É uma decisão crucial para o desenvolvimento físico, psicológico e social da criança. Cada caso é um caso e, em termos abstratos, não há uma opção melhor que outra, defende Rita Castanheira Alves, psicóloga infanto-juvenil e de aconselhamento parental. Mas há que ter em conta «as características da criança, nomeadamente, o seu desenvolvimento, eventuais problemas ou maiores dificuldades e história precoce», defende.
As variáveis desta escolha são muitas. É essencial os pais terem «um conhecimento aprofundado e confiança no adulto ou equipa com quem fica a criança, características do local, das rotinas, regras e atividades propostas», acrescenta. Contudo, seja qual for a sua decisão, o objetivo principal desta nova fase é que a criança desenvolva todas as capacidades importantes para uma boa adaptação nas aprendizagens escolares formais.
«Uma criança feliz, tranquila, com competência pessoal, social e emocional, terá uma maior probabilidade de ter sucesso académico e estar preparada para os desafios mais formais da educação», assegura a especialista, autora do projeto Psicóloga dos Miúdos, que, de seguida, desfia algumas das principais correntes de pensamento que ainda influenciam uma grande parte dos pais atuais:
- Até aos seis meses o bebé deve estar sempre com a mãe
Esta é uma das crenças mais comuns. «Existem diversas teorias e abordagens relativamente ao tema e recomendações nesse sentido que diferem entre si de acordo com os profissionais que se dedicam à área da intervenção precoce com bebés», sublinha, contudo, a especialista em aconselhamento parental.
«Nos primeiros meses de vida, é importante o bebé estar com os adultos significativos de vinculação, nomeadamente a mãe, estabelecendo um contacto físico próximo, essencial para os primeiros meses de vida do bebé, do seu desenvolvimento saudável e padrões de vinculação, além da questão da amamentação quando esta é possível» esclarece ainda Rita Castanheira Alves, psicóloga infanto-juvenil.
- A passagem para a ama, avó, ou infanário deve ser gradual
É outra das teorias defendidas. «A passagem progressiva ajuda a criança a ter um tempo de adaptação à situação estranha ou nova realidade e novos intervenientes. Facilita a adaptação ao meio, ao conhecimento do mesmo e a torná-lo um local mais familiar onde pode estar à vontade, confiar e sentir-se segura», afirma. «No entanto, é muito importante ajustar o plano de adaptação a cada criança e a cada família/realidade», diz.
«Cada caso é mesmo um caso individual e há ajustes específicos que se poderão ir fazendo. Há crianças com quem se programa fazer uma adaptação progressiva na creche e que revelam desde cedo uma vontade e capacidade de se sentirem seguras e adaptadas, pelo que às vezes pode encurtar-se ou alterar-se o plano pensado ou, noutras situações, poderá demorar mais», avisa Rita Castanheira Alves.
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- Enquanto é bebé de colo, é preferível ficar com a avó ou ama. Creche só em último caso
O pensamento de muitos pais aponta neste sentido. É difícil responder a esta questão, pois «depende da criança, da família e da creche. É preciso ter conhecimento do tipo de criança que se trata, que idade tem, como é a avó ou a ama e até a creche e o seu funcionamento. Não é em todos os casos que a avó/ama tem vantagens em relação à creche nem vice-versa», explica Rita Castanheira Alves.
- Quanto mais cedo a criança for para o infantário, melhor será a adaptação
A entrada no infantário permite à criança «adaptar-se a contextos novos, situações diferentes, desenvolver-se em relação aos outros de igual para igual e com outros adultos, que não os da família. É um contexto de grande estimulação para as crianças, a todos os níveis, fundamental para o seu desenvolvimento e preparação para o futuro», indica a psicóloga.
Apesar de cada caso ser diferente, «adiar a ida para o infantário após os 3 anos poderá dificultar a adaptação pela fase de desenvolvimento da criança mas, mais do que isso, acima de tudo, poderá as oportunidades de estimulação social, cognitiva, emocional, uma espécie de preparação para o mundo que existe lá fora, que a educação pré-escolar proporciona», acrescenta.
