"O problema aqui é a desertificação. Não há emprego e cada vez há menos jovens", revelou à Lusa o presidente da instituição, Lino Pereira.
Desde 2015, prosseguiu, o número de crianças diminuiu das cerca de 160 para as atuais 100. Por isso, a situação financeira na instituição é "muito difícil", assinalando que, desde 2015, as receitas oriundas da Segurança Social, só na área do pré-escolar, diminuíram cerca de 10 mil euros por mês.
Ao mesmo tempo, as despesas fixas com o pessoal daquela valência até aumentaram, sobretudo com as educadoras, algumas das quais em topo de carreira, por terem mais de 30 anos de serviço. "Todos os meses temos esse prejuízo", contou, reconhecendo que a "situação tem-se agravado de ano para ano".
O contexto atual traduz-se em dificuldades no pagamento de salários, o que, acentuou, não acontecia antes de 2018. A partir daquele ano, com as dificuldades financeiras a aumentar, os vencimentos passaram a ser pagos até ao dia 15 do mês seguinte. Mesmo essa solução, prosseguiu o dirigente, foi insuficiente e o final do mês seguinte passou a ser a meta da direção. Contudo, por "razões sociais, avaliadas caso a caso", houve situações, "até há pouco", em que alguns funcionários recebiam os ordenados de forma faseada, em diálogo com a direção.
Contudo, aquela metodologia tem sido contestada por alguns colaboradores, havendo até denúncias anónimas nas redes sociais, como reconheceu o dirigente, o que obrigou à convocação de uma reunião geral com os trabalhadores, que se realizou recentemente.
Nessa reunião, contou Lino Pereira, foi decidido pelos colaboradores da instituição que os salários deviam ser pagos em simultâneo. Por isso, neste momento, falta liquidar o mês de janeiro a todos os 73 trabalhadores da casa, disse.
Para o presidente da direção, face à situação atual, para a qual diz "não ter solução à vista" devido à "constante perda da população e natalidade" na zona do Couto Mineiro do Pejão, será necessário fechar valências, como já ocorreu com outras instituições daquele concelho do distrito de Aveiro, admitindo que o pré-escolar, por ser o que apresenta maior défice, é o caminho mais provável, o que deverá corresponder ao despedimento de sete colaboradores.
À Lusa, sublinhou que até foi tentado um acordo com as educadoras para ser definido um teto salarial, mas essa proposta foi rejeitada pelas profissionais. O fim das valências das atividades dos tempos livres (ATL) e da creche também está a ser avaliado pela instituição. Nas diferentes áreas da infância, observou, há oferta de serviços do setor público.
Segundo o dirigente, o encerramento de respostas na área da infância será a solução possível para salvar os outros serviços da instituição, que apresentam uma situação económica saudável, nomeadamente o lar de idosos, com 38 utentes, e o apoio domiciliário, com 40, que são rentáveis e têm a sua capacidade preenchida. Recordou, por outro lado, que já no ano passado foi encerrada outra resposta da instituição que dava prejuízo, que era o serviço de refeições escolares, em vários estabelecimentos de ensino, que era prestado à câmara municipal.
A Lusa ouviu a delegada sindical da instituição, Paula Susete, que disse estar a par da situação que se vive no centro social. A sindicalista confirmou que o salário de janeiro ainda não foi pago e que os trabalhadores consideram que os vencimentos devem ser liquidados em simultâneo.
Questionada sobre a possibilidade de encerramento de valências na área da infância, que afirmou lamentar, disse compreender se isso for necessário para salvar a instituição, nomeadamente as respostas que dão lucro na área da terceira idade e apoio domiciliário, onde trabalha o maior número de colaboradores e os que têm vencimentos mais baixos. APM
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