Por Vilar Formoso, a principal fronteira terrestre do país, situada no concelho de Almeida, Guarda, começaram hoje a entrar em maior número muitos portugueses residentes no estrangeiro que vêm passar férias ao país de origem, junto de familiares e amigos.
Entre eles, vários emigrantes abordados pela agência Lusa não esconderam os receios da deslocação, mas referiram que tudo vão fazer para evitar possíveis contactos.
“Este ano, com a covid-19, as férias são diferentes. Toda a gente está a usar máscara, mas não sabemos como vai ser. Tenho algum receio, mas vamos tentar fazer umas férias normais, gozar da praia e aproveitar para estar com a família, mas sempre com cuidados”, disse Alexandre Santos, de 30 anos, que viajava do Luxemburgo para Peniche, no distrito de Leiria.
Nas próximas três semanas, Alexandre, acompanhado pela mulher e duas filhas, vai procurar fazer férias “com alguma tranquilidade”, embora esteja em “constante preocupação” porque a mulher é enfermeira e pode ser chamada em caso de necessidade.
“Eu já tinha decidido vir de férias. Até tinha bilhete de avião, mas optei por viajar com um colega para lhe fazer companhia”, contou, por seu turno, José Soares, 57 anos, emigrante no Luxemburgo.
Natural de Aveiro, onde vai passar três semanas de férias, José sublinhou que este ano “é diferente” e que “todos os cuidados são poucos, porque o perigo é iminente”.
“Só decidi vir de férias no sábado. Estava indeciso. Tenho cá a família e tinha saudades. Nunca se sabe se vou ter dificuldades em regressar”, disse José Henrique, de 57 anos, da Figueira da Foz, que viajava com José Soares.
À chegada a Vilar Formoso, muitos automobilistas ainda assinalam a entrada em território nacional com a buzina do automóvel, mas a nova moda são as ‘selfies’ tiradas em família junto das placas “Portugal” e “Vilar Formoso”.
Foi o caso de Cláudio Oliveira, de 37 anos, emigrante no Luxemburgo, que viajou para Portugal com a esposa, um filho e mais duas familiares.
“Finalmente em Portugal”, ouviu-se, quando a viatura parou.
À Lusa, Cláudio, que cobria a boca com uma gola de pano em vez da habitual máscara, disse que a família vai passar férias na Figueira da Foz, com “muitos cuidados” por causa da pandemia.
“O nosso receio é que aconteça alguma coisa e que não tenhamos cá o mesmo atendimento que temos no Luxemburgo. Vamos fazer férias com cuidados acrescidos e cumprir as normas de segurança. Este ano não vou sair tanto como nos anos anteriores. Vão ser umas férias em família”, indicou.
Enquanto compunha a gola de pano que lhe cobria a boca e o nariz, o emigrante comentava que tenciona “ficar em casa e ir à praia” e ter o mínimo de contactos, para regressar seguro ao Luxemburgo, onde toda a família fez testes à covid-19 antes de viajar.
Já Hélio José, de 38 anos, que reside em França e viajava sozinho para Leiria, para passar um período de três semanas de férias, disse que decidiu deslocar-se à terra porque “não há quarentena” em nenhum dos dois países.
“Este ano sei que não vou fazer o mesmo que fazia em anos normais. Este ano não há festas e vou evitar os contactos. Costumava fazer umas almoçaradas e beber uns copos com os amigos, mas este ano não faço nada disso”, referiu.
Leonel Figueiredo, de 43 anos, da Covilhã, é acordeonista. Quando abordado pela Lusa, questionou: “Nunca ouviu falar no Leonel dos bailes?”. A pandemia impediu-o de fazer espetáculos em França e também em Portugal.
O artista, que complementa a atividade com a construção civil, queixou-se de que a pandemia “acabou com a música”.
“Se a coisa correr bem, no dia 31 de outubro tenho um espetáculo na zona de Chambery [França] com o José Malhoa. Nas férias, em Portugal, tinha 15 datas marcadas e foi tudo pelo ar”, queixou-se o emigrante, que prometeu fazer férias alargadas até setembro, aproveitando a estadia para fazer a vindima familiar.
Devido ao “bicho”, também comenta que as férias vão ser diferentes: “Juntamo-nos em família, comemos e bebemos. Não podemos entrar em grandes aventuras. Devemos ter respeito uns pelos outros, cumprir os conselhos das autoridades e esperar por melhores dias”.
Na fronteira de Vilar Formoso espera-se um fim de semana de algum movimento em relação à entrada de viaturas de matrícula estrangeira. Embora as previsões apontem para uma redução face a anos anteriores, são já muitos os veículos que entram em Portugal e alguns completamente lotados.
“Há muito movimento na estrada. É um bocadinho menos do que nos anos anteriores. Mas, ainda se vê muita gente nas áreas de serviço e muitos carros com matrículas da Suíça, da França e do Luxemburgo”, relatou Hélio José, oriundo da França.
Numa contagem feita pela Lusa em Vilar Formoso, por volta das 11:00, em cerca de cinco minutos entraram em Portugal perto de 40 veículos estrangeiros.
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