Passei por duas gravidezes daquelas que se vêem à distância. Tive duas vezes uma barriga que chegava a todo o lado minutos antes do resto de mim (estou, obviamente, a exagerar!). Tive, por diversas vezes, mãos alheias em cima da minha barriga. E as minhas reacções foram sempre iguais: fugir, proteger-me e proteger os bebés que a barriga albergava.

Durante as minhas gravidezes, a minha barriga é das pessoas que estão envolvidas (ainda que remotamente) no processo e que fazem parte da minha vida: do pai, dos avós, dos tios e padrinhos e das minhas amigas. Não é das vizinhas, nem das senhoras do supermercado, nem de mais ninguém. E, sobretudo, não é de pessoas que não conheço de lado nenhum, ou seja, na minha barriga e, portanto, nos meus filhos, tocam as pessoas que me são próximas.

O facto de as barrigas alheias serem grandes, imponentes, espaçosas, não dá a ninguém o direito de tocar, apalpar, sentir, dar pancadinhas para obrigar o bebé a mexer. São propriedade privada, não são território nacional. Porque, agarrada àquela barriga volumosa, está uma mulher que tem direito à sua privacidade, à sua individualidade, ao seu espaço. E não há muitas coisas que incomodem tanto como ter gente desconhecida, estranha, a invadir o nosso espaço, a tocar sem autorização o habitáculo que protege e acalenta aquela pessoa que nos cresce nas entranhas.

Mãos desconhecidas a afagar a minha barriga sempre me fizeram sentir violada, impedida de usufruir, sozinha, do meu espaço pessoal. Acredito que os filhos, quando nascem, deixam de ser nossos e passam a ser do mundo. Mas enquanto estão alojados na barriga são da mãe e das pessoas a quem a mãe concede livre-trânsito para tocar naquele que é o seu bem mais precioso.

Por isso, a bem da vossa integridade física, evitem invadir propriedade alheia. É que há mães que são verdadeiras leoas e se há fera que vocês não querem enfrentar é uma leoa enfurecida a defender a sua cria.

 

Lénia Rufino

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