O desafio foi lançado por Patrícia Oliveira, assistente social no agrupamento, assim que se deparou com o número de alunos de 20 nacionalidades diferentes. A sugestão foi prontamente aceite pelo diretor Jorge Edgar Brites.

“Quando entrei o agrupamento percebi que, dos 2.150 alunos, 500 eram imigrantes. Pensei o que é que poderíamos fazer para os acolher melhor. Poderia ser um guia, um manual ou um folheto. A ideia era ser ilustrado pelos alunos”, afirmou Patrícia Oliveira.

O ‘kit’ foi desenvolvido em quatro línguas: português, inglês, francês e ucraniano. Os alunos do 3.º ano da licenciatura de Terapia da Fala da Escola Superior de Saúde de Leiria incluíram signos de comunicação aumentativa e alternativa, e o livro foi traduzido em ‘braille’ pelo Centro de Recursos para a Inclusão Digital.

Trata-se de um pequeno livro, ilustrado pelos atuais alunos do 4.º ano da Escola Básica da Gândara dos Olivais (na altura estavam no 2.º ano), que conta a história de um menino ucraniano e de todos os seus passos num mundo desconhecido para ele.

Ao longo da história, de uma maneira simples e engraçada, o menino fica a saber como e onde pode apanhar o autocarro, almoçar, obter informações e os serviços que tem disponíveis para ajudar a sua integração.

O ‘kit’ começou a ser desenvolvido há cerca de dois anos, ainda antes da guerra na Ucrânia. A coincidência de ser um menino ucraniano “agora ainda faz mais sentido, infelizmente”, disse Patrícia Oliveira, ao destacar que o livro é todo ele inclusivo, apresentando ainda a história em comunicação acessível, para que possa ser lido por todos os alunos.

O pequeno livro será distribuído a todos os novos alunos estrangeiros, a quem será também entregue um “mimo”.

“É uma forma de os ajudar, explicar-lhes o dia-a-dia da nossa escola e poderá funcionar como boa prática para outras escolas no país”, explicou a assistente social.

Este projeto poderá vir a ser partilhado com outros agrupamentos, que poderão adaptar o ‘kit’ aos seus contextos. O próximo passo é elaborar uma segunda versão, com mais línguas, admitiu a mentora.

A ex-secretária de Estado para a Integração e as Migrações e coordenadora executiva do Observatório da Emigração (Oem), Cláudia Pereira, convidada para a apresentação pública do ‘kit’, que decorreu na semana passada, apontou que este livro “é um pequeno passo que vai mudar a vida de muitas pessoas”.

“Proporciona a integração, através de uma linguagem não verbal dos desenhos”, acrescentou Cláudia Pereira, destacando o trabalho em rede e o “trabalho de proximidade” que irá “ajudar a ultrapassar obstáculos”.

No Agrupamento de Escolas de Marrazes existem alunos de 20 nacionalidades, sendo a maioria brasileiros, marroquinos e ucranianos, referiu Jorge Edgar Brites.

Dos 2.206 estudantes atuais, um quarto tem pais estrangeiros, sendo que em algumas casas não se fala o português, um desafio para toda a comunidade escolar, acrescentou o diretor.