Quando planeamos construir uma casa nunca começamos pelo telhado. A primeira tarefa, além de um bom planeamento, é criar bons alicerces para que estes possam ativamente sustentar a casa, face às mais diversas intempéries. Quanto mais resistentes e profundos forem estes pilares, mais forte será a construção final que se pretende alcançar.
Ao transpormos este exemplo para a nutrição e a importância que a mesma tem nos primeiros 1000 dias de vida, percebe-se que os seus efeitos impactarão a curto mas, também a médio longo prazo a saúde do bebé, programando assim o seu desenvolvimento imunitário, metabólico e microbiológico.
De facto, os efeitos da nutrição são mais abrangentes do que simplesmente um efeito sobre o risco de obesidade. A alimentação dos lactentes influencia o seu crescimento e desenvolvimento, mas também a incidência de doenças respiratórias, gastrintestinais e alérgicas, tanto na primeira infância, como na juventude e na idade adulta.
De modo geral, uma nutrição adequada é resultante de um equilíbrio entre a energia ingerida versus a energia gasta nas nossas atividades. No caso do bebé, esta questão contabilística da energia não se coloca da mesma forma como num adulto. O balanço energético para um bebé, ou criança de pouca idade, tem de ser positivo (consumir mais energia do que a que gasta na atividade diária) de modo a garantir a energia e os nutrientes necessários à formação de novos tecidos e consequentemente garantir um crescimento saudável.
Podemos afirmar de facto que, o aleitamento materno em exclusivo é um objetivo desejável neste início de vida com benefícios inigualáveis para todo o bebé. No entanto, tal como não construímos uma casa apenas com tijolos, ou com cimento, também nem só de leite vive o bebé. A partir de um dado momento o leite materno só por si não consegue fazer face às elevadas necessidades energéticas deste intensivo período de crescimento. Este momento não é rígido para todos os bebés, sendo consensual pelas diversas entidades científicas que aconteça normalmente entre o final do 4º e o 6º mês de idade.
Mas por que diversificamos a alimentação do bebé? Se não a diversificássemos, e pretendêssemos satisfazer as suas elevadas necessidades energéticas só com leite, seria necessário tal volume de leite que seria incomportável para a sua pequena barriguinha. A capacidade gástrica de um bebé nada tem a ver com a capacidade de um adulto. No inicio da vida, e diríamos que durante o primeiro ano de idade o bebés necessita acima de tudo de pequenos volumes com elevada densidade nutricional. Os bebés não são mini-adultos!
Porque que se diversifica? Por razões de Desenvolvimento (conhecer novos alimentos, usar colher, engolir…), por questões Nutricionais (satisfazer as crescentes necessidades que vão surgindo) e também por razões Sociais e familiares.
Não existem regras rígidas, nem tão pouco verdades absolutas sobre esta temática. Sabe-se que esta janela de oportunidade existe e é o momento ideal para o fazer.
Qual o primeiro alimento? A sopa? …Ou a papa? Ambos os alimentos são fundamentais durante este período e independentemente da ordem pela qual se começa serão alimentos que se complementam. A sopa será uma forma de testar novos sabores que são necessários treinar, além de que será necessário adicionar uma fonte proteica e uma fonte de gordura.
Os cereais devidamente transformados, vulgarmente conhecidos por papas infantis, são essenciais na alimentação do bebé, uma vez que compensam a energia que no leite já não é suficiente, sendo corretamente adequados. Os cereais contêm nutrientes importantes, tais como hidratos de carbono, fibras, lípidos, proteínas, ácidos gordos essenciais, minerais (essencialmente ferro) e vitaminas do complexo B, proporcionando uma ótima saciedade.
As papas infantis têm ainda a grande vantagem de serem uma forma extremamente suave de fazer a transição entre uma alimentação rica em gordura (adequada aos lactentes e durante os primeiros meses de vida) e uma alimentação rica em hidratos de carbono (adequada a crianças mais velhas, a adultos e a idosos). A transição gordura-hidratos de carbono como principal fornecedor de energia – tem de ser feita, o que faz com que as papas sejam muito importantes na alimentação do bebé. Além disso são também úteis para introduzir o glúten, proteína que existe em alguns cereais, na alimentação do bebé.
E depois o que se segue? Depois vem a carne, em pequenas quantidades, cerca de 10-20 g ao dia, fundamental para fornecer ferro heme (muito mais facilmente absorvido), uma vez que por volta dos 6 meses já se faz sentir a sua falta. Pode também por esta altura introduzir-se a fruta fornecedora de minerais e vitaminas. Todos os frutos podem ser introduzidos com calma, sem pressa começando inicialmente pelos de textura mais mole e alterando progressivamente. No início é preferível não misturar os frutos para que o bebé aprenda a conhecer os sabores de cada fruta isolada e não apenas uma mistura de frutas.
Segue-se, por volta dos 7-8-9 meses de idade a introdução de outros alimentos e novas texturas para promover a mastigação e todo o processo de aprendizagem. O peixe que é uma ótima fonte de ácidos gordos, indispensáveis para um bom desenvolvimento cerebral e da visão; os alimentos lácteos, tais como o iogurte, são também uma excelente fonte de cálcio favorecendo todo o processo de mineralização óssea. Estes alimentos são muito importantes e devem fazer parte integrante de uma alimentação variada e saudável.
Dos 9 aos 12 meses, introduz-se lentamente outros alimentos. É o momento de introduzir o ovo, que é igualmente uma excelente proteína de alto valor biológico; as leguminosas secas tais como ervilhas, feijão, grão etc., são ótimas fontes de proteína vegetal, fibra e minerais.
É fundamental que os pratos oferecidos ao bebé sejam variados e que contemplem todos os grupos da roda dos alimentos. Quanto mais coloridas forem as refeições do bebé mais equilibrada e variada será a sua alimentação. Contudo, não bastará construir corretamente uma casa, é muito importante mantê-la saudável ao longo do tempo. O papel de todos os educadores é cultivar hábitos saudáveis o mais precocemente possível, ou seja durante os primeiros 1000 dias de vida, para que estes se perpetuem ao longo da vida, promovendo saúde.
Lembre-se que alimentar é muito mais do que apenas comida. Alimentar corretamente é uma forma de promoção de saúde.
Nota: A ordem e a sequência de introdução dos alimentos é apenas uma orientação, que não dispensa de forma alguma a orientação do profissional de saúde que acompanha o bebé.
Elaborado por Helena Canário - Nutricionista
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