As infeções pelo vírus Herpes Simplex (VHS), mais frequentemente o tipo 2, mas também, embora raramente o tipo 1, são responsáveis por uma das doenças sexualmente transmissíveis mais frequentes, o herpes genital, causador de ulceração genital. Apesar de rara, a localização no colo do útero, assintomática, pode causar, também raramente, infeção do feto in utero, que quando ocorre, leva geralmente à morte fetal.
A transmissão do VHS ao feto ou ao recém-nascido vai depender da exposição deste, durante o parto às lesões localizadas na vulva e na região perineal; da capacidade materna de produção de anticorpos antivírus ou se o próprio bebé conseguiu adquirir anticorpos antes do parto.
Quando a infeção decorre no período gestacional, pode originar graves complicações, tais como o Herpes Neonatal, caracterizada por lesões na pele, olhos, boca, lesões SNC e nos restantes órgãos. A situação mais grave para o recém-nascido ocorre quando a gestante adquire a primeira infeção de herpes genital pouco tempo antes do parto.
A infeção materna pode ser assintomática, pelo que o bebé ao nascer por via vaginal, numa altura em que possivelmente a mãe ainda não dispõe de anticorpos IgG que passem a placenta e protejam o recém-nascido, irá com certeza ficar infetado pelo VHS. No caso da gestante ter conhecimento de que é portadora do VHS, deve avisar o obstetra e ser medicada com medicação antiviral, sendo possível programar o parto por cesariana, antes da rotura de membranas, para que o feto não tenha contacto com as lesões do VHS durante o parto.
Estudos revelam que mais de 70% dos recém-nascidos infetados nascem de gestantes assintomáticas. Os recém-nascidos com suspeita de infeção por VHS devem ser avaliados e iniciar tratamento o mais atempadamente possível.
A serologia do VHS é a única forma corrente e importante de conhecer o estado imunológico da gestante e compreender se a infeção da mãe é primária ou recorrente. A presença de anticorpos IgM ou quantidade crescente de anticorpos IgG confirma uma infeção recente.
A pesquisa do ADN viral por PCR permite a confirmação dessa mesma infeção e a presença ativa do VHS, quer no sangue materno, quer no líquido amniótico, logo confirmando a presença de infeção fetal ativa. Essa mesma confirmação pode ser obtida por cultura viral.
Por Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica
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