No verão, as temperaturas altas pedem por roupas leves, passeios ao ar livre, correrias pelos jardins e pelos campos e fins de semana na praia. Ficamos mais expostos ao sol. Por esse motivo, a delicada pele dos nossos filhos requer cuidados e fórmulas especiais. Em causa estão as características inerentes à imaturidade cutânea, mas, também, os riscos que a exposição solar acarreta e que, na infância, são maiores.

«A pele das crianças tem um menor conteúdo lipídico e um pH mais neutro, o que diminui a barreira epidérmica e o que faz dela uma pele mais sensível, fina e frágil, comparativamente à dos adultos», explica Mónica Pinto, pediatra. Por outro lado, na infância, «devido à proliferação celular e ao crescimento, o risco da exposição solar desencadeia mutações na pele, suscetíveis de desenvolver uma patologia oncológica (cancro da pele) mais tarde», alerta a especialista. 

A melhor proteção para os mais pequenos

Quando falamos de proteção solar, tendemos a recordar de imediato o papel dos protetores solares e a importância da sua reaplicação durante a exposição solar. No entanto, apesar da sua relevância e eficácia comprovada, o uso de protetor solar, isoladamente, pode não ser suficiente para proteger a pele. «Evitar a exposição solar é a primeira medida e a mais eficaz», sublinha Miguel Trincheiras, dermatologista.

Na impossibilidade de evitar esta exposição, existe uma série de «outros cuidados que deverão anteceder o uso do protetor solar», alerta o especialista. O uso de chapéu, preferencialmente de abas largas, a roupa clara, como calças e calções, e os óculos de sol com proteção contra os raios ultravioleta formam a lista dos cuidados primários que deverão ser garantidos antes de escolher o protetor solar.

Mónica Pinto relembra também a importância de evitar a exposição solar no período do dia em que a intensidade da radiação solar é maior, habitualmente entre as 12h00 e as 16h00. Veja também os cuidados básicos a ter com as crianças na praia e saiba o que fazer para conseguir uma pele à prova de sol.

Os cuidados a ter em cada idade

«Abaixo dos dois anos, as crianças têm uma imaturidade pigmentária que as impossibilita de se autoprotegerem. A exposição solar deve ser limitada ao mínimo tempo possível e totalmente evitada no período em que a radiação ultravioleta é mais intensa», alerta Miguel Trincheiras. Até aos primeiros dois anos de vida, o uso de roupa assume-se, assim, imprescindível.

«Nos passseios ao ar livre ou mesmo na praia, onde a exposição ao sol é direta e prolongada, os bebés devem permanecer vestidos, de forma a não terem exposta ao sol uma área da pele demasiado extensa», acrescenta Mónica Pinto. O uso de protetor solar é o recurso mais comum e indicado para complementar a proteção assegurada pela roupa (a proteção ideal), o chapéu e os óculos de sol.

«Este deve conter um elevado fator de proteção solar UVB e UVA (igual ou superior a FPS30 ou, idealmente, de FPS50), sendo aplicado em casa antes da exposição solar», aconselha a pediatra, alertando que «a sua aplicação não deverá ser esquecida mesmo nos passeios com exposição indireta e sempre que os níveis de radiação são elevados», acrescenta a especialista.

Veja na página seguinte: A importância de manter uma boa hidratação

O protetor solar ideal

O dermatologista Miguel Trincheiras recomenda consultar o índice ultravioleta (UV), que varia de 0 a 10, sendo que a partir de 6 é elevado e a partir de 8 é muito alto. Poderá fazer essa consulta no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, como através de várias aplicações que poderá descarregar para o seu smartphone, pois além de informarem sobre o indíce UV, dão conselhos de proteção ajustadas às previsões do dia. A aplicação Meteo IPMA é disso um exemplo.

Na hora de comprar o protetor solar, há também alguns cuidados a seguir. «Os recém-nascidos devem usar um protetor solar com filtros exclusivamente físicos, que fazem barreira e não são absorvidos pela pele. Deverá ter também um indíce de proteção UVB elevado (50) e proteger contra os raios UVA. As crianças mais crescidas podem já usar protetores com filtros químicos (mais fáceis de espalhar na pele) ou com mistura de ambos», refere Mónica Pinto.

«Mas mantendo o elevado indíce de proteção, principalmente se tiverem a pele clara», recomenda a especialista. O dermatologista Miguel Trincheiras também aconselha a preferir os protetores compostos por filtros físicos e faz questão de frisar os seus benefícios extra. «Não só oferecem um indíce de proteção mais elevado, como são menos alergénicos para a pele das crianças», diz.

Outra característica importante que devemos procurar nos protetores solares é a sua capacidade de resistência à água. Segundo o especialista, as formas em creme são tradicionalmente mais resistentes do que as fórmulas em spray, que deverão ser reaplicadas com mais frequência ao longo do dia. Veja também como escolher um protetor solar.

A importância de manter uma boa hidratação

Manter uma boa hidratação durante a exposição solar é outro cuidado que não deve ser descurado. “A superfície corporal nas crianças é muito maior comparativamente com o seu peso, o que faz com que a perda de água tanscutânea seja muito superior. Além disso, as crianças são naturalmente mais ativas. Os pais devem estar atentos à sua atividade física, bem como à temperatura ambiente e lembrá-los de beber água, de forma regular, idealmente de hora em hora”, recomenda o dermatologista.

A pediatra Mónica Pinto alerta que a única bebida recomendada para levar para a praia é água e que tanto os sumos como os refrigerantes devem ser evitados, uma vez que podem agravar a desidratação. “Nos recém-nascidos, a água deve ser oferecida como suplemento, além do leite materno ou do biberão. Nas crianças mais crescidas, a ingestão de água deverá ser cerca de 50 a 60ml por cada quilo de peso”, indica ainda a especialista. 

Depois do sol

Após a exposição solar, a pele perde água e lípidos, ficando fragilizada e ressequida. A rehidratação é, por isso, fundamental para repor a barreira hidrolipídica. Após o duche, a pediatra Mónica Pinto aconselha a aplicar um creme hidratante (ainda com a pele húmida) para ajudar a repor o nível de água na pele. O dermatologista Miguel Trincheiras recomenda um hidratante hipoalergénico e que tenha na sua composição alguns componentes calmantes e refrescantes como menta ou canfôra.

As fórmulas after-sun também são uma boa sugestão para a pele dos mais pequenos, associando a ação hidratante e calmante. «Atualmente, já existem cremes pós-solares muito interessantes e que têm na sua composição antioxidantes e reparadores do DNA celular que, além de serem hidratantes, têm a vantagem de reparar a pele dos danos causados pelo sol», refere o especialista.

Veja na página seguinte: 7 cuidados imprescindíveis para os dias de praia 

7 cuidados imprescindíveis para os dias de praia:

1. Escolha um protetor solar adequado à pele e idade do seu filho

Lembre-se que este deverá conter um elevado fator de proteção UVB e UVA (SPF 50) e, dependendo da idade, a sua composição deverá incluir exclusivamente filtros físicos (abaixo dos dois anos) ou a mistura de filtros físicos e químicos (a partir dos dois anos).

2. Não saia de casa sem aplicar o protetor solar na pele do seu filho 

Este deverá ser sempre colocado antes de chegar à praia.

3. Vista o seu filho com roupa clara e fresca

Além desse cuidado com a roupa, também não se esqueça do chapéu e dos óculos de sol. Estes devem oferecer proteção contra os raios ultravioleta.

4. Leve sempre chapéu de sol para a praia

Esse gesto reveste-se de grande importância, de forma a assegurar sombra durante todo o dia.

5. Não se distraia e reaplique o protetor solar de hora em hora na pele do seu filho

De forma a manter uma proteção eficaz ao longo do dia, este gesto não pode ser descurado.

6. Leve água na sua lancheira de praia

Prefira a água e evite os sumos ou refrigerantes que podem aumentar a desidratação.

7. Opte por ir à praia logo de manhã

O ideal é fazê-lo entre as 8h00 e as 11h00 ou, então, apenas depois das 17h00.

Texto: Sofia Santos Cardoso