Chamam-se dislexia, disortografia, discalculia e disgrafia e são distúrbios que afetam a capacidade de aprendizagem da leitura, escrita e matemática. Pessoas com este tipo de distúrbio têm uma inteligência média ou acima da média, mas revelam dificuldades em assimilar processos como a compreensão auditiva, a fala, o raciocínio matemático, a leitura e/ou a escrita. Ainda que a dislexia seja o distúrbio mais frequente, as dificuldades de aprendizagem específicas habitualmente coexistem.

O tema é complexo, mas sabe-se que a sua origem é neurobiológica. «Foi comprovado que, a nível neurológico, a zona cerebral que potencia a leitura, a escrita e a matemática, nas pessoas com estes problemas, não é ativada quando se pretende utilizar essas competências», explica Leonor Ribeiro, técnica superior de educação especial e reabilitação e membro do corpo clínico do CADin na área de Educação Especial e Reabilitação.

Que fatores contribuem para estas perturbações?

Através da ressonância magnética funcional, é possível comprovar que as zonas cerebrais responsáveis pela leitura, escrita e cálculo não são ativadas, tornando os processos mais lentos e com maior possibilidade de erros. Não é o cérebro que é diferente, mas sim a ativação das suas áreas. Sabemos ainda que a hereditariedade é decisiva e existem situações mais raras de lesões no sistema nervoso central que podem ocorrer durante a gestação, no parto ou no período pós-parto.

Em que idade surgem os primeiros sinais?

As dificuldades de aprendizagem específicas podem estar presentes logo à nascença e podem observar-se sinais precoces como a aquisição mais tardia da linguagem. No pré-escolar, é possível observar as dificuldades na aprendizagem das letras, na consciência fonológica (nos casos de dislexia e disortografia), nas noções de quantidade (discalculia) e nos grafismos (disgrafia).

A que tipo de ajuda devem os pais recorrer?  

Numa primeira fase, os pais devem sempre recorrer ao professor ou médico de família para saber a sua opinião sobre o desenvolvimento e aprendizagem da criança, para decidir a necessidade de se realizar uma avaliação. Não são requeridos exames médicos e o diagnóstico, realizado, por norma, no segundo ano de escolaridade, implica uma bateria de testes, de várias especialidades, com base em quatro critérios.

Além da especificidade (análise das capacidades de aprendizagem, incluindo linguagem, oralidade, leitura, escrita, matemática e coordenação motora), há o da exclusão (despiste de problemas sensoriais e motores, intelectuais, emocionais ou comportamentais que interfiram na aprendizagem), o da discrepância (avaliação do potencial cognitivo) e o da adequação das condições pedagógicas (aferir se já existiram oportunidades suficientes para a aprendizagem e monitorização dos progressos do aluno). Depois, poderá ser delineado um plano de ação.

Qual o impacto a nível emocional?

As características dos alunos com dificuldades de aprendizagem específicas podem agrupar-se em três. Dificuldades de aprendizagem (dificuldades na aquisição da leitura, escrita e competências matemáticas), dificuldades cognitivas (dificuldades de atenção, perceção, processamento, competências motoras, resolução de problemas, memória, planificação e metacognição) e dificuldades socioemocionais. Neste último caso, as crianças que não são apoiadas, perante um insucesso constante, perdem a autoestima e confiança.

Veja na página seguinte: Até que ponto este é um problema frequente

É um problema frequente?

A percentagem de pessoas afetadas é de 5 e 10 por cento. Se pensarmos em termos das necessidades educativas especiais nas escolas, as dificuldades de aprendizagem específicas são as mais prevalentes, com uma incidência de 48 por cento. As pesquisas revelam que esses números são universais, não variando com a língua, o sistema alfabético ou a cultura. Existirá ainda um razoável número de casos não referenciados/diagnosticados por desconhecimento.

Em que sentido?

Por vezes, erradamente, são os profissionais que acompanham o aluno que aconselham os pais a não solicitarem a integração na educação especial, que a lei prevê, pois ao fazê-lo estarão a revelar publicamente as dificuldades dos filhos, o que pode marcá-los. Ora, o melhor para estas crianças é fazer o contrário, lutar pelos seus direitos, permitindo que tenham uma aprendizagem adequada e uma avaliação mais justa.

É urgente sensibilizar a comunidade para este problema. Outras vezes, os pais pretendem que o filho tenha um plano educativo individual e tenha apoio na escola, que não é fornecido, pois as dificuldades de aprendizagem específicas são consideradas dificuldades menores, comparativamente com deficiências intelectuais, visuais, auditivas ou motoras. A falta de um bom acompanhamento pode significar um insucesso marcante e levar ao abandono escolar.

O que devem os pais acautelar?

Garantir um ajustamento familiar, fomentar atitudes positivas em relação à aprendizagem e ajudar o filho a organizar o estudo e exigir os recursos necessários por parte da escola. Esses alunos têm direito a apoios especializados consagrados na legislação e têm direito a uma adequação da avaliação e acompanhamento individualizado, em sala de aula, de preferência por um técnico especializado. Todos os conteúdos podem ser aprendidos, ainda que a sua aquisição seja mais lenta e sejam precisas estratégias específicas para o conseguir.

Qual o grau de sucesso deste acompanhamento?

Ainda que não exista uma cura, é possível ultrapassar grande parte das dificuldades com um acompanhamento adequado. Além da melhoria nas competências de leitura, escrita e matemática, espera-se também que se aprendam estratégias para lidar com as suas dificuldades.

Por exemplo, se se dá muitos erros ortográficos, deve utilizar-se o corretor ortográfico. No caso de dificuldades na leitura, antes de uma apresentação oral, deve praticar-se muito.

O que os pais podem fazer para ajudar os filhos

Após o diagnóstico, pais e educadores têm um papel fundamental. Leonor Ribeiro, técnica superior de educação especial e reabilitação, aponta exemplos do que pode ser feito:

- Envolver a criança com o mundo que a rodeia

Pode sempre estimular-se várias áreas de aprendizagem de forma lúdica, como ler um jornal em conjunto, e em voz alta, ou ir a um museu, mostrando assim a utilidade da escrita ou da descodificação.

- Fazer jogos de palavras

Na dislexia, pode estimular-se a consciência fonológica (capacidade de compreender que a língua falada pode ser dividida em unidades mais pequenas, como é o caso das palavras, das sílabas e dos fonemas) através de jogos, como o comboio das palavras. O objetivo é identificar o som final das palavras e a reprodução de um som semelhante, e, depois, indicar uma palavra que inicie com som semelhante. Por exemplo, mesa e avestruz.

Texto: Carlos Eugénio Augusto com Leonor Ribeiro (técnica superior de Educação Especial e Reabilitação e membro do corpo clínico do CADin, Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil, na área de educação especial e reabilitação)