- No infantário as crianças tornam-se mais desenrascadas
Sim e não. As crianças, no infantário, «têm a possibilidade de desenvolver gradualmente a sua autonomia, independência, aprender a escolher e a tomar decisões, desenvolver a capacidade de resolução de problemas, atender e monitorizar as suas próprias necessidades», realça a psicóloga infanto-juvenil e terapeuta de parentalidade.
«Naturalmente que é essencial o acompanhamento dos adultos responsáveis, num jogo de ir deixando experimentar, resolver e ir fornecendo orientações, ajudas, incentivos, para aumentar a autoconfiança da criança, a criatividade e a proatividade», aponta, contudo, Rita Castanheira Alves, habituada a lidar com o problema na sua atividade profissional.
- No infantário as crianças estão mais expostas à cruedade dos outros meninos
São situações inevitáveis em que os pais perdem um pouco o controlo da situação. No entanto, Rita Castanheira Alves sugere que os pais se foquem «na construção da autonomia, autoestima e independência da criança, ensinando-a, através do exemplo e do bom padrão relacional em casa e na rede social e familiar mais alargada, a saber construir laços afetivos e ligações positivas»
«A entender o que é positivo e bom em termos sociais e a saber defender-se», aponta. «Fale com a criança sobre o seu dia a dia, «de forma natural, escutando-a, ajudando-a a chegar a soluções, brincando ao faz-de-conta, simulando situações sociais para que consiga saber escolher e lidar com a crueldade ou outras situações que vão acontecendo pela vida fora», aconselha a psicóloga clínica.
Veja na página seguinte: A (alegada) falta de estímulo dos avós
- Com a avó, a criança não é tão estimulada para a aprendizagem, desenvolvimento e autonomia
Nem sempre é assim. «Há avós muito sensíveis e verdadeiros educadores que estimulam a criança adequadamente. O mais importante é que a criança possa ser exposta gradualmente a contextos diversos e sociais, para conseguir tornar-se mais competente socialmente e que as fases seguintes sejam menos conturbadas», refere a especialista.
«Os avós, a existirem e de forma positiva, são excelentes influências na vida da criança», afirma mesmo Rita Castanheira Alves. «No entanto, a partir dos 2 anos, a criança começa com frequência, a manifestar alguma curiosidade por outras crianças, logo pode tornar-se importante começar a ter contacto com elas de forma mais formal e rotineira», acrescenta.
- No infantário os mais pequenos estão expostos a mais doenças
É verdade. Há até «quem lhe chame infectário, mas as crianças não poderão ficar, nem ficarão, para sempre em casa ou numa bolha protegidas do mundo lá fora», explica Rita Castanheira Alves.
- Em casa dos avós a criança fica demasiado mimada
Neste caso, o mais importante é que «os adultos intervenientes comuniquem e tentem, dentro do possível, procurar consistência nas práticas», encontrando uma «comunicação que proporcione ambientes estáveis, saudáveis, construtivos e organizadores do ponto de vista do desenvolvimento da criança», indica Rita Castanheira Alves.
Evite que haja «regras excessivamente diferentes ou que se anulem umas às outras e desautorização», defende. «Principalmente à frente da criança», recomenda ainda a especialista. Uma realidade que, no entanto, acaba por se manifestar muitas vezes, com avós a desautorizar os pais, para gáudio dos mais pequenos.
- As amas não são profissionais
Algumas têm muita experiência mas nem todas a terão. «Como em qualquer decisão na escolha de onde e com quem deixar a criança, é fundamental encontrar pontos e aspetos que, em conjunto, justifiquem a escolha de uma ama em detrimento de outras possibilidades», defende Rita Castanheira Alves. «Deve ponderar e pesar os prós e contras», esclarece, contudo, a psicóloga clínica.
A escolha deve, por isso, ser ponderada ao pormenor. Tenha em conta «o contexto da situação, o perfil da ama, o tipo de rotinas que pratica, a alimentação que dá ao seu filho, as condições da casa, as atividades proporcionadas e a eventual formação ou experiência da mesma», aconselha, em jeito de aviso, a especialista.
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