Júlio Isidro foi uma das muitas caras conhecidas que se manifestaram nas redes sociais após a morte da rainha Isabel II. Num longo texto que escreveu, recordou a primeira vez que a monarca visitou Portugal.

De recordar que IsabeI II visitou o nosso país duas vezes, a primeira em 1957 e a segunda em 1985.

"Fazia frio naquele dia de fevereiro de 1957. O meu tio Adelino queria ver a rainha, mas não sozinho. Levou-me com a minha prima Nélinha para a Avenida da Liberdade por onde passaria o cortejo da jovem Isabel II, recebida pelo general Craveiro Lopes então o presidente do nosso Estado novo", começou por recordar.

"Fui obrigado a levantar-me às 7 da manhã, pequeno almoço, o cacilheiro, porque o tio morava na outra banda e mesmo ali nos postámos, na primeira fila encostados a umas cordas que separavam a plebe da aristocracia. Horas e horas de espera, até que passa imponente a guarda a cavalo e atrás... lá vem ela a rainha dos ingleses", relatou.

"Aplausos, gritos de viva a rainha, lá dentro da carruagem um sorriso e uma mão a acenar e pronto, já lá vai à frente. Acabou o cortejo, o tio entregou-me em casa e à noite passaram imagens a preto e branco da primeira transmissão in-directa da RTP. Guardo uma foto desse momento, a rainha a acenar, feita pelo fotógrafo Fernando Correa Dos Santos, que continua entre nós", acrescentou, destacando que a primeira visita a Portugal aconteceu poucos anos depois da sua coroação.

Mas esta não foi a única vez que viu a rainha. "[...] Passaram 28 anos, cresci, e agora já profissional de comunicação social, ia ver de novo a rainha. Não esperava que de tão perto. O anfitrião desta vez era o general Ramalho Eanes presidente de Portugal em democracia. Por sua iniciativa, recebi convite para a gala artística que decorreu no teatro nacional Dona Maria II onde um pouco do melhor das nossas artes de espetáculo se exibiram para a nossa convidada de honra. Ali estava eu, sentado na plateia a aplaudir os nossos artistas, sendo que Carlos Paredes impressionou verdadeiramente a soberana", lembrou, falando depois do convite que recebeu da casa real.

"No salão superior, Isabel II cumprimentou todos os participantes e teve um diálogo histórico com o tão talentoso quanto tímido, génio da guitarra. E pronto, em 28 anos tinha dado alguns passos para ficar a passos da rainha. Engano meu, e espanto quando recebi um convite da casa real britânica para uma receção a bordo o yacht Britannia. Fato de cerimónia e medalhas. Levei o fato, mas medalhas, teria que esperar até 2005 para poder ostentar o título de comendador da Ordem do Infante", disse.

"Subimos de mão dada, a escada de acesso ao navio e fomos recebidos pelo duque de Edimburgo, rodeado de personalidades portuguesas e britânicas. Muito cordial lançou uma frase que ainda hoje tento discernir o significado. No aperto de mão comentou: 'Tenho lá em casa alguém parecido consigo'. Sorri e segui. Já no salão principal, caminhava na nossa direção a rainha!! Uma senhora do protocolo apresentou-me, curvei-me em vénia e, ao ser informada que eu era uma espécie de Terry Wogan aqui do país, sorriu e proferiu: 'A very interesting job' - passaram 73 segundos e a rainha deslizou para outro encontro", contou.

Episódios que guarda no coração e na memória com carinho, e que às vezes parece que não passou de um sonho.

No mesmo texto, Júlio Isidro também salientou a sua admiração e respeito pela rainha Isabel II. Além disso, destacou os festejos dos 70 anos de reinado, que decorreram neste ano de 2022.

"O que eu gostava de ter reportado esta festa, nas ruas do Reino Unido por esta senhora de voz suave e convicções fortes. Pensei que iria partir antes de Isabel II, mas sua majestade tinha terminado os últimos dos seus 21 mil compromissos oficiais", escreveu.

"No discurso final, a sentir provavelmente o apelo do reencontro com o príncipe Felipe reafirmou-se: 'Ao assinalarmos este aniversário, tenho prazer de vos renovar a promessa que fiz de que a minha vida seria dedicada ao vosso serviço. Espero continuar a servir-vos com todo o meu coração'. E assim foi até ao último tranquilo suspiro. De saia de tecido escocês e um casaquinho de lã, a rainha Isabel II, ontem mesmo, aceitou a demissão de Boris Johnson e oficializou Liz Truss como primeira ministra. Foram os seus últimos atos públicos, feitos a sorrir, antes de dizer adeus ao reino onde foi soberana, mãe, avó e bisavó da sua família e dos britânicos que deixam flores no palácio de Buckingham, enquanto o céu chora.... e eu também", rematou.

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