Para que seja possível uma conceção em condições naturais, ambos os membros do casal devem ser saudáveis e não devem existir problemas na produção de óvulos e espermatozóides. Além disso, a mulher deve ter trompas normais e permeáveis e um útero com condições propícias à implantação do embrião.

 

O momento em que ocorre a relação sexual é também importante: para que a fecundação possa acontecer, o espermatozóide tem que encontrar o ovócito (ou óvulo) na trompa, na altura da ovulação. Com isto não se quer dizer que a relação sexual tenha que acontecer no preciso momento em que ocorre a ovulação: há um período de cerca de dois dias em que as condições de fecundação são as ideais, pois os óvulos, depois de libertados a partir do ovário, podem esperar 12 a 24 horas até serem fecundados.

 

Por outro lado, os espermatozóides podem permanecer no corpo da mulher, ativos e com capacidade de fecundação por um período de 12 a 48 horas. Além disso, não nos devemos esquecer que, numa situação “normal” de um casal que não tenha problemas de fertilidade, a probabilidade de se conseguir engravidar em cada ciclo é de 20 a 30%.

 

Ou seja, a espécie humana é pouco fértil, mas ainda assim, e pelo menos para já, vai tendo capacidade de assegurar a renovação das gerações. Se estes 20 a 30% de probabilidade de gravidez não forem suficientes, os casais tentam novamente nos meses seguintes. E as estatísticas mostram-nos que ao fim de um ano 85% dos casais conseguem engravidar naturalmente.

 

Os restantes 15% correspondem a casos de infertilidade, que devem ser tratados logo que possível, pois na área da Medicina da Reprodução travamos uma luta desigual contra o tempo e quanto mais tarde fizermos os tratamentos de que os nossos casais necessitam, menores serão as respetivas probabilidades de êxito.

As hormonas, os espermatozóides e os óvulos

 

As hormonas são mensageiros químicos produzidos pelo organismo, existindo várias que estão envolvidas no processo de produção de espermatozóides e óvulos. Se ocorrerem problemas com o seu funcionamento, poderão surgir dificuldades na obtenção de uma gravidez.

 

Pelo menos 20% das mulheres com problemas de infertilidade sofrem de perturbações hormonais, que causam problemas na ovulação. O recurso a medicamentos indutores da ovulação é uma das soluções clínicas habitualmente utilizadas nestas situações. Na mulher a produção de óvulos envolve a interação de várias hormonas diferentes.

 

O processo inicia-se numa parte do cérebro chamada hipotálamo, com a produção da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH). Por sua vez, esta vai estimular a hipófise, que é uma pequena glândula localizada na base do cérebro, a libertar a hormona folículo-estimulante (FSH).

 

A FSH vai atuar nos ovários e promover o desenvolvimento de folículos (onde estão localizados os óvulos). Os folículos produzem estrogénios, que estimulam a hipófise a libertar outra hormona: a LH, ou hormona luteinizante, que promove a ruptura do folículo e a libertação do ovócito – a este mecanismo chama-se ovulação.

 

A partir do folículo sai o corpo amarelo (corpo lúteo), que por sua vez produz outra hormona, a progesterona, que prepara o útero para que este se torne num ambiente favorável à implantação do ovócito fertilizado.

 

No homem, os desequilíbrios hormonais também poderão estar na origem de problemas ao nível da produção de esperma. A hormona mais importante no processo de formação dos espermatozóides é a testosterona, cuja produção no homem é controlada pelas mesmas hormonas que controlam a ovulação nas mulheres.

 

Tal como sucede na mulher, a GnRH produzida pelo hipotálamo no cérebro também desencadeia a libertação de FSH e LH a partir da hipófise. No homem a FSH estimula a produção de espermatozóides nos testículos, enquanto a LH estimula os testículos a produzirem testosterona. Os espermatozóides viajam a partir dos testículos para o epidídimo (que é um tubo enrolado com cerca de 12 metros), onde amadurecem.

 

Quando um casal tem relações sexuais, os espermatozóides percorrem o canal deferente, em direção ao pénis. No momento da ejaculação, os espermatozóides são impelidos a partir do pénis para o interior da vagina da mulher.

A ovulação

 

O número de óvulos com que as raparigas nascem pode chegar aos 400.000. No entanto, o organismo feminino não tem capacidade para produzir mais óvulos ao longo da vida, pelo que é a partir destes óvulos primordiais que as mulheres vão poder desenvolver a sua vida reprodutiva.

 

Na puberdade produzem-se as hormonas que irão desencadear o processo de maturação dos ovócitos, sendo este um processo que só termina na menopausa, quando os ovários deixarem de funcionar.

 

Estima-se que entre a primeira menstruação e a menopausa uma mulher liberte cerca de 400 óvulos. Até à menopausa, as mulheres libertarão um óvulo por mês, mais ou menos no 14º dia do ciclo menstrual (que tem início no primeiro dia do período).

 

O ciclo menstrual médio dura cerca de 28 dias, embora este número possa variar de mulher para mulher. O período em que a mulher é mais fértil situa-se habitualmente a meio do ciclo.

A fecundação

 

A meio do ciclo menstrual (por volta do 14º dia no caso das mulheres que têm ciclos regulares de 28 dias) dá-se a ovulação: o óvulo é libertado a partir do ovário, percorrendo de seguida as trompas de Falópio.

 

Na trompa, o óvulo e o espermatozóide fundem-se numa única célula. Dos cerca de 40-200 milhões de espermatozóides que são libertados no interior da vagina durante uma relação sexual, apenas uma pequena parte (cerca de 200) resiste ao difícil percurso através do colo do útero, útero e trompas de Falópio. Aliás, apenas um espermatozóide conseguirá penetrar no interior do óvulo!

 

Os 25 longos centímetros que os espermatozóides têm que percorrer até ao local da fecundação são ultrapassados a uma velocidade de 2 milímetros por minuto. O ovócito fertilizado demora três dias até atingir o útero. Nesse percurso, as suas células dividem-se. Dois a três dias depois de chegar ao útero, o embrião (agora constituído por várias células) implanta-se no endométrio. Não é verdade que ter relações sexuais pouco frequentes aumente a probabilidade de conseguir gravidez.

 

A melhor forma de aumentar as probabilidades de conceção é ter relações sexuais de dois em dois dias, a meio do ciclo menstrual.

 

 

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