A afirmação é de Ruben Alves. "Todo o jardim começa com uma história de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada, é preciso que ela tenha nascido dentro da alma", afirmou um dia o teólogo, educador, filósofo, escritor e psicanalista brasileiro, que morreu em 2014. "Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles", escreveu ainda numa das muitas reflexões que deixou.

Será que alguma vez parou para pensar um bocado nisso? Existem muitas coisas à nossa volta que fazem reacender a beleza, a energia, o equilíbrio e a esperança. São as plantas, os jardins, as árvores, a nossa mãe natureza. Se nos permitirmos sentir desacelerando um pouco dos nossos ritmos de vida, conseguimos perceber o que estamos a fazer pela nossa vida, pelas nossas crianças e até pela nossa família.

Todos sabemos que as plantas têm o dom de criar ambientes mais harmoniosos, para além de tornar as pessoas mais felizes e serenas, pois trazem boas energias, paz e aconchego. As plantas só necessitam de cuidado, carinho e atenção, tal como nós. Estudos internacionais comprovam que as pessoas que vivem perto de jardins são, habitualmente e tendencialmente, mais descontraídas e mais alegres.

Aproveite os bons dias para jardinar em família
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O mesmo acontece com quem cultiva plantas, quer seja nas suas pequenas varandas ou em qualquer outra área disponível. A troca de energia nessa interação é benéfica e, muitas vezes, é uma terapia e chega a substituir o uso de medicamentos que combatem problemas emocionais, é o mais barato antidepressivo do mundo.

Por outro lado, é importante dizer que os benefícios são também para as pessoas que convivem com a pessoa que faz a jardinagem, que melhoram o estado emocional e mental.

Ao longo da sua vida, já constatou que existem locais onde é praticamente impossível permanecer por longos períodos? E também já percebeu que, por mais que se esforce, falta a agradável sensação de bem-estar e tem sempre uma vontade de sair rapidamente de um local que o tende a sufocar? Isso pode ocorrer em função da energia do ambiente. Sim, isso mesmo! É possível harmonizar o seu ambiente através das plantas.

É possível usar a energia das flores em proveito próprio para conseguir restaurar o seu bem-estar. Pode potenciar mais as energias chi das plantas através da técnica feng shui, que ajudam a misturar as energias e a facilitar o fluxo harmonizando os ambientes, como sublinham muitos especialistas, nacionais e internacionais. O feng shui aliado à mãe natureza traz a força que nós precisamos no nosso quotidiano.

O imperativo de tirar as crianças de casa

Por um lado, todos nós sabemos que o contacto com a natureza cada vez é mais raro ou inexistente. Cada vez existem mais edifícios e mais tecnologia e, com isso, o contacto com a natureza é cada vez mais incomum. Por outro lado, os pais preferem que a sua criança esteja a brincar no seu habitat natural, o quarto. Todavia, em tempos que ainda não vão assim tão longe, eram esses próprios pais que brincavam no jardim.

Subiam às árvores, mexiam na terra, andavam de bicicleta na rua. Sim, pais. Vocês tinham contacto com a natureza, contacto com a terra. Consequentemente, tinham mais energia e eram saudavelmente mais felizes! Mexer na terra é cuidar de outra vida. É, por isso, importante estimular práticas saudáveis nas nossas crianças, para que estas se tornem mais sociáveis e aprendam desde cedo valores essenciais.

Um deles é a importância do contacto com a natureza, bem como a necessidade de respeitar o meio ambiente. O contacto com a natureza deve começar desde cedo e é ótimo para a criança e para o adulto, pois começam a criar laços saudáveis entre si. Mexer na terra, ver as plantas a crescer e acompanhar o nascimento das flores são ações que fazem a criança entender os ciclos naturais e aprender a respeitá-los.

Crianças que mexem em terra são mais focadas

Essa interação é fundamental. "Não é só mexer com a terra, é cuidar de outra vida e isto tem um valor imenso para o nosso emocional", afirma Ricardo Monezi, especialista em práticas integrativas e complementares. Ver algo brotar da terra, sabendo que fomos responsáveis pela semente, é algo muito gratificante. De certa forma, é uma criação nossa e, portanto, um motivo de orgulho e satisfação que devemos valorizar.

Percebemos que jardinar é muito mais do que plantar algo. É uma grande porta para a aprendizagem de muitos conceitos e valores, promovendo a aproximação entre a criança e o adulto, melhorando e aumentando a comunicação entre os dois e potenciando a criação de amor por algo e o desenvolvimento da paciência no dia a dia, para acompanhar a flor que cresce naturalmente e o aperfeiçoamento da atenção.

O recurso a um vaso quando não existe um jardim

Atividades como regar, adubar, retirar as ervas daninhas são essenciais para poder obter bons resultados, promovendo sentimentos de satisfação, orgulho e confiança, o desenvolvimento do sentido de responsabilidade, competência e disciplina, algo que depende da sua contribuição diária. Jardinar promove ainda a criatividade e a aprendizagem do conceito de higienização, presente no lavar as mãos após brincar.

Jardinar desde pequeno fortalece a imunidade, uma vez que favorece o contacto com alguns microrganismos. Estar em contacto com a natureza é relaxante e beneficia ainda a saúde mental, uma vez que ajuda a aliviar as preocupações e as frustrações do dia a dia. Além de diminuir a ansiedade, também combate a depressão e reduz a baixa autoestima nas pessoas que a têm. E não é preciso ter um jardim vasto. Um simples vaso dá conta do recado! Para além disso, jardinar também é uma forma de brincar.

Texto: Edna Carvalho (psicóloga, terapeuta de EMDR, hipnoterapeuta e coach) com Luis Batista Gonçalves (edição digital)