Neste momento integra o elenco de "Rebelde Way" com a personagem Anna Pereira, uma muçulmana. Como se preparou para esta personagem?
Esta é uma personagem muito diferente de todas as outras. Além de ser uma mulher tradicional e, por isso, seguidora de muitos dos seus costumes e crenças, é também uma adepta da sua família, mãe protectora e lutando sempre pelos seus valores.
Por ser muçulmana, quis trabalhar de forma muito próxima o seu aspecto, atitudes e até usar algumas palavras em árabe, embora tenha sido necessário aligeirar todos estes aspectos, porque ela está radicada na Europa. É, também, uma mulher actualizada, naturalmente.
Fiz várias pesquisas, li algumas coisas sobre o Islamismo e conversei com muçulmanos residentes em Portugal para poder construir uma personagem que não tivesse demasiado peso na história, mas que marcasse, de algum modo, as suas origens.
Recentemente fez uma participação no filme "O Meu Pai", de Joaquim Leitão, que é uma história de amor entre pais e filhos e uma crítica social...
Foi uma experiência muito estimulante. O cinema obriga-nos a um cuidado maior no tratamento das cenas, com mais pormenor e, sendo o ritmo mais tranquilo, permite-nos fazer um trabalho com muita dedicação. A história é fantástica, muito actual e humana, e onde um tema tão batido como o futebol é abordado de uma forma especial, pondo em relevo outros problemas que surgem, todos os dias, em todas as famílias. As relações, o dinheiro ou a falta dele, os problemas rácicos, os ghetos...Tem dois filhos. Gostaria que algum deles seguisse um percurso profissional artístico?
Gostaria, sobretudo, que conseguissem ter trabalho na área que escolheram. O que, hoje em dia, começa a ser raro... Gostaria, também, que tentassem fazer o melhor das suas carreiras, não se contentando com a mediocridade. Não exerço qualquer influência no sentido de escolherem algumas das áreas onde eu própria me mexo, porque considero imprescindível gostar-se daquilo que se faz. Afinal, a partir dos 20 e tal anos, acordamos todos os dias para dedicarmos quase todas as horas a uma profissão. Portanto, que seja a que nos dá maior prazer!É uma mulher de sete ofícios. Sente-se mais actriz ou empresária?
Tenho passado mais anos a trabalhar noutras áreas que não a da representação. Gosto imenso de trabalhar como actriz e é, aliás, mais uma das muitas componentes criativas que se cruzam no meu percurso profissional. Trabalhar com a imagem de empresas, na decoração ou no design de objectos, permite-me evoluir com grande rapidez porque os mercados assim o exigem. Visitar feiras, perceber o que mudou, aplicar o que se viu é muito compensador e estimulante para quem não gosta de rotinas e tem um espírito irrequieto como eu. E obriga-me a fazer aquilo que gosto - ser criativa.A Yolanda é uma das mulheres mais elegantes de Portugal. Acha que a elegância é inata ou conquista-se?
Um pouco das duas... Há atitudes que se conquistam, há gestos inatos, há toda uma postura que se pode "lapidar". Às vezes basta a forma de andar, o ar tranquilo, um gesto, para se transmitir essa elegância de que fala. Mas muito passa, também, por atitudes, escolhas, objectivos, e isso aprende-se. Bebe-se do que se vê à volta, do que se lê, do que filtramos ao longo da nossa vida. Muitas vezes se diz que "postura é formosura" e essa postura tem sempre a ver com as nossas opções e com aquilo que queremos da vida.Quais são os segredos para se manter em forma aos 52 anos?
Viver intensamente, penso eu. Apostar fortemente em tudo o que se escolhe, ou seja: prego a fundo! Não nos acomodarmos, não cruzarmos os braços por acharmos que ‘já não vale a pena'. Lutarmos por aquilo que queremos e acreditamos, comer de forma saudável mais vezes do que costumávamos fazer quando jovens, algum exercício físico para sacudir a ferrugem e a preguiça e, sobretudo, manter, em altos níveis, o nosso sentido de humor!Como é que se tornou modelo?
Foi uma fase da minha carreira profissional, curta (4 anos), com um objectivo estipulado à partida (fazer uma carreira muito forte, ganhar notoriedade e credibilidade profissional, e perceber a indústria da moda. Começar a desenhar e progredir rapidamente).
Deve ter dado certo porque, 30 anos depois, ainda me perguntam sobre isso, hein?A Yolanda foi a primeira portuguesa a desfilar na Semana de Moda de Paris. Ainda se lembra do que sentiu?
Foi um período muito difícil. Naquela altura, não tínhamos as agências e os apoios de agora. Era cada um por si. Fui conquistando o meu espaço através do meu estilo na passerelle. Vivia sozinha em Paris e isso tornava tudo mais complicado. Os dias pareciam sempre difíceis, as batalhas impossíveis. Mas foi muito gratificante perceber que, pouco tempo depois, já me podia dar ao luxo de seleccionar os trabalhos que queria, embarcar de Lisboa apenas por dois ou três dias para um desfile especial, regressar e tornar a partir quando me solicitavam.Já revelou numa entrevista que se sente decepcionada com os manequins dos dias de hoje...
Os manequins portugueses foram sem dúvida, naquela altura, muito superiores aos manequins que vingavam no estrangeiro. Pelo simples facto de termos uma técnica apuradíssima e o brio de fazermos um trabalho muito individual.
Hoje assistimos, em todo o mundo a desfiles onde os modelos femininos ou masculinos não sabem andar de forma correcta e elegante, não sorriem porque se estipulou "robotizar", não desfilam de forma diferente um vestido de noite de um traje desportivo, não mudam de postura ou atitude em cada entrada. Ninguém gosta, mas ninguém assume que é preciso voltar a ter qualidade e ser-se diferente e melhor, mais exigente. A pressão que hoje em dia existe na Moda para as modelos se manterem muito magras preocupa-a?
Felizmente, é um ciclo que está a terminar. Essa exigência foi de tal ordem, que quem queria uma carreira a todo o custo, cometia, sobre si, verdadeiras atrocidades. Hoje, continua a ser necessário um corpo esbelto, mas rejeita-se a magreza extrema. O bom senso imperou e optou-se, felizmente, por corpos mais comuns. Magros, é certo, mas de formas marcadas. Viveu em Moçambique até aos 18 anos. Já lá voltou?
Já lá voltei e a sensação do tempo que nos sobra voltou de imediato. Mas entristeceu-me imenso ver como agora se vive, o grau de pobreza instalada, a falta de recursos básicos, as cidades paradas no tempo, a ausência de evolução. Um país que tudo tem para ser autónomo e onde há espaço para todos...
Entrevista de Joana de Sousa Costa
Fotos de Carlos Ramos
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