É perfeitamente normal ter medo de separar-se da mãe ou do pai a partir dos 6 meses, mas essa situação normalmente resolve-se quando a criança começa a ir para a escola. Ainda assim, muitos miúdos continuam a sofrer dessa ansiedade, sendo que alguns prolongam esse comportamento até muito mais tarde.

A ansiedade da separação transmite-se frequentemente nas famílias. Se a mãe ou o pai se sentiam nervosos quando saiam de casa para a escola ou experimentavam uma espécie de nostalgia do lar, não é de surpreender que o filho tenha a mesma reação.

Bebés extremamente tímidos em relação à novidade (desviando o olhar quando lhe dão um brinquedo novo, por exemplo) ou a pessoas desconhecidas são biologicamente mais propensos a experimentar a ansiedade da separação, defende Gail Saltz, psicanalista e professora de psiquiatria no New York Presbyterian Hospital.

Num artigo no US News, Saltz frisa que os pais que expressam ansiedade quando apresentam coisas novas à criança, manifestam preocupação a propósito do perigo de certos locais ou expõem os filhos a poucas novidades, potenciam as hipóteses de estes virem a sofrer de ansiedade da separação.

Outros fatores que podem agravar este comportamento são a ocorrência de um acontecimento traumático anterior ou de uma situação de stress atual na vida da criança, como o divórcio, mudanças constantes de casa ou a perda de um familiar próximo ou de um animal de estimação.

Independentemente da idade, se a criança expressa algum tipo de angústia em relação à escola, pode estar a lutar contra a ansiedade da separação (que começou ainda antes das aulas se iniciarem). Quando os miúdos são muito novos, podem nem sequer reconhecer o motivo por que se sentem ansiosos, manifestando algum tipo de regressão no comportamento. Por exemplo: mais apego do que o habitual a pessoas e objetos, reticências em brincar com outras crianças, mais birras ou expressão constante de angústia sobre algo de mal que pode acontecer-lhe a eles próprios ou aos pais.

Como ajudar?

Controle a sua própria ansiedade. Se fica nervoso com a ida de criança para a escola, se experimenta algum medo pelo facto de ela estar longe de si e teme que algo de mal lhe aconteça, acredite que isso é contagioso. Na verdade, está a fornecer “provas” de que há muito a temer. Por isso:

  1. Primeiro cure-se a si próprio. Pense nos seus medos e em como pode lidar com eles ou procure ajuda terapêutica para reduzi-los e assim deixar de os transmitir ao seu filho.
  2. Prepare a criança para as mudanças, de forma a que não lhe pareçam tão estranhas ou assustadoras. A incerteza é muitas vezes o combustível da ansiedade. Por exemplo, se mudar de casa e o seu filho tiver de frequentar uma escola nova, peça aos responsáveis que a deixem levá-lo a visitar a nova sala antes de as aulas começarem. Mostre ao seu filho onde vai estudar, explique-lhe o que vai acontecer, vejam juntos os corredores e o recreio. Se puder encontrar-se com o professor dele antes da mudança, tanto melhor.
  3. Crie um ritual de despedida para quando disser adeus ao seu filho de manhã. A rotina gera certeza e conforto. Adotem um ritual curto e terno. Despedidas longas aumentam a ansiedade. Se o for levar à escola, não prolongue o momento.
  4. Mesmo que o seu filho não tenha mudado de escola, pode estar a lutar contra a ansiedade de um novo ano letivo. Se assim for, converse com os responsáveis da escola sobre como encontrar alguém que o ajude a instalar-se na sala depois de o deixar.
  5. Costuma ajudar as crianças mais novas levarem um objeto de conforto transitório. Não deve ser o seu peluche ou cobertor, porque poderia perder-se ou ficar danificado, mas outro objeto que possa tocar ou abraçar no caso de ficar ansioso.
  6. Se o seu filho levar almoço, ponha um recado ou algo divertido na lancheira para que ele perceba que está a pensar nele e se sinta ligado a si.
  7. Certifique-se de que quem o vai buscar à escola não se atrasa… Ser deixado à porta da escola faz aumentar a sua ansiedade em relação ao regresso, no dia seguinte.
  8. Ao fim do dia, mostre-se curioso sobre o que a criança fez e torne esse momento divertido.
  9. Sempre que possível, prepare o dia seguinte com antecedência. Ajude o seu filho a ter tudo pronto, de forma a atenuar o stress da manhã. Ajude-o a escolher a roupa, a arrumar a mochila ou a escolher o almoço. Levante-se suficientemente cedo para estar pronto antes dele, assim pode ajudá-lo e sair sem pressas.
  10. Prepare-se, que a ansiedade da separação pode levar algumas semanas a ultrapassar. Não deixe que a criança fique em casa – isso pode rapidamente transformar-se num problema de recusa à escola.
  11. Se o seu filho é tão retraído que não consegue fazer amigos, participar ou falar nas aulas, pode ser necessária a intervenção de um psicólogo infantil ou psiquiatra. O tratamento pode ser extremamente eficaz, razoavelmente rápido e é muito importante, porque se a ansiedade não for tratada, podem desenvolver-se outros tipos de problemas mais debilitantes. Não o deixe levar a ansiedade para a adolescência e idade adulta.