Nasceu dois meses antes do 25 de Abril de 1974. Onde? 
Em Lisboa e sou filho único.

Quando era pequenino já fazia palhaçadas?
Sim era muito “reguila”.

O que respondia quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande?
Houve um tempo que dizia que queria ser “mergulhador”, a mesma profissão que o meu pai tinha. Como era algo invulgar, queria ser diferente dos meus colegas que queriam profissões mais “normais”.

O seu primeiro trabalho foi como jornalista do programa “Acontece”, da RTP2, em 1995. Como é que surge este projeto na sua vida?
Surge porque o Carlos Pinto Coelho foi meu professor num curso de apresentação que frequentei na ETIC. No final do ano o Carlos fez-me o convite e fui estagiar no programa.

Em 1999 encontra finalmente o seu registo no “Curto-Circuito”, ainda no CNL. Este programa era a sua cara?
Era a minha cara e a da Rita Mendes e um pouco mais tarde do Fernando Alvim. O programa permitia que os anfitriões explorassem várias facetas. No meu caso explorei o improviso e a comédia.

Depois de três anos à frente do “Curto-Circuito” seguem-se outros três a apresentar o “Cabaret da Coxa”, entre 2002 e 2005. A irreverência está-lhe no sangue?
Sim. Digamos que com o tempo fui-me “desamarrando” de alguns convencionalismos. E não consigo (nem quero) ser um apresentador certinho... O público para o qual me vocaciono não tem paciência para apresentadores “armados” em apresentadores.

É um verdadeiro artista: canta, fez sete filmes, duas peças de teatro, dobragens e até escreveu um livro, “A minha vida é um cabaret”. O que lhe dá mais prazer?
Justamente a capacidade de fazer muitas coisas. Costumo dizer que posso não ser excelente em nada, mas procuro ser bom em tudo o que faço. Nem sempre consigo, mas sei que hoje sou um tipo mais versátil e mais capacitado do que era há 10 anos.

Há um ano estreou o talk show “A Última Ceia”, na SIC Radical. Gosta de revelar novos talentos?
A “Última Ceia” não tinha apenas essa pretensão de revelar novos talentos. Era um talk show com uma estrutura convencional. Entrevistados conhecidos e/ou interessantes e bandas que achávamos enquadrar-se no perfil do programa. Algumas delas não eram muito conhecidas.

Gosta de fazer tudo a brincar?
Não. Mas não levo muito a sério aquilo que faço profissionalmente na perspectiva de que não é importante. Apenas faço entretenimento. Não sou uma pessoa importante. Mesmo quando faço sátira ou critica social através do humor... não é mais do que isso: entretenimento.  

Ser pai do André, de 4 anos, e do Rafael, de 6 meses, é o papel mais sério da sua vida?
Indiscutivelmente.

O André já percebe qual é o trabalho do pai? 
O André percebe que o pai faz palhaçadas na televisão e às vezes faz de conta que é outra pessoa, com outro nome, outra namorada...

É um pai atento e disciplinador? O que mais deseja para os seus filhos?
Em consciência sou um pai que cumpre essas duas qualidades. O que mais desejo é que tenham oportunidades de se realizar pessoal e profissionalmente, eu e a mãe cá estaremos para lhes dar as melhores condições para isso.

Qual o melhor programa para fazer com as crianças?
Um em que eles acabem o dia na cama com um sorriso na cara e com histórias para partilhar na escola.

Divertiu-se a valer no “Último a Sair”?
Não só me diverti como foi um dos projetos que mais gozo me deu. Pelo risco, pela dose de improviso, pelos meus colegas, pelo impacto que teve...

O melhor do seu trabalho é o faz de conta?
Sim. O dia em que perder essa capacidade, que temos em abundância quando somos crianças, deixo de fazer televisão e perco a piada que me acham.

Qual foi o momento mais alto da sua carreira?
Acho que estou a atravessar uma fase muito boa neste momento. Sinto que há muitas pessoas que admiram o meu trabalho e mesmo aqueles que não gostam, creio que reconhecem que aquilo que consegui até agora foi por mérito e trabalho. Já são 15 anos...

Está preocupado com a situação política do país?
Como qualquer pessoa que tenha filhos, responsabilidades e seja cumpridor dos seus deveres.

Qual é o melhor remédio para o stress?
Eu tenho o meu. Pratico desportos de combate e descarrego num saco de boxe. Mas eu acho que o “truque” é mesmo levarmos a vida com mais leveza e não perdermos a capacidade de nos rirmos de nós próprios e dos contratempos da vida.

O que o faz rir?
Felizmente mais coisas do que o que me faz chorar.

O que o motiva?
O que me motiva a trabalhar, para além de ganhar o dinheirinho para ter uma vida desafogada para mim e para os meus, é o prazer de saber que estou a proporcionar sorrisos a outras pessoas.

Um momento inesquecível?
Uma resposta previsível mas incontornável: o nascimento do meu primeiro filho.

É feliz?
A vida só faz sentido com uma certa dose de infelicidade. Não gosto de responder que sou feliz. Valorizo muito os meus momentos de melancolia e de pré-depressão. Até para valorizar as ocasiões em que estou mesmo muito feliz. Pessoas que passam o dia a rir não são interessantes e acho que têm problemas.

 

(Texto: Palmira Correia)