Neste artigo, a pediatra Joana Martins sugere alguns temas que poderá discutir com o pediatra da(s) sua(s) criança(s).

Nos primeiros 3 anos da criança, de acordo com as recomendações da Direção-Geral de Saúde (DGS), estão previstas 11 consultas de vigilância regular de saúde, das quais sensivelmente metade têm lugar no primeiro ano de vida. É natural que assim seja, porque falamos de uma etapa com elevada velocidade de crescimento e causadora de enormes adaptações.

Em pouco mais de 1 ano, um bebé recém-nascido transforma-se numa criança que tenta dar os seus primeiros passos. Com um tão grande aumento de complexidade, é natural que surjam dúvidas, questões, ansiedades, modificações. Adicionalmente, com a entrada na creche, as visitas tornam-se francamente mais regulares, por culpa das infeções agudas.

No entanto, quando passa este turbilhão de crescimento, desenvolvimento, mudança na alimentação (do leite materno para a sopa da pedra), vacinação e infeções, chegamos a etapa entre os 4 e os 10 anos de idade que é uma espécie de oásis de autogestão. Durante estes anos estão previstas pouquíssimas consultas, uma a cada dois anos, sumariamente, embora a maioria dos pediatras aconselhe que as crianças sejam vistas anualmente.

E é aqui que começa a incógnita. O que perguntar ao médico quando está tudo bem? Assim, decidi criar um pequeno roteiro preparatório de perguntas que pode (e deve) fazer ao seu pediatra ou médico assistente.

  1. O peso e a altura estão dentro do esperado?

Embora seja um aspeto sempre revisto na consulta, mais importante do que saber se a altura do menino chegou ao percentil 75, é saber se a criança continua a crescer dentro daquilo que é o seu canal de crescimento. Pode ajudar ter conhecimento prévio da altura dos pais, para poder determinar aquela que é a estatura alvo da criança.

No que toca ao peso, apesar da recente melhoria dos indicadores, em Portugal há de facto uma enorme prevalência de obesidade, com 15,3% das crianças de oito anos obesas, incluindo 5,4% com obesidade severa. Esta situação pode ser explicada por aspetos culturais, como o excessivo apreço às crianças gordinhas, já que em outros tempos corresponderiam a crianças com maior capacidade de sobrevivência, aspetos sociais, como a enorme prevalência de sedentarismo em todos os grupos etários, e motivos económicos, já que os alimentos menos saudáveis, frequentemente processados, são os mais baratos. O que nos leva às duas questões seguintes.

  1. De que forma posso incentivar o aumento a atividade física?

Reparem, não digo, em momento algum, exercício físico. A atividade física é tudo o que fazemos para mexer o nosso corpo e inclui o exercício físico, que é habitualmente deliberado, programado e com duração determinada. O sedentarismo em Portugal é profundamente endémico. Estima-se que cerca de 64% das crianças com 10-11 anos sejam sedentárias. O problema é que este valor atinge os 95% quando falamos de jovens entre os 16-17 anos, afetando muito mais as raparigas do que os rapazes. Então, se queremos agir sobre o sedentarismo temos de fazer alguma coisa para impedir que ele se instale. Assim, recomendamos que as crianças e adolescentes pratiquem diariamente, pelo menos, 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. Tal deve incluir, pelo menos 3 vezes por semana, 20 a 30 minutos de atividades como correr, subir e descer, saltar ou outras atividades que solicitem o sistema musculoesquelético para a melhoria da força muscular, da flexibilidade e resistência óssea. Por atividade moderada compreende-se uma atividade que deixe a pessoa cansada o suficiente para não conseguir cantar, mas que consiga falar. Não é preciso mais do que isto! Na educação para a saúde tem grande relevância a recomendação de atividade física.

  1. De que forma posso fazer uma alimentação mais saudável?

A escolha de alimentos menos processados, o controlo das porções, a ingestão adequada de água e a restrição de refrigerantes e doces têm um papel fundamental. Não é por acaso que a DGS e a Direção-Geral de Educação (DGE) propuseram limites a alguns alimentos nas ementas das cantinas escolares (ver recomendações). É importante contribuir para o conhecimento das boas práticas alimentares da população em geral, nem que para isso se tenham que repensar algumas tradições gastronómicas portuguesas. E não duvidem: nenhuma criança fica gorda por aquilo que come na cantina ou no bar da escola. São as escolhas alimentares familiares que ditam o risco de obesidade.

  1. Houve uma mudança da nossa situação familiar. Como posso ajudá-lo a adaptar-se a esta nova realidade?

Esta é obviamente uma questão ampla mas que pode ser útil ser relembrada: o nascimento de um irmão, o divórcio dos pais, uma morte de um familiar, uma mudança de residência ou de escola, são tudo modificações com um grande impacto na vida das crianças. Se encontrar algum destes fatores na sua história familiar, é boa ideia discuti-lo com o seu médico assistente. Pode aceder a pistas úteis para ajudar na adaptação, bem como os sinais de alarme que terá todo o interesse em vigiar.

  1. De que forma posso tornar o uso da internet mais seguro?

Recentemente o governo neozelandês lançou um programa de advertência para os perigos do uso da internet (Programa Keep It Real): à parte dos vídeos extremamente elucidativos, abordando questões de conteúdo impróprio, bullying, pedofilia e pornografia, é uma campanha com enorme humor e talvez por isso o seu sucesso. Em Portugal existem algumas iniciativas público-privadas como a Seguranet (https://www.seguranet.pt/) e a Miúdos Seguros na Net (https://www.miudossegurosna.net/) que promovem ações de formação junto das crianças, pais, professores e escolas.

No entanto, é sempre importante rever as regras básicas de segurança online com as crianças e sobretudo incentivar o uso limitado do computador/portátil/tablet/ telemóvel num local bem público da casa.

Mais importante do que o acesso a qualquer conteúdo online é a possibilidade de diálogo que deve acompanhar todo este processo.

  1. De que forma posso introduzir o tema da puberdade?

Com a aproximação dos 10 anos de idade, começa a ser fundamental introduzir o tema da puberdade. Claro que como pais, serão recebidos com risinhos tímidos, faces coradas e ar desconfortável. Assim, falar com o médico assistente pode ser um ótimo desbloqueador de conversa.

  1. As vacinas estão atualizadas?

Esta é uma questão muito simples e fácil de confirmar. Sobretudo muito importante aos 5 anos e aos 10 anos de idade. Entre estas duas datas, tudo tranquilo!

Acima de tudo, a partir dos 4 anos pode ser muito importante conversarem com o vosso(a) filho(a) sobre o que esperar de uma consulta médica. Para eles é muito mais fácil aceitar que um estranho lhes faça perguntas, pese, meça, meça a tensão com uma braçadeira, ausculte o peito, palpe a barriga, veja a garganta e os ouvidos, se os pais tiverem explicado previamente que tudo isto é é suposto acontecer.

E isto é tanto mais importante, quanto mais pequena for a criança. Muitas vezes miúdos relativamente crescidos não têm ideia do que se vai passar, ativando mecanismos de evicção e tornando a consulta de rotina, que se quer um momento agradável, num momento de stress familiar. Dizer a um miúdo de 4 anos que, se se portar mal, o médico vai dar uma pica, é absolutamente desnecessário! Não só não é verdade, como só vos vai prejudicar: ao miúdo, causando uma ansiedade sem motivo, aos pais, descredibilizando-os, por darem a entender à criança que vai acontecer alguma coisa que, afinal, não vai acontecer!

Um artigo da médica Joana Martins, pediatra na Unidade de Cuidados Intensivos de Pediatria no Hospital D. Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.

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