No entanto, se gostam, provavelmente é porque precisam.

 

A sesta. Momento em que até a mais irrequieta das crianças se deixa vencer pelo cansaço e cede ao sono, durante um período de tempo mais ou menos prolongado.

 

Se ao nascer quase todo o tempo era passado a dormir – quer fosse dia ou noite – à medida que o tempo passa o bebé vai passando cada vez mais tempo acordado.

 

Quando chega aos três anos, habitualmente apenas precisa de cerca de uma hora de sesta durante a tarde para despertar revigorado e pronto para tudo.

 

Habitualmente, a grande diminuição do tempo da sesta chega em simultâneo com a entrada para o jardim-de-infância e com todas as novas experiências e brincadeiras, muitas crianças vão deixando de a fazer.

 

Por volta dos quatro anos, apenas uma minoria ainda necessita de descansar durante o dia. Mas antes dos seis anos, não é positivo impedir a sesta às crianças que visivelmente ainda necessitam dela.

 

 

Todos a cedo erguer

 

Senão vejamos: por muito cedo que deitemos os nossos filhos à noite, o facto é que o dia de muitas famílias começa bem cedo. Não é incomum que o acordar aconteça por volta das sete da manhã ou ainda antes, porque os pais têm de ir trabalhar e os irmãos têm aulas.

 

Ora levantar, tomar o pequeno-almoço e arranjar-se a contra-relógio é stressante para todos, e a crianças não são exceção.

 

Com o sono interrompido a horas matutinas, uma manhã preenchida na sala da escolinha e os efeitos soporíferos do almoço, nada mais natural que o “João Pestana” fazer uma visita ao início da tarde, quer se tenha três, quatro, cinco ou mesmo quase seis anos.

 

E aqui para nós: quantos adultos não suspiram por uma sesta depois de almoço, à boa maneira de “nuestros hermanos” espanhóis?

 

 

Descanso à medida

 

Mesmo sem défice de sono durante o dia, o facto é que todos nós temos necessidades diferentes de descanso.

 

E se há meninos mais crescidos que continuam a usufruir da sesta há outros que parecem dispensá-la bem cedo e que por volta dos três anos deixam de precisar de dormir de dia para andarem cheios de vitalidade.

 

Cabe aos adultos perceberem a que tipo pertence a criança que têm a seu cargo e agir em conformidade. Por exemplo: para quê manter uma criança na cama durante o dia se ela já dormiu a sesta que necessita, mesmo que tenham passado apenas 15 minutos?

 

Se acorda bem-disposta, pronta para a brincadeira e demais atividades e até a pedir para lanchar, a sua “mini-sesta” é a adequada.

 

Em contrapartida, uma criança não está a descansar o suficiente se não lhe permitido dormir durante o dia. Ela fica não só sonolenta como irritadiça, pouco disposta a integrar-se na sala, cansada demais até para comer e quando os pais a vão buscar adormece na viagem.

 

 

Muito mais que dormir

 

E se a criança não descansa o suficiente, provavelmente também não está a desenvolver-se em todo o seu potencial. Isto porque é unânime junto de pediatras e investigadores que o período de sono é muito mais do que descansar o corpo.

 

É nesses momentos que todos nós “recarregamos as baterias” emocionais, que sonhamos e assim processamos o que nos acontece e em que até delineamos estratégias para o futuro. Durante a sesta, mais do que dormir, a criança está a crescer.

 

Direito ao sono

 

A questão é que, em muitas instituições de pré-escolar – e até em algumas famílias – a esta é, pura e simplesmente, abolida para as crianças mais velhas. Um dos argumentos é o de que, quando iniciarem o Primeiro Ciclo, terão mesmo de deixar de dormir e é bom irem-se “habituando”.

 

O que a experiência diz é que, habitualmente, se forem deixadas ao seu ritmo, são as próprias crianças a dormirem cada vez menos tempo, até que, um belo dia, não dormem mesmo nada. Cortar repentinamente com a sesta pode mesmo ser contraproducente.

 

Outros argumentos bastante invocados baseiam-se nas opções pedagógicas e mesmo na falta de condições logísticas – entenda-se, falta de espaço – para oferecer a sesta às crianças a partir dos quatro ou cinco anos.

 

Se for o caso da escolinha que o seu filho frequenta, e se ele for dos adeptos indefetíveis do sono diurno, não se deixe convencer. Ele tem todo o direito à sesta e a ser feliz enquanto a quiser fazer.

 

 

Maria Cristina Rodrigues