Durante uma audição parlamentar sobre a recuperação de aprendizagens perdidas devido ao ensino à distância durante a pandemia de covid-19, a presidente do CNE destacou a importância de recuperar os cerca de 20 mil alunos do ensino básico e secundário que não foram às aulas ‘online’, no primeiro confinamento.
“Houve alunos que caíram fora do radar das escolas, com os quais não foi possível estabelecer contacto ao longo de todo o período de encerramento das escolas”, alertou Maria Emília Brederode Santos, uma das especialistas convidadas para uma audição parlamentar requerida pelo PSD.
Segundo um inquérito realizado pelo CNE aos diretores escolares, 2% dos estudantes não participaram nas aulas ‘online’, que começaram em meados de março do ano passado.
A percentagem “corresponde a cerca de 20 mil alunos”, disse Maria Emília Berderote Santos, sublinhando que, mesmo que fossem poucos, deveriam ser sempre prioritários.
O perfil destes alunos é conhecido: são crianças e jovens que pertencem aos grupos mais vulneráveis, são os mais desfavorecidos economicamente e também aqueles que as escolas sabem ser os mais desmotivados.
“São alunos já estavam em dificuldades, com insucesso e em risco de abandono. Por isso, recomendaríamos que recuperar esses alunos fosse a nossa primeira prioridade”, defendeu.
Para o CNE deveriam ser canalizados apoios socioeconómicos e recursos humanos mais diversificados, como ter à disposição dos jovens assistentes sociais, mediadores culturais ou psicólogos.
Além destes, o CNE entende que deve ser dada também “uma atenção muito especial” aos alunos do 1.º ciclo, defendendo que, em vez de mais horas de trabalho extra, deveria haver a possibilidade de coadjuvação nas salas de aula.
Além do professor da turma, os alunos teriam mais um docente ou educador de infância, exemplificou Maria Emília Brederode Santos, acrescentando que a solução também poderia passar por escolher um futuro professor, ou seja, um estudante que estivesse a terminar a sua formação mas que não tivesse conseguido fazer estágio devido à pandemia.
A contratação de professores reformados, tal como aconteceu com os médicos e enfermeiros nesta pandemia, também foi uma das sugestões deixadas pelo CNE.
Maria Emília Brederode Santos disse ainda que “o regresso à escola, depois das férias, foi muito mais difícil para os alunos e professores e muito mais dececionante” e que os alunos deveriam ter sido mais ouvidos.
Para a especialista, é preciso rever matérias e recursos assim como rever o papel da avaliação.
Deixar que sejam as escolas a identificar quais as aprendizagens que devem ser recuperadas, num processo em que se ouça também os alunos, e dar às escolas condições - “uma bolsa” – para que possam pôr os projetos em prática foram outras das propostas do CNE.
Algumas destas ideias foram partilhadas por António Gomes Ferreira, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, que também defendeu a necessidade de atribuir uma bolsa às escolas, para que possam gerir os recursos de forma a atender às especificidades da sua comunidade educativa.
"É fundamental” confiar nas escolas, que foram quem "resolveu os problemas" e garantiu a resposta aos alunos no primeiro confinamento, disse António Gomes Ferreira.
“As escolas foram o centro da atividade que permitiu dar respostas, as possíveis e por vezes algumas que até pareciam impossíveis”, afirmou, lembrando que os estabelecimentos de ensino fizeram um “esforço enorme para remediar problemas para os quais não estavam preparadas”.
Também este especialista considerou que se deve “olhar em primeiro lugar para as crianças do 1.º ciclo”, acrescentando a importância de olhar também as disciplinas de outros ciclos que são estruturantes.
A audição pedida pelo PSD terminou com a deputada social-democrata Cláudia André a sublinhar também que “foram as escolas que estiveram na linha da frente” e, por isso, o Ministério da Educação “teve o seu trabalho facilitado”.
A deputada do PSD criticou a atuação do Governo, por ainda não ser conhecido o plano de recuperação das aprendizagens, mas também por não ter tido “capacidade de resposta”.
“Este ministério deve apenas pensar nas linhas estratégicas e orientadores para que as escolas devam seguir um caminho, mas também forneça meios financeiros, humanos e materiais necessários à sua autonomia a fim de dar as respostas adequadas às necessidades, que de escola para escola tanto são diferentes”, defendeu Cláudia André.
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