Um estudo publicado no jornal científico Psychoneuroendocrinology sugere que a depressão pós-parto pode ser consequência de um desequilíbrio no sistema responsável por responder ao stress.
A depressão pós-parto é uma situação que acontece com mulheres que acabam de dar à luz e que se carateriza por ansiedade, fadiga extrema, incapacidade de criar laços com a criança e pensamentos suicidas.
“A gravidez, obviamente, envolve grandes mudanças no corpo de uma mulher, mas só agora é que os cientistas estão a começar a entender as importantes adaptações invisíveis ocorridas ao nível neuroquímico, que podem ser importantes para manter a saúde mental e o comportamento materno nas primeiras semanas ou mesmo meses após o parto”, diz um dos autores do estudo, Laverne Camille Melón, da Universidade de Tufts, no Massachusetts, Estados Unidos.
O cientista acredita que a descoberta pode ajudar a desenvolver novos tratamentos para a doença que, além de afetar as mães, pode comprometer o desenvolvimento e o comportamento da criança.
Sabe-se que o stress é responsável por ativar um mecanismo chamado eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), que desencadeia a resposta de lutar ou fugir quando os animais são confrontados com uma ameaça.
Durante e após a gravidez, esse mecanismo normalmente é bloqueado, ajudando a isolar o feto em desenvolvimento do stress. Mas o novo estudo indica que, em alguns casos, o organismo falha em suprimir o eixo, causando um desequilíbrio que pode levar à depressão pós-parto.
Melón e a sua equipa realizaram uma experiência em duas etapas com ratos fêmeas virgens, grávidas e em pós-parto. Na primeira, analisaram a ação de uma proteína chamada KCC2, responsável por regular a quantidade da hormona libertadora de corticotrofina (CRH, na sigla em inglês), que ativa o eixo HHA, em roedores comuns.
Os cientistas observaram supressão da KCC2 em animais virgens, expostos ao stress, mas não em grávidas ou em pós-parto – o que sugere, segundo os investigadores, que a atividade da proteína pode contribuir para a inibição do eixo HHA durante a gravidez.
Na segunda etapa do estudo, o grupo analisou ratos que careciam de KCC2 e compararam a função do eixo HPA nestes roedores com os seus correspondentes normais. Os ratos sem a proteína demonstraram respostas mais intensas ao stress durante o período anterior ao parto, não mostraram a redução da ansiedade típica do período pós-parto e exibiram cuidados maternos anormais em comparação com os ratos comuns. Além disso, utilizando novas estratégias para ativar ou silenciar especificamente os neurônios recetores de CRH, os cientistas conseguiram apontá-los como possíveis culpados desses comportamentos semelhantes à depressão pós-parto.
“O nosso novo estudo fornece as primeiras evidências empíricas que suportam as observações clínicas da disfunção do eixo HHA em pacientes com depressão pós-parto”, disse a neurocientista e coautora do estudo, Jamie Maguire. Ainda assim, a equipa não acredita que esse desequilíbrio seja a única causa para a doença. “ Os mecanismos que levam uma mulher à depressão pós-parto podem ser diferentes daqueles presentes em outras”, concluiu Melón.
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