A família Lopes tornou-se num dos núcleos mais conhecidos pelos portugueses após a estreia da série 'Conta-me Como Foi', na RTP1, já lá vão 10 anos.

Carlitos, o mais novo membro da família, foi uma das personagens que mais carinho recebeu por parte dos telespectadores, quer devido à sua inocência, quer por causa do seu lado mais cómico.

O Notícias ao Minuto esteve à conversa com Luís Ganito, o jovem ator que deu vida a Carlitos. Uma década depois, o artista continua a lutar por uma grande oportunidade na área da representação, mantendo, contudo, os pés bem assentes na terra.

Como nos contou, licenciou-se em Finanças, consciente da vida difícil que os artistas levam em Portugal. Adquiriu também este ano a sua casa própria.

O 'Conta-me Como Foi' foi das séries portuguesas mais vistas. Porquê este interesse à volta da história?

É uma série de foge um pouco ao que nós estamos habituados a ver na televisão, é mais familiar, não existem dramas que sejam pesados. É muito bem balanceada entre a tristeza e a vida das crianças. Não é pesarosa.

É muito bom estar ligado ao Carlitos, mas tem uma parte negativa de ficar preso a esta imagem

Tendo interpretado o Carlitos durante tantos anos, não teme ter ficado demasiado colado à personagem?

Senti isso muito na pele quando era mais novo. Foi uma série que marcou bastante e a minha personagem ficou bastante vincada. Durante muitos anos olhavam sempre para mim como o Carlitos. A cada casting que fosse diziam: 'olha, o Carlitos'. E eu dizia: 'o Carlitos não, sou o Luís'. Fiz o Carlitos, é passado, vamos para o próximo projeto. É muito bom estar ligado ao Carlitos, mas tem esta parte negativa de ficar preso a esta imagem. Agora com esta idade já não existe tanto, porque consigo mudar bastante de visual.

Se lhe propusessem fazer o Carlitos já nos anos 1990, aceitaria?

Aceitaria de cabeça! O 'Conta-me Como Foi' foi um projeto muito especial para mim e para todos, foi diferente. Nem conseguimos comparar este 'Conta-me' com aquele que gravámos há 10 anos. É a mesma família, a mesma produção, mas foi um projeto diferente, foi um ritmo que nada tinha a ver. Se me dissessem 'anos 90', eu perguntaria: 'ok, mas como gravámos este 'Conta-me' [o mais recente] ou como gravámos o primeiro?'. Aí, sem dúvida que escolheria o primeiro.

Quais foram as diferenças entre o primeiro e este mais recente?

Este teve uma série de percalços que não nos permitiram ter uma ligação próxima entre os atores e a produção. O primeiro teve o sucesso que teve porque gravámos 104 episódios em quatro anos, no último gravámos 53 episódios em sete meses Logo aí diz muito da qualidade que se pode dar ao projeto.

Sente que não teve o tempo que precisava para se adaptar ao Carlitos em adulto?

Não foi uma construção complicada. O Carlitos de há 10 anos era o Luís, não havia uma grande dissociação entre as duas pessoas. Não se pode pedir a um miúdo de 9, 10 anos para fingir ser aquela pessoa. Era muito eu. A construção foi tentar perceber o que aconteceu na vida do Carlitos e adaptar-me a ela, os conflitos entre a família e os trabalhos dele.

Quanto à sua pergunta, tivemos uma preparação excelente com muitas horas de ensaios. Senti que estava mesmo pronto. [O que digo] Tem a ver com a qualidade que a equipa pode dar. Uma cena feita em duas horas vai ficar muito melhor do que uma feita em 20 minutos. Não tem a ver com a qualidade, mas com a dedicação que cada um pode dar. Se calhar se tivéssemos um ano e meio para fazer 54 episódios seria diferente.

Enquanto criança foi fácil conciliar as gravações com a escola e tudo o resto?

Não acho que tenha sido difícil. Claro que entrei num mundo completamente fora do meu. Sentar-me à mesa para um jantar de família com Miguel Guilherme, Catarina Avelar, Rita Blanco e depois com os meus manos [Fernando Pires e Rita Brütt] não foi propriamente fácil. Mas fui tão bem acolhido e senti-me tão bem que tinha melhores notas quando estava a gravar do que quando não estava. Tinha sempre a base da família que não me permitia desleixos. Foram quatro anos muito bem passados.

Quando começou a aparecer na televisão lidou bem com o reconhecimento do público?

Para os meus amigos nunca houve diferença, mas também havia a parte negativa em que os miúdos são maldosos. Pela frente era tudo bem e por trás já estavam 'olha, a vedeta'. Como é óbvio, um miúdo não lida bem com isso, mas também não queria saber. Gravava, divertia-me, continuava a fazer a minha vida normal.

E o bichinho da representação acabou por ficar...

E continua...

Saí da minha zona de conforto e não estava à espera deste convite da SIC

Deu vida, inclusive, a Romeu em jovem na novela 'Amor Amor'. Como é que viveu esse desafio?

Foi completamente diferente de todos os projetos. Saí da minha zona de conforto e não estava à espera deste convite da SIC. Nunca tinha vivido a experiência de cantar em palcos, cantar em concertos e tudo mais, foi 'puxadote', mas soube muito bem. Deu-me muito gosto e mais força para continuar.

Chegou a pensar em desistir da representação?

Claro que sim, tantas vezes. É mentira se um ator disser que nunca pensou. Todos já pensaram nisso. É uma profissão que não é fácil e quando chegamos a esta idade temos de ponderar aquilo que queremos e o que não queremos.

Acha que não tem recebido a recompensa justa para a dedicação que tem demonstrado à arte, ou encara as coisas com naturalidade?

Não sei se tem a ver com a recompensa, o que tem de ser, tem de ser. Não gravei desde o 'Conta-me' e apareceu-me o Romeu e pensei, 'vamos a isto novamente'. Se calhar, esse projeto também me abriu um pouco mais as portas de forma a perceber até onde posso ir.

Formou-se em representação ou optou por outro curso?

Sou licenciado em Finanças. Optei por seguir um caminho paralelo: tirar uma formação que gostasse e que não tivesse tanto a ver com a representação por também ter crescido no meio e ter-me apercebido de muito do que se passa. Procurei ter uma segunda base, algo em que me pudesse apoiar. Mas, sim, tenho feito formações e acho que o ator nunca se sente completo o suficiente para dizer que já chega, tem de aprender mais.

Em relação ao 'Conta-me': se pudesse escolher outra personagem além da de Carlitos para interpretar, qual seria?

A da Margarida [Rita Blanco - mãe de Carlitos]. É a personagem que mais gosto me daria por causa de toda a envolvência dela com a família, os percalços, gosto muito da personagem da Margarida.

Se a série continuasse para os anos 1990, quais os momentos dessa década que destacaria?

A Expo98, como é óbvio. Talvez a questão do euro [moeda], também.

Andámos a espreitar o seu Instagram... como é que vão as obras do novo apartamento?

Vão bem [risos]. As obras em si já acabaram, mas o apartamento ainda não está concluído. Com isto da Covid foi difícil escolher as coisas.

Percebe-se que os avós do Luís foram importantes nesta conquista. Tem uma relação muito próxima com eles?

Tenho. Os meus avós vivem na rua atrás da dos meus pais e sempre cresci muito com eles, tínhamos uma relação muito próxima. No meu aniversário disseram: 'Luís, tens aqui este apartamento. Queres?'. Eu disse, 'como é óbvio que sim'. Aceitei com muito gosto e tem sido muito bom termos esta partilha.

Só me vou sentir verdadeiramente um adulto quando tiver a minha caixa de ferramentas Já se sente um adulto a sério com esta conquista?

Sinto, porém só me vou sentir verdadeiramente um adulto quando tiver a minha caixa de ferramentas [afirma, sem conter o riso]. Estou a construi-la a pouco e pouco.

Sou ajuizado quando tenho de ser e um grande maluco quando tenho de ser Para quem ainda não o conhece, quem é o Luís Ganito?

Quando não me conhecem e se aproximam de mim têm sempre uma ideia não real daquilo que eu sou, mas depois percebem que o Luís é muito amigo do seu amigo, é uma pessoa que está lá para tudo, alguém bastante comprometido. Sou ajuizado quando tenho de ser e um grande maluco quando tenho de ser. Sou muito ligado ao desporto e apaixonado pela representação.

Porque é que há essa perceção errada?

Porque não sou uma pessoa que dê muita confiança ao início, que me entregue de cabeça. Para confiar é preciso um tempinho e não me mostro a 100% logo de início.

Qual era o seu projeto de sonho na representação?

Gostava muito de trabalhar mais em cinema, devido à qualidade e entrega que podemos dar à personagem. Gostava de trabalhar noutra língua. Tive um casting em espanhol e é uma coisa que gosto bastante, explorar outras línguas.

Como é que se imagina daqui a 10 anos?

Não sou uma pessoa que faça planos a longo prazo. Espero ter um filho ou dois, já ter a minha família, o meu apartamento com tudo, que o meu Benfica já tenha sido campeão europeu, e espero já ter viajado muito.

Agora com esta idade, já começa a entender de forma diferente o genérico do 'Conta-me Como Foi' - 'vem viver a vida amor, o tempo que passou não volta mais'?

Essa foi sempre uma das maneiras de viver a vida. Aproveito-a muito, todos os segundos que estou a viver, em cada projeto que estou dar o máximo, porque sei que vai acabar. Tudo na vida é efémero.

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