O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.
Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Leia a história de Jorge Azevedo.
O que é que o faz sorrir?
Jorge Azevedo: Fazer sorrir alguém de quem gostamos. Mas fazer sorrir alguém que precisa desse sorriso também é extremamente gratificante.
O sorriso é uma ferramenta?
Jorge Azevedo: Quando o sorriso precisa de ser uma ferramenta, já não é espontâneo. Eu não tenho muito jeito para sorrisos amarelos.
Acha que as pessoas de sucesso são optimistas? Foi isso que lhe permitiu ser bem-sucedido?
Jorge Azevedo: Talvez as pessoas de sucesso sejam optimistas, o que não significa que os optimistas sejam pessoas de sucesso. Eu acho que o segredo das pessoas de sucesso é conseguirem olhar para os erros como fonte de aprendizagem, com um sorriso. E acima de tudo terem a coragem de sair da zona de conforto. O facto de ser bem-sucedido é exactamente por isso: ter conseguido sair da zona de conforto, com determinação e um sorriso.
Qual a maior adversidade pela qual já passou?
Jorge Azevedo: Já passei por algumas. Quando tinha 18 anos de idade e estava nos EUA, estive sem dinheiro para comer e sem ter onde dormir (dormi num parque). Fui aos 17 anos para lá. Já estava perdido antes de ir, era muito rebelde, tinha abandonado os estudos, trabalhava como funcionário de manutenção de um hotel. Não tinha objectivos para a minha vida. O meu lado aventureiro e rebelde fez-me emigrar para os EUA. Fui com um amigo que também estava perdido e sem destino por cá. Fiz de tudo: fui trolha (andei a colocar cimento nos passeios em Nova York), fui jardineiro, fui carpinteiro, aprendi a fazer uma casa em madeira. Trabalhava apenas uma ou duas semanas e com o dinheiro que ganhava ia passear e visitar outro estado. Até que o