É um assunto doloroso, e também por isso evitado, mas falar sobre a perda de um bebé durante a gravidez pode ser a melhor forma de ultrapassar o trauma e seguir em frente. Quem o diz é a psicóloga Jean Tweng, professora da Universidade de Chicago, que já passou por essa situação.

À Parents.com, Tweng admitiu que se sentiu “culpada” e teve medo de falar do assunto com os mais próximos. Mas porquê esse receio, pelos vistos, bastante comum?

Um estudo da Tommy’s, instituição britânica de apoio à natalidade, feito com 6.000 mulheres que abortaram, revelou que dois terços disseram que não conseguiram falar com a melhor amiga sobre o assunto.

Tweng, que é autora de um livro sobre fertilidade, diz que o sentimento de perda, tristeza e culpa que qualquer mãe ou pai sente nessa situação deve ser partilhado. A psicóloga enaltece as virtudes das redes sociais pela forma como podem aproximar pessoas que viveram os mesmos dramas e elogia o comportamento de figuras famosas como Mark Zuckerberg ou Beyoncé por não terem vergonha de falar sobre esse tema no Facebook, com testemunhos que costumam criar uma onda de solidariedade e entreajuda.

A psicóloga recua ao passado para encontrar as raízes dessa culpa tão absurda: “Os historiadores encontraram sementes do estigma do aborto na Idade Média, quando a impossibilidade de uma mulher dar um herdeiro masculino ao marido era uma fonte profunda de vergonha”.

Recorda o historiador Edward Shorter, da Universidade de Toronto: “Era dever conjugal da mulher dar à luz um filho que assumisse o legado do pai e que, mais tarde, gerisse o dote da futura noiva. O estigma do aborto foi em grande parte de ordem económica.” E uma vez que as causas dos partos falhados eram um mistério para a medicina antiga, “as mães sempre foram consideradas a raiz do problema”.
Cerca de metade dos casais que tiveram de lidar com um aborto espontâneo sentiram ter feito algo de errado, embora, ressalve Jean Tweng, “os abortos espontâneos sejam, regra geral, causados ​​por fatores impossíveis de controlar, nomeadamente, anomalias genéticas”.

Estudos diversos sobre o rema têm revelado que a perda da gravidez pode ser traumatizante, causadora de sentimentos de culpa e difícil de ser exposta. Investigadores sociais descobriram que a ausência de apoio dos amigos só piora esses sintomas e pode aumentar o risco de depressão da mãe.

Renee Cowan, ginecologista e obstetra de Nova Iorque, conta que diagnosticou e tratou centenas de mulheres logo a seguir a um aborto espontâneo. “Quando as abordei, estava totalmente impreparada para a tristeza delas e também para a ansiedade enorme que sentiam quando pensavam em ficar novamente grávidas”.

Por norma, a rede de apoio habitual das mães é a família. Mas, no caso de um aborto, muitas mulheres sentem-se melhor a desabafar com pessoas que viveram a mesma situação. É aqui que entram as redes sociais. “Eu não precisei de dizer o que sentia em voz alta”, confessou uma mãe norte-americana à Parents.com. “Não precisei de me controlar para a voz não tremer nem tive de lutar contra as lágrimas. Pude chorar enquanto escrevia no teclado e obter reações genuínas e comentários. Mais: pude apagar comentários que me entristeceram e reler os que me foram úteis.”