz Sarah-Jayne Blakemore, rematando: “A mente e capacidade cognitiva do adolescente desenvolvem-se para que ele possa refletir sobre a vida, o futuro e o seu lugar na sociedade de uma maneira mais sofisticada”.