Formada em Enfermagem,
Terapia e Educação
Sexual, estreou-se
na rádio, na década de
80, com o programa
«Sunday Night Sex Show».

Em 1996, o canal canadiano
WTN Network
convidou-a para um
programa nacional,
um dos mais vistos de
sempre. Em 2002, a estação
Oxygen comprou
as sete edições do seu
programa e convidou-a
para fazer um programa
em directo nos
Estados Unidos, «Talk
Sex with Sue Johanson»,
actualmente transmitido
em mais de 20
países, incluindo Portugal, onde chegou rebaptizado de «Conselhos de Sue», na SIC Mulher.

Escreveu três
livros: «Talk sex», «Sex is
perfectly natural, but
not naturally perfect»
e «Sex, sex and more sex»
(Penguin Books). Em
2001, foi condecorada
pela Ordem do Canadá.
Tem 79 anos.

Como se pode melhorar a educação sexual da população em geral?

Mantendo a contracepção, nomeadamente os preservativos, acessível a
todos; distribuindo panfletos, fazendo campanhas na televisão, rádio e
jornais sobre gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e brinquedos
sexuais, colocando informação em todo o lado para que o sexo
deixe de ser encarado como um grande e obscuro segredo.

Em que idade deve começar a educação sexual?

Muito cedo. Quando as crianças são ainda muito pequenas e brincam pela
primeira vez com os seus genitais, a forma como nós adultos reagimos é
a primeira lição em educação sexual.

Mais tarde, quando a filha pergunta porque é que o pai tem um pénis e a mãe não?, a resposta deve ser
aberta, transmitindo a ideia de que não faz mal falar sobre o assunto e que
ela pode colocar todas as questões aos pais.

E em que idade devem os pais aconselhar o uso do preservativo?


Eu começaria por explicar o que é um preservativo aos oito ou nove
anos. Depois, por volta dos 13/14 anos, diria algo como filho, vou deixar alguns
preservativos em cima da cómoda. Leva alguns contigo porque não
queremos que tenhas uma doença, nem uma gravidez não desejada.

Como é que os pais sabem que é a altura certa para abordar o assunto?

Quando desconfiam que os filhos têm um namorado ou uma namorada.
Se o filho comentar, por exemplo, que o amigo vai sair com a namorada é
a altura certa para lhe perguntar há quanto tempo andam juntos? Achas
que eles se vão beijar? Achas que eles vão fazer sexo? Já falaste com eles,
será que eles usam preservativo?. E aproveite esse momento para falar
sobre o assunto.

A educação sexual deve ser diferente entre rapazes e raparigas?


Não. Devem estar juntos na sala de aula por que eu quero que os rapazes
saibam tudo sobre as raparigas e quero que as raparigas saibam tudo
sobre os rapazes. Não quero segredos, nem que eles pensem que
existem temas sobre os quais não podem falar por serem demasiado
constrangedores.

Qual foi a reacção do público ao seu programa
de televisão?

Comecei por aparecer na televisão canadiana e
o programa foi bem aceite. Embora falasse de
forma explícita, aquilo que dizia estava correcto
e era informação que interessava aos telespectadores.

Quando o programa passou a ser exibido
nos Estados Unidos foi muito interessante, porque
pensámos que poderíamos ter problemas.
Nessa altura, não existia educação sexual nas
escolas norte-americanas e, quando o programa
foi para o ar, os americanos aceitaram-no
muito bem e tornou-se muito popular.


Veja na página seguinte: A diferença entre o que homens e mulheres perguntam

Notou alguma evolução no tipo de questões
colocadas pelos telespectadores ao longo
dos anos?

Sim. As questões deixaram de ser tão básicas,
tornaram-se mais complexas e pormenorizadas.

Também deixaram de usar expressões em
calão e passaram a usar os termos próprios, um
sinal de que estavam a apanhar a mensagem.

Existiam diferenças entre as dúvidas colocadas
pelos homens e pelas mulheres?

Sim. As mulheres estavam mais preocupadas
com o prazer e a satisfação sexual. Como
atingir o orgasmo? Porque é que as mulheres
demoram mais tempo a ficar excitadas?

Os
homens estavam mais interessados na performance. Como ser um bom amante? Como
fazer com que ela atinja o orgasmo imediatamente?
Como tornar o meu pénis maior?
Como ter uma nova erecção imediatamente a
seguir à ejaculação?

No seu programa também analisava os brinquedos
sexuais. Que objectos recomendaria
a qualquer casal?

O fukuoku, um vibrador de dedo que pode ser
usado pelos dois parceiros; the worm (a lagarta)
fabricado na Alemanha, é utilizado pelas
mulheres na estimulação clitoriana e vaginal;
e the head honcho, uma ferramenta de masturbação
para os homens.

Se os dois elementos do
casal se sentirem à vontade consigo próprios e
com o seu parceiro, um vibrador, pequeno e
silencioso, é formidável. Mas se o homem se
sentir ameaçado e achar que a parceira prefere
o brinquedo, não vai resultar.

Existem casais que se amam mas que sexualmente
não funcionam?

Sim. Um dos parceiros pode ter sido abusado
na infância e, portanto, pode nunca conseguir
gostar de uma relação sexual plena. Ou pode
apenas não estar interessado em sexo, porque o
educaram dizendo que o sexo é uma coisa suja,
que serve apenas para fazer bebés e nunca lhe
disseram que também serve para ter prazer ou
melhorar o relacionamento.

O que sugeria a estes casais?

Sugeria que procurassem um bom terapeuta
sexual, tanto o que quer ter sexo, como o que
não quer. Ambos precisam de aconselhamento.

O orgasmo é a parte mais importante da relação
sexual?

Não. As mulheres não vão atingir o orgasmo
sempre que fizerem sexo. O prazer, o estarem
juntos, próximos, íntimos, a sensação de pertencerem
um ao outro, de se amarem, para
mim é, de longe, muito mais importante do
que a ejaculação e o orgasmo.

O que aconselharia a alguém que nunca atingiu
o orgasmo?

Aprenda a masturbar-se. É tão simples quanto
isto! Aprenda a dar prazer a si própria.

O que é preciso para ter uma vida sexual
feliz?

Ser honesto com o seu parceiro, para poder comunicar e falar sobre aquilo que gosta. Em
primeiro lugar, você tem de saber do que gosta,
o que significa que tem de aprender a masturbar-se, a sentir prazer sozinha. Depois de
descobrir o que funciona para si, deve partilhar
essa informação com o seu parceiro.


Veja na página seguinte: A menopausa deve ser assim tão temida?

Uma das fases mais temidas pelo sexo feminino,
nomeadamente a nível sexual, é a
menopausa. É ou não verdade que, nesta
etapa, ocorre o declínio do desejo?

Após a menopausa nós, mulheres, produzimos
menos estrogénio e progesterona e o desejo
que nos estimula a fazer sexo diminui um
pouco. A necessidade de tocar, abraçar, mimar
e beijar mantém-se inalterada, mas não necessariamente
o desejo de ter relações sexuais.

Porquê?

À medida que envelhecemos, geralmente, os
nossos parceiros sexuais também envelhecem
e ficam menos interessados em sexo. Além disso,
podem passar por algum tipo de disfunção
sexual. E, portanto, o casal pode continuar a
trocar mimos, abraços, beijos.

Mas pode acontecer o casal querer aumentar
o desejo sexual na menopausa. Nesse caso,
o que recomenda?

Nesse caso, o objectivo não é necessariamente
ter sexo ou atingir o orgasmo, mas sim sentirem
prazer. Por isso proponho que se divirtam.
Porque não experimentarem algo novo,
algo diferente?

Por exemplo, fazer sexo na sala
de estar; em cima da máquina de lavar; fantasiarem-se de enfermeira ou de bombeiro, usar
diferentes brinquedos sexuais ou vendar o parceiro
e provocá-lo com plumas.

Os mais velhos podem ser sexualmente tão
activos como os mais novos?

Não. Quando as pessoas são novas são insaciáveis,
o sexo nunca é suficiente. Quando ficam
mais velhas não precisam de atingir o orgasmo
para ter bom sexo.

Quer deixar uma última mensagem aos nossos
leitores?

O meu lema é pensem antes de fazer, nunca
deixem o sexo acontecer por acaso e pratiquem
sempre sexo seguro.

Texto: Vanda Oliveira
Foto: David Leyes