É inegável que o tabagismo traz inúmeros malefícios para a saúde, sendo amplamente conhecido como a principal causa evitável de morbilidade e mortalidade nos países desenvolvidos. A sua prevalência nos sexos masculino e feminino é alarmante também pelas implicações que acarreta ao nível da fertilidade e das consequências nocivas para o desenvolvimento de uma gravidez saudável.
O consumo de tabaco, tanto no homem como na mulher, está ligado a uma diminuição da fertilidade natural, além de influenciar negativamente os resultados de tratamentos de reprodução assistida. Fumar durante o período pré-gestacional e gestacional prejudica gravemente a saúde do bebé e pode chegar a causar infertilidade na sua fase adulta.
Consequências do consumo de tabaco na fertilidade feminina
O risco de infertilidade nas mulheres fumadoras em idade reprodutiva é de 60% e as que recorrem a tratamentos de procriação medicamente assistida diminuem a sua probabilidade de sucesso na gravidez em 50%.
As diferentes substâncias encontradas no tabaco, como o cadmio, benzopireno e a nicotina, comprometem o bom funcionamento dos ovários. As fumadoras ativas possuem concentrações mais elevadas de cotinina (metabólito da nicotina) no líquido folicular ovárico. A acumulação de metabólitos tóxicos gera um ambiente danoso ao crescimento de folículos e amadurecimento de ovócitos.
Estas substâncias afetam igualmente o endométrio e comprometem a recetividade uterina, o que se traduz numa possibilidade reduzida de sucesso na implantação uterina do embrião e no respetivo desenvolvimento do feto. É inclusive causa de aumento do risco de abortos espontâneos.
As mulheres fumadoras precisam de doses hormonais superiores para a estimulação dos ovários nos tratamentos de Procriação Medicamente Assistida.
A progenitora que fuma durante a gravidez impacta negativamente a saúde dos filhos a longo prazo e pode provocar a redução da concentração do esperma de 20-50% no caso dos rapazes (em comparação com os não-expostos) e uma reserva limitada de ovócitos e subfecundidade no caso das raparigas.
Além disso, fumar durante a fase pré-natal associa-se a um aumento da incidência de má formação no feto, obesidade, hiperatividade e transtornos de comportamento da descendência.
Consequências do consumo de tabaco na fertilidade masculina
No caso do homem, o tabagismo ou o consumo de outros produtos derivados do tabaco pode alterar a produção de espermatozoides, afetar a qualidade do sémen e elevar a fragmentação de DNA dos gâmetas masculinos. O hábito de fumar está ligado a algumas alterações nos valores do espermograma, como o volume seminal, mobilidade, morfologia e concentração de espermatozoides.
O progenitor masculino que fuma durante o período pré-concecional pode contribuir para uma maior incidência de cancro na descendência, possivelmente pelas mutações no DNA espermático, que podem ser transmitidas ao feto de modo permanente, passando a fazer parte da composição genética da futura geração.
O consumo de tabaco tem consequências para a descendência que vão além dos efeitos a curto prazo. Pela sua própria saúde e pela saúde dos seus descendentes, deixe de fumar antes de engravidar.
Um artigo do médico Sérgio Soares, ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução.
Comentários