Pode parecer estranho que na sua língua materna alguém ‘não note’ a diferença tão óbvia entre mala, bala, pala, ou entre girafa, girava, giraça ou escola e estola ou ainda entre assa, acha, asa, haja, entre muitas outras que poderíamos exemplificar.

Frequentemente a primeira ideia é que ‘ouve mal’ e se após exames audiológicos o resultado é ‘ouve bem’ então mais estranho é!
Porque é que algumas, crianças, jovens e adultos não notam as diferenças nas palavras anteriores?

Um dos motivos é porque há um período óptimo para sermos expostos aos sons de determinada língua, por esse motivo após anos a residir em Portugal alguns falantes, de Português não língua materna, continuam a não produzir o ‘r’ de “caro” e ‘lh’ para esses “caro e calo”, bem como “alho e aio” são palavras iguais.

Como há esse período óptimo, por vezes o estímulo do meio ambiente ainda que bom é recebido de modo degradado, se na infância passámos ‘o tempo todo’ a ouvir como se estivéssemos ‘dentro de um túnel’, por exemplo devido a otites serosas de repetição.
Outras vezes desconhece-se o motivo. E assim, há quem ‘confesse’ que sempre que tem que escreve malha fica na dúvida se não escreveu manha, ‘pois está sempre a confundir as duas’.

E sim. A implicação é precisamente essa, se a pessoa não nota as diferenças entre os sons, codificar os sons de fala com os grafemas que os representam fica difícil. E os erros aparecem. Mas não sempre! O que pode confundir ainda mais… e achar-se «foi falta de atenção!». Depois, todos nós sabemos palavras de cor pela sua alta frequência, e essas aparecem ‘bem escritas’. Ou então, na duvida… as hipóteses nas palavras já referidas e nestas: cala, tala, rala, gala, sala, vala…fala é de 50% / 50% e assim num mesmo texto pode aparecer ‘bem escrita’ e ‘mal escrita’.

Por fim, resta saber se há solução? Sim, há.

E não passa por escrever 5 ou 50 vezes a mesma palavra; decorar também não nos parece razoável; dizer que se deve a preguiça já entra na desumanidade; pensar que a tecnologia vai resolver, também não é solução, uma vez que o corretor ortográfico não as reconhece como ‘errado’ pois são palavras que existem.

Passa sim por avaliação com um terapeuta da fala para verificar se a dificuldade reside nesta questão de discriminação auditiva. E se sim, na intervenção igualmente com um terapeuta da fala de modo a aprender de modo terapêutico os traços fonológicos descritos por Chomsky & Halle.

Jaqueline Carmona
Terapeuta da Fala, Especialista em Disfluência (Gaguez) e Linguista
PIN - Progresso Infantil
jaqueline.carmona@pin.com.pt
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