Uma investigadora da Universidade de Lisboa revelou hoje que muitas escolas estão a tentar ajustar a legislação sobre refeições às dificuldades económicas, para ter em conta as preferências das crianças, a necessidade de uma alimentação saudável e a redução do desperdício.

 

Trata-se, segundo a especialista, de seguir as regras definidas para a escolha de alimentos e menus nas cantinas das escolas, muitas vindas da União Europeia, mas adaptando às condições económicas e optando por refeições que os mais novos não recusem e contenham todos os elementos necessários ao seu desenvolvimento, incluindo os vegetais, evitando o desperdício.

 

"Ao logo do processo, os reajustamentos são contínuos", disse hoje à agência Lusa a investigadora Mónica Truninger, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

 

"Ou as pessoas tentam ajustar aqueles regulamentos às suas práticas ou as crianças deixam de comer determinadas coisas porque não gostam dos legumes e notam que há cada vez mais vegetais nos pratos e rejeitam", disse a investigadora.

 

Assim, o objetivo é "tentar ver como posso obedecer aos regulamentos, mas, de alguma forma não ter desperdício. Esta é uma tensão diária entre as pessoas que estão na cantina", para alimentar as crianças de forma mais saudável, encontrando forma de comerem mais fruta e legumes, frisou.

 

A cientista falava a propósito da conferência "Alimentação, crianças e jovens - o que estão a comer?", que se realiza sexta-feira e sábado, em Lisboa, e conta com a participação de alguns especialistas internacionais para trocar ideias acerca da forma como estão a evoluir as refeições dos mais novos nas escolas.

 

As práticas alimentares de crianças e jovens são entendidas cada vez mais como sendo problemáticas refletindo preocupações com o excesso de peso e obesidade em vários países. No entanto, além de problemas de excessos alimentares, as questões da escassez estão cada vez mais presentes.

 

O aumento dos preços da energia e dos alimentos e as medidas de austeridade em alguns países, como Portugal, estão já a ter impactos fortes na saúde, na segurança alimentar e no bem-estar de muito jovens, segundo a organização da conferência.

 

Mónica Truninger salientou que são procurados "modos de flexibilizar" os processos, tendo em conta que a escola pode alterar hábitos alimentares, mas tem de contar com a ajuda de outros intervenientes, como os pais, para que, por exemplo, as crianças não deixem de comer vegetais e todo o processo seja sustentável.

 

"As pessoas que estão a trabalhar, tanto os professores, como os funcionários das cantinas, sentem isso na pele e adotam estratégias", como triturar as sopas, para que os mais novos não recusem comer por encontrarem os bocados inteiros de legumes, referiu.

 

Outra maneira é tentar aproximar as crianças à origem dos legumes, o que algumas escolas conseguem através da instalação de hortas.

 

"Numa altura de austeridade, em que estamos a pensar sempre na poupança, a imagem do desperdício ainda está mais forte na cabeça destas pessoas", acrescentou Mónica Truninger.

 

Lusa