Foram imensas as pessoas que estiveram esta sexta-feira, dia 2, no Auditório dos Oceanos, em Lisboa, para assistirem à estreia de 'Raul', uma peça que homenageia o trabalho do ator que partiu em 2009.

Telmo Ramanho, admirador e ex-aluno de Solnado, foi quem decidiu levar a palco esta homenagem, que foi vista por várias figuras públicas e familiares do ator.

Entre as caras conhecidas que estiveram presentes destaca-se a neta de Raul Solnado, Joana, que também é uma atriz conhecida do público.

"Esta homenagem é muito especial porque é um ator, ex-aluno, que se inspirou, como ele chama, no mestre para ser ator. Diz que só é ator por causa do Raul e quis reunir textos do Raul para fazer uma homenagem em monólogo, em cima de um palco. Acho que ele tem muita coragem para fazer aquilo que está a fazer. É preciso ter uma paixão e um sentido de responsabilidade muito grande para fazer este projeto. E foi ideia do Telmo, ninguém lhe propôs. Nós estamos aqui para apoiar esta coragem", explica Joana Solnado.

Para a atriz, o avô continua a ser uma inspiração. "A permanência do meu avô, ou dos ensinamentos dele, permanecem em mim até eu morrer. Enquanto eu me lembrar das coisas que nós vivemos juntos, da maravilha que vivemos, da cumplicidade, da educação fantástica e cultural que eu tive, o privilégio que eu tive de ouvir as conversas que ouvi, as peças que vi, ler as coisas que li, só tenho a agradecer", acrescenta.

As maiores características que guarda do avô não se contam pelos dedos. "É muito difícil escolher três ou quatro. Estaria sempre a diminuir aquilo que poderia dizer. Portanto, ou digo mil ou não digo nenhuma".

Por sua vez, Amélia Videira, que fez com Raul a série que ainda hoje passa na RTP Memória, 'Lá em Casa Tudo Bem', lembra-se "do carinho com que o ator tratava as pessoas".

Não deixa de reconhecer que é importante as pessoas serem lembradas, no entanto, afirma que os tributos "devem ser feitos em vida". "Eu acho que as homenagens e o reconhecimento deve ser feito em vida. Então é preciso esperar que as pessoas morram para reconhecer o talento? Será que em vida o nosso talento não é reconhecido? Por exemplo, o musical da Simone [de Oliveira], é lindo, que bom. A Simone pode usufruir aquele prazer de ver o seu trabalho a ser reconhecido, de ser acarinhada. Acho que é assim que tem de ser. Mas também é bom que nunca nos esqueçamos, sobretudo quando se trata de pessoas que pela sua postura, pelos seus ideais, pela sua correção conquistaram um espaço positivo, importante. Há que preservar essa memória. O Raul era, em muitas vertentes, uma pessoa muito competente, humanamente competente e artisticamente", refere.

Também António Machado quis estar presente na homenagem a Raul Solnado, de quem tem "recordações profissionais muito grandes". "Infelizmente não trabalhei com ele, mas tive com ele em muitos programas de televisão e de rádio, e ficava muito contente que ele sabia o meu nome. É um contador de histórias fantástico. É uma referência enorme", salienta.

João Paulo Sousa foi outra das caras conhecidas que não faltaram ao espetáculo que recordou um dos grandes artistas portugueses. "A maior memória, maior legado que ele deixa são todas as coisas que fez no humor, na televisão, no teatro e quantas portas ele desbloqueou na altura em que era difícil fazer esse tipo de coisas, e a influência que ele deixou para todos os que vieram a seguir", disse, referindo que "é muito importante não esquecer de onde é que todos viemos e porque é que estamos aqui hoje".

Maria Rueff, que teve o "privilégio" de se cruzar com o artista e muitos outros "grandes comediantes", lembrou Raul Solnado como um ser "carinhoso e meigo". "Disse-me para eu não desistir, que uma mulher na comédia é muito difícil, mas que ele de certeza que me iria acarinhar sempre e sinto isso. Ainda por cima sinto que é o primeiro tímido e eu tenho também muito dessa timidez. Muitas vezes inspiro-me na timidez dele. Obviamente que lhe devemos muito. Ele abriu as portas. Todas as homenagens são poucas", acrescenta.

Em relação à homenagem, Maria reconhece que foi um gesto "muito carinhoso". "Eu faria o mesmo, por exemplo, ao Herman. Quase todas estas coisas são feitas pelo coração. Isto é uma frase do Nicolau, ele dizia: 'O cómico é o ator que fica no coração do povo' e é de facto verdade. O riso é o que nos alivia a carga da vida. E, sobretudo, estas pessoas são todas elas muito bem formadas, cheias de valores. Os cómicos sabem os defeitos, o que é mau, é com isso que brincam e gozam. Gostam muito de apoiar os novos. Eu sou um caso desses, de uma pessoa que foi apoiadíssima", continua.

Quem também não faltou à estreia do espetáculo e recordou com carinho Raul Solnado foi Herman José, que começou por falar da peça que fez com o colega e amigo quando tinha 23 anos, 'Felizarda e Companhia, Modas e Confecções'. "Ele deixou-me fazer todos os disparates que me passavam pela cabeça. Foram as duas grandes surpresas que eu apanhei na minha carreira, foi ele e o Nicolau, no sentido em que eram profundamente generosos com os colegas", assegura.

Para o humorista, "o desapego" de Raul pelo dinheiro foi o que mais lhe marcou. "Não tinha respeito nenhum pelo dinheiro. O dinheiro era para o servir, num dia tinha imenso, no outro estava completamente falido. Aquele teatro que ele fez, o Villaret, foi uma coisa de malucos. Deve ter sido o teatro mais caro do mundo. Toda a gente deve ter roubado dinheiro naquela obra. Mas fez-se e está lá, está a funcionar", remata.