“O aumento dos preços dos bens está já a ter um impacto nos orçamentos das famílias, nomeadamente das que têm taxas de esforço elevadas ou rendimentos muito reduzidos e que, portanto, estão a pedir ajuda no sentido de saberem o que podem fazer para diminuírem os gastos”, afirmou à Lusa a coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da associação de defesa do consumidor Deco.
Por outro lado, alerta a coordenadora, as famílias que pediram ajuda nos primeiros três meses deste ano “estão também preocupadas e a antever” uma possível subida da taxa de juro, nomeadamente do crédito à habitação, atuando assim de forma a prevenir quaisquer incumprimentos de créditos contratados.
Os dados da Deco revelam ainda que, este ano, 56% dos pedidos foram de famílias que pediram informação e aconselhamento para reestruturação financeira e dos créditos, pedidos que Natália Nunes diz refletirem já “o medo” decorrente do aumento de preços dos bens essenciais, nomeadamente decorrente da guerra na Ucrânia, e que exigem maior atenção aos gastos habituais.
“As famílias têm de ser mais responsáveis na forma como gerem o seu dinheiro. Têm de fazer o orçamento familiar e envolver todos os elementos da família nessa tarefa, têm de ponderar se todas as despesas são mesmo essenciais ou se algumas podem ser eliminadas, têm de ser mais ativos nas comparações de preços e têm de negociar baixas de gastos”, defendeu.
A coordenadora lembrou ser “essencial” todos os consumidores terem conhecimento sobre qual é a sua taxa de esforço, que é a percentagem do rendimento total do agregado familiar destinada ao pagamento das prestações de créditos contraídos.
“Se o somatório das prestações concretas, neste momento, ultrapassar os 35% e se há nomeadamente um crédito à habitação com taxa variável, o passo seguinte deve ser ir junto ao banco para informar dessa situação financeira e da eventual dificuldade em pagar a prestação do crédito”, defendeu, lembrando que o banco está legalmente obrigado a acompanhar o bom cumprimento do crédito e a encontrar soluções para evitar o incumprimento dos clientes.
No ano passado, os dados mostram que a Deco apoiou 2.744 famílias, número semelhante ao registado em 2020 e 2019, o que a associação diz ser justificado, em grande parte, com as moratórias e as medidas introduzidas para mitigar o efeito do fim desse adiamento do prazo do vencimento da dívida.
A associação explica que em 2021 foram “muitas” as situações em que não foi necessário a associação abrir processo, conseguindo encaminhar as famílias que, pelos próprios meios, acabaram por conseguir resolver a situação.
Em 2021, a associação recebeu 30 mil pedidos de famílias sobreendividades, prestando-lhes informação e aconselhamento financeiro, quando em 2020 tinha recebido 30.100 pedidos e 29.154 em 2019.
Destas 30 mil famílias que contactaram a Deco em 2021, 52% foram pedidos de aconselhamento sobre reestruturação financeira, sendo que 29% desses consumidores identificaram o desemprego como principal causa das dificuldades financeiras.
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