A medida integra o projeto “Mob.te+”, cuja designação, ao refletir uma sonoridade idêntica ao apelo “move-te mais”, traduz o objetivo principal da iniciativa, que é incentivar uma maior atividade física na comunidade escolar, facilitando também uma poupança económica em viagens e reduzido as emissões poluentes de automóveis particulares.

O presidente da autarquia, Joaquim Jorge Ferreira, explica: “Pretende-se incutir nas crianças e jovens hábitos saudáveis, sensibilizando assim a comunidade educativa para a utilização de meios de transporte suaves. O objetivo passa por construir um caminho onde se disponibilizem respostas para a população que promovam a mobilidade sustentável no concelho”.

Na cidade de Oliveira de Azeméis, as primeiras bicicletas partilhadas surgiram em 2016, seguindo-se mais 30 em 2021, já no âmbito do Mob.te+. Agora, esses veículos chegam às escolas de todo o município, num investimento de 81.426 euros que, segundo o autarca socialista, visa incentivar uma mudança de mentalidade não apenas nos estudantes.

“Queremos formar e incutir nos cidadãos a necessidade do uso da bicicleta, assim como a vontade de andar a pé. São duas boas opções para a promoção da saúde mental e física de todos”, defende.

A professora Ilda Ferreira, diretora do Agrupamento de Escolas de Fajões, não está, contudo, convencida. Em declarações à Lusa, argumenta que as bicicletas verdes que agora estão à guarda da Escola Básica e Secundária de Fajões “até podem fazer sentido na [Secundária] Soares Bastos, no centro de Oliveira de Azeméis, onde as estradas são mais planas e há ciclovia”, mas não lhes vê a mesma pertinência no seu agrupamento, cujo território envolve estradas de declive acentuado.

Talvez por isso, das 110 bicicletas que Ilda Ferreira diz ter recebido da câmara, “umas 30 ainda estão por distribuir”, já que “é preciso convencer os alunos a querê-las e os pais a ficarem com elas”, assinando um termo de responsabilidade pelo equipamento. “Para esta escola a viagem é por sítios sem ciclovias nem passeios, por estradas como a de Ossela, que é perigosíssima, e com muitas curvas e cheias de movimento na hora de ponta. Como é que se garante a segurança dos miúdos?”, questiona a docente.

Ilda Ferreira admite que todas as ofertas têm que ser bem recebidas, mas, preocupada ainda com a falta de espaço para armazenar e estacionar as bicicletas, confessa: “Não estávamos a contar com isto nem achamos que seja uma prioridade, quando temos necessidades mais urgentes. Precisávamos muito mais de equipamento informático para os alunos do 1.º Ciclo, porque tivemos que devolver os portáteis que nos deram na fase da covid-19”.

A professora defende, aliás, que esse formato pequeno de computador nem é adequado para crianças do referido grau de ensino. “Não faz sentido aqueles meninos andarem de portátil para trás e para a frente, quando já andam tão carregados com manuais escolares e aprendiam melhor em computadores fixos, que ficassem sempre na escola, para diferentes turmas os usarem”, justifica.

Na Escola de Fajões, quem não vê inconveniente nas novas bicicletas é Leandro Ferreira Santos, que, aos 13 anos, fica agora com uma para seu uso próprio. Esse aluno do 8.º ano diz que a iniciativa “é interessante”, gosta da bicicleta por ser “muito colorida” e propõe-se usá-la “quando não estiver a chover”, porque nesses dias manter-se-á fiel ao autocarro.

“Estão a tentar que nós façamos mais exercício, que tenhamos um desempenho mais dinâmico. Parece-me bem”, afirma. Quanto a segurança, está tranquilo e diz que os seus progenitores também: “A estrada agora está boa, porque a andaram a alcatroar, e os meus pais acharam uma boa ideia, porque sabem que eu vou andar com cuidado”.

Das restantes 390 bicicletas a entregar hoje e quarta-feira aos agrupamentos de Oliveira de Azeméis, o Soares Bastos deverá receber cerca de 140 para distribuir pelas suas várias unidades de ensino e o Ferreira de Castro fará o mesmo com 100, seguindo-se o Ferreira da Silva com 80 e o de Loureiro com 70.

Na distribuição desses veículos por quem neles tiver interesse, serão beneficiados os alunos “que apresentam contextos familiares e socioeconómicos mais vulneráveis e que, naturalmente, não sejam já detentores de bicicleta”.