Criada há seis meses, a rede é uma iniciativa da Confederação Nacional das Associações de Famílias (CNAF) - composta por cerca de 150 associações, entre instituições de solidariedade social e autarquias -, e conta com especialistas que tentam dar “uma resposta célere e eficaz” na resolução do sobre-endividamento das famílias.
Quando contatam a rede as famílias já estão numa situação de sobre-endividamento: “Já gastaram todas as suas poupanças, já arrastaram os familiares para o seu problema, pedindo-lhes dinheiro emprestado”, e têm penhoras nos vencimentos, adiantou Hélder Mendes.
Dados da SOS Famílias Endividadas referem que foram resolvidos 80 casos, dos quais 52 tiveram como solução a reestruturação da dívida por via judicial e 28 a insolvência.
A rede foi contactada por 835 famílias e pessoas em seis meses, um número que ficou aquém do esperado, disse Hélder Mendes, apontando como explicações para esta situação o facto de poder haver algum desconhecimento do serviço e o receio das famílias em procurarem ajuda.
“Estávamos a contar com um número de contactos bastante superior, mas é o que temos”, disse Hélder Mendes, lamentando ainda que 90% das famílias que contactaram a rede não terem avançado com o processo.
"Até nos sentimos um pouco frustrados, porque temos uma solução para apresentar na maioria dos casos”, que passavam em 62% das situações pela reestruturação da dívida e em 37,96% pela insolvência.
Relativamente aos casos de insolvência, Hélder Mendes disse entender que “as pessoas não queiram perder os bens, embora não haja outra solução”, mas no caso da negociação dos créditos, as pessoas mantêm os bens e podem reduzir as mensalidades para cerca de metade.
“Ao não fazerem nada, as pessoas apenas estão a protelar a resolução do problema e ficam com penhoras”, sublinhou.
Sobre os motivos que impedem as famílias de avançarem para a solução dos seus problemas, o responsável disse que “há muito preconceito” em relação a estas questões.
“Os portugueses são muito agarrados a uma questão de ‘status’, que não faz sentido”, e “têm receio que os vizinhos ou os familiares percebam que estão em dificuldade”, sustentou.
Perante estes receios, acabam por optar pela “solução mais fácil”: Pedir mais dinheiro para pagar os créditos.
“O problema não se resolve com mais dinheiro, mas sim com o devido saneamento financeiro e esse trabalho só é possível com a reestruturação judicial”, salientou. As pessoas com mais formação são “as menos hesitantes”, enquanto as da classe média e média baixa, “com menos informação, são mais reticentes”.
Mesmo que decidem não avançar para a solução apontada pela rede, as famílias ficam, pelo menos, “devidamente esclarecidas e sabem como podem agir em relação aos contactos dos credores, que são bastante agressivos e persistentes”, e o que podem fazer na sua situação.
Metade das pessoas que contactaram a rede (417) era casada, 170 divorciadas, 149 solteiras, 83 viviam em união de facto e 16 eram viúvos.
Das pessoas que pediram apoio, 350 estavam empregadas, 345 desempregadas, 78 eram pensionistas e 62 empresários. Mais de um quarto dos pedidos foi oriundo do distrito de Lisboa (219), seguindo-se o do Porto (158), Setúbal (114), Aveiro (40), Braga e Santarém (ambos com 37), Faro (36), Coimbra (31) e a Madeira (30).
Lusa
Comentários