Em entrevista telefónica à agência Lusa, Alexandre Henriques, autor do estudo/inquérito intitulado 'Indisciplina na Família', que analisou um universo de mais de 2.500 encarregados de educação e vai ser hoje divulgado, revela que 95% dos encarregados de educação em Portugal Continental e Ilhas “ajuda o seu educando em tarefas escolares”, designadamente nos tradicionais TPC ou no estudo para os testes de avaliação.
Os dados recolhidos por inquérito ‘online’ em maio último mostram que 24% dos encarregados de educação ajudam “sempre” os estudantes nas tarefas escolares, 31% ajudam “muitas vezes” e 40% ajudam “algumas vezes”. Note-se que o perfil destes encarregados de educação são pessoas com habilitações literárias superiores (79%).
O pico da ajuda aos estudantes situa-se no 1º Ciclo (100%), mantém-se entre os 96,9% e os 98,6% entre o pré-escolar e o 3º Ciclo e só baixa no Secundário (88%).
Os dados “mostram uma forte participação dos encarregados de educação na realização das tarefas escolares”, assume o professor Alexandre Henriques, autor do estudo e responsável pelo blogue ComRegras, referindo que essa ajuda pode levar a uma “fraca autonomia dos alunos em realizar tarefas escolares”.
O apoio escolar em casa mostra, por outro lado, um “interesse” dos encarregados de educação pela vida escolar do seu educando.
Contudo, José Morgado, doutorado em Estudos da Criança e professor no Departamento de Psicologia da Educação do ISPA - Instituto Universitário, adiantou à Lusa que estar sempre junto das crianças na altura de fazer os TPC é “fomentar a pouca autonomia”, porque dessa forma o educando não está a aprender, “está a ver fazer”.
“Os pais não podem ser professores ou comprar o trabalho de professor a um explicador” e também “não devem cobrar notas, mas sim cobrar esforço no estudo”, alertou José Morgado, reiterando a ideia de que os pais super pressionantes ou hiper possessivos são “pais que asfixiam os miúdos”.
O especialista defende que a grande ajuda parental na vida escolar dos filhos passa, por exemplo, por ensinar a organizar o estudo, olhando para o horário do dia seguinte, perguntar pelas dificuldades nas disciplinas, verificar a mochila, cadernos e estojo e ver se não está tudo ao monte. "Se notar algum problema, falar com o (a) diretor(a) de turma", sugere o psicólogo José Morgado.
“O que gostas mais na escola”, “o que aprendeste”, “o que achas mais difícil” são algumas questões que os encarregados de educação podem colocar aos estudantes para demonstrar interesse, mas sem os asfixiar, considera.
“Devemos cobrar esforço no estudo, não devemos cobrar notas”, aconselha ainda José Morgado, explicando que se devem dar tempos para estudar, verificando depois se existiram dificuldades no estudo.
Nas questões de aproveitamento escolar versus estrutura familiar, o inquérito conclui que os encarregados de educação que são casados ou vivem em união de facto consideram que os seus educandos se portam melhor na escola do que em casa do que os educandos cujos pais são divorciados, solteiros ou viúvos.
Os educandos que vivem com encarregados de educação casados ou em união de facto revelam gostar mais da escola que os educandos de pais divorciados, solteiros ou viúvos.
“O mesmo acontece, embora de forma mais ligeira, nos alunos que nunca ficaram retidos. De salientar que o gosto pela escola baixa significativamente nos educandos que já ficaram retidos pelo menos uma vez, provando, mais uma vez, que a motivação e o insucesso estão fortemente ligados".
O perfil da maioria dos encarregados de educação inquiridos para o estudo Indisciplina na Família possui habilitação superior (79%), é casado (73,9%), habita num grande centro populacional e tem educandos com rendimento escolar.
Responderam ao inquérito Indisciplina na Família encarregados de educação do Porto (22,6%), Lisboa (15,1%), Aveiro (10,4%), Setúbal (9,6%), Braga (9,1%), Viseu (5,8%), Leiria (5,5%), Coimbra (3,4%), Faro, (3,3%), Viana do Castelo (2,4%), Santarém (2,2%), Madeira (2,2%), Vila Real (1,5%), Açores (1,3%), entre outros distritos, mas em número residual.
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