Sabe aquela tia que está sempre a avisar que adormecer o bebé ao colo vai implicar uma fatura pesada? Ponha-a a ler este artigo. Quando os bebés são deitados no berço, adormecidos, e logo acordam a chorar, não estão a fazer uma birra por terem sido privados do colo da mãe, diz Rafaela López, consultora familiar e fundadora do fórum Dormir Sin Llorar, num artigo no jornal espanhol La Razon, explicando que essa criança talvez esteja a debater-se com a chamada “síndrome do berço com espinhos”.
O que quer isto dizer? Que o bebé estar a tentar desesperadamente dormir sozinho, sem resultado.
Poucos recém-nascidos correspondem ao modelo exemplar descrito pelos manuais de pediatria. Apague por isso as imagens cor-de-rosa da criança que termina de mamar, é colocada o berço e adormece como um anjo.
A maioria dos mamíferos recém-nascidos dorme mais facilmente em contacto com a mãe. E apesar de muitos guias sobre bebés defenderem que, se o bebé dorme sozinho no útero, não há porque não o fazer quando nasce, a realidade é outra. “No útero, o bebé não está sozinho. Encontra-se ligado à mãe e sente-a de forma constante: através da voz, da respiração, dos batimentos cardíacos”, explica Rafaela López.
A especialista recorda ainda que, quando grávida, a mãe movimenta-se: caminha, sobe e desce escadas, desempenha tarefas. Tudo isso durante os nove meses de gestação. Os bebés que mais reclamam a proximidade da mãe são precisamente os que não apagaram essas memórias de movimento e contato permanente. “E essa tentativa de reproduzir a sensação da vida intrauterina nada tem em comum com um berço frio, silencioso e estático”, reclama López.
A comunidade científica tem provas de que este contato entre a mãe e o recém-nascido é determinante para a sua formação. A privação emocional é geradora de ansiedade e foi identificada em inúmeras crianças que viveram em instituições, sem família – “esses, sim, são bebés que infelizmente não tiveram ninguém que os embalasse e aprenderam a dormir sozinhos desde o primeiro dia.”
A especialista fala ainda da importância de não fazer deste assunto um cavalo de batalha. “Um recém-nascido que adormece nos braços da mãe enquanto come e esta acorda-o de propósito porque o médico diz que ele tem de dormir no berço, pode transformar-se numa criança nervosa, e sempre alerta. Não condenamos quem deixa o bebé no berço depois de mamar, tentando que ele adormeça sozinho. Podem fazê-lo e, se funcionar, ótimo!” E se não der resultado “a mensagem para as mães é esta: está tudo bem. Não está a fazer nada de mal”.
O artigo do La Razon refere ainda um estudo da Dormir Sin Llorar sobre a forma como os bebés entre os 0 e os 3 meses adormecem. Nessa pesquisa, percebe-se que 81% adormece com a ajuda dos pais, sendo que apenas 6% é capaz de o fazer sozinho. Conclusão: “A maioria dos bebés adormece ao colo, enquanto mama, bebe o biberão ou está perto dos pais. Forçar a criança a abdicar este contacto pode gerar stresse e frustração”.
Diz López que basta olhar em volta para perceber que esta é uma questão biológica. “Será que toda a humanidade está errada? Em todo o mundo vemos bebés a dormirem às costas das mães, embalados pelo movimento, delas, enquanto trabalham; crianças colocadas em redes de balanço, na Amazónia, ou em berços suspensos no teto, em casas rurais na Argélia. É porque estão mal acostumados? Não me parece.”
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