A oficina dos saberes, perto da sala da direção da escola, parece uma espécie de T0, com cama, uma mesa, uma cozinha completamente equipada, televisão e uma tábua de passar a ferro. O objetivo é "dar mais autonomia a alunos" com NEE, salienta a diretora do Agrupamento de escolas Coimbra Sul, Margarida Girão.
Lá dentro, cerca de 30 alunos com necessidades educativas especiais que têm um Currículo Específico Individual (CEI) "aprendem a fazer a cama, a passar roupa a ferro, a seguir uma receita, a descascar alimentos, a cozinhar ou a perceber o que precisam de comprar", explica à agência Lusa Margarida Girão.
Enquanto os alunos estão entretidos a dominar as lides domésticas, também "aprendem matemática com os pesos ou quantidades de uma receita, ou português quando procuram uma receita na Internet", salienta, referindo que as tarefas atribuídas a cada criança dependem das capacidades de cada um.
O projeto, que se aplica do 5.º ao 9.º ano, abrange alunos com atrasos de aprendizagem, atrasos cognitivos ou com deficiência e funciona em grupos de quatro a cinco crianças.
Na oficina, Diogo segue atentamente as instruções das professoras Maria Manuel e Ana Sofia Rodrigues, enquanto procura fazer folhados de salsicha.
Logo a seguir, está compenetrado a olhar para o computador para perceber uma receita de ‘palmiers'.
"Não gosto das outras aulas", confessa o aluno, num sorriso tímido, enquanto lava a loiça.
O projeto já existe há cerca de sete anos na Escola Básica (EB) 2,3 Alice Gouveia, decorrendo também na EB 2,3 de Ceira, do mesmo agrupamento.
"Para além da autonomia, os alunos aqui aprendem sem se aperceberem que estão a aprender. Quando falamos de quantidades, teriam muita dificuldade em aprender num contexto de sala de aula", salienta Margarida Girão, frisando que as atividades "tornam-nos mais independentes".
Por vezes, vão às compras de alimentos ou até fazem vendas na sala dos professores da compota de marmelada ou doce de abóbora que fizeram no contexto da oficina, conta.
"É muito gratificante", sublinha Maria Manuel, recordando os almoços que lá foram feitos com ajuda dos alunos.
Ana Sofia Rodrigues, outra professora que participa na oficina, salienta que, acima de tudo, procura orientar-se as crianças para, "um dia mais tarde, poderem ser autónomos".
"Veem-se algumas melhorias. Nalguns são pequenas e muito devagarinho, mas acabam por aprender", salienta.
Não é o caso do grupo do Ivo, José e Diogo.
"Tu vais fazer um curso de cozinha", diz uma das professoras para José, seguindo-se logo elogios às suas capacidades culinárias.
Ivo, de 15 anos, a frequentar o 9.º ano, assume que gosta de cozinhar, já limpar e lavar a loiça "não tanto".
Desde que frequenta a oficina, passou a ajudar "mais" em casa, conta.
"É a aula que gosto mais", sublinha Diogo, enquanto se entretém a fazer folhados de salsicha, que minutos mais tarde estariam prontos a comer na mesa posta pelos alunos.
Para além da oficina dos saberes, a escola também oferece aos alunos oficinas de expressão dramática, dança, expressão plástica ou música.
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