A atividade continuada do grupo radical islâmico Boko Haram e de outros grupos insurgentes no norte da Nigéria, sem uma resposta adequada das autoridades nigerianas em quase uma década “provocou o encerramento de centenas de escolas, com consequências desastrosas para a juventude, numa região onde a insegurança já é extrema”, acusa a organização num comunicado datado de hoje, quando se assinalam sete anos em que 279 raparigas foram raptadas de uma escola em Chibok, no sul do estado de Borno, noroeste do país.

A maioria das raparigas raptadas pelo Boko Haram escapou ou foram libertadas mais tarde, mas mais de 100 permanecem em cativeiro. Tem havido mais raptos em larga escala de crianças em idade escolar na Nigéria, onde centenas de crianças foram mortas, violadas, forçadas a “casamentos” ou obrigadas a juntar-se ao grupo armado.

“As autoridades nigerianas não conseguiram proteger os estudantes face aos recentes ataques às escolas, demonstrando claramente que nada aprenderam com a tragédia em Chibok”, denuncia Osai Ojigho, diretora da Amnistia Internacional (AI) da Nigéria, citada no comunicado.

Segundo a ativista, “a única resposta das autoridades para proteger a população escolar, ameaçada por insurgentes e pistoleiros, é fechar escolas, colocando o direito à educação cada vez mais em risco”.

“Entre dezembro de 2020 e março de 2021, houve relatos de pelo menos cinco casos de raptos no norte da Nigéria. A ameaça de novos ataques levou ao encerramento de cerca de 600 escolas na região. As medidas que as autoridades estão a tomar para controlar a situação não estão a funcionar”, afirma ainda Osai Ojigho.

Em 2018, a AI revelou que as forças de segurança nigerianas não reagiram a avisos que receberam de que os combatentes de Boko Haram se dirigiam para a cidade de Dapchi, no Estado de Yobe, onde mais tarde raptaram 110 estudantes de uma instituição pública de ensino superior.

Desde então, a organização documentou pelo menos cinco outros raptos de alunas entre dezembro de 2020 e março de 2021. “A frequência destes ataques demonstra como as escolas se tornaram inseguras na Nigéria, enquanto que a falta de responsabilização perante a justiça apenas serviu para encorajar os seus perpetradores”, aponta a AI.

No passado dia 11 de dezembro, de acordo com testemunhos recolhidos pela AI, centenas de homens armados invadiram sete dormitórios de estudantes numa escola secundária em Kankara, estado de Katsina, noroeste da Nigéria, e levaram cerca de 300 estudantes a pé para um local desconhecido, onde os mantiveram cativos durante seis noites, até que os libertaram em 17 de dezembro.

O ataque levou os governos dos estados de Kano, Kaduna, Zamfara, Jigawa e Katsina a ordenar o encerramento de escolas, aumentando assim o número de crianças fora da escola na Nigéria, que a ONU estima em 10,5 milhões.

Em 17 de fevereiro último, 27 alunos foram raptados por pistoleiros da residência de uma escola secundária em Kagara, estado do Níger, sendo libertados dez dias mais tarde. Num outro ataque, nove dias depois, centenas de estudantes femininas foram raptadas de uma escolha secundária para raparigas em Jangebe, estado de Zamfara. Depois de quatro dias de cativeiro, 279 meninas foram libertadas, em 2 de Março.

Em março, duas escolas foram atacadas no estado de Kaduna, noroeste da Nigéria, e numa delas foram raptados 30 estudantes.

“Estes ataques a estudantes, professores e instalações mostram um total desrespeito pelo direito à vida e à educação por parte de bandidos e insurgentes, bem como pelas autoridades nigerianas, que não conseguem detê-los”, sublinha o comunicado da AI.

Osai Ojigho alerta que “as autoridades nigerianas arriscam-se a perder uma geração, ao não providenciarem escolas seguras numa região já por si devastada pelas atrocidades de Boko Haram”.

“Ir à escola não deve ser algo que possa custar a vida. O governo deve demonstrar o seu empenho em proteger o direito à educação na Nigéria, investigando devidamente estes ataques e responsabilizando os responsáveis”, afirma ainda a diretora da AI.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que aproximadamente 10,5 milhões de crianças entre os 5 e os 14 anos de idade estão fora da escola na Nigéria.

Após o encerramento de escolas em todo o norte do país, os relatos de casamentos e de gravidez precoce entre raparigas em idade escolar têm aumentado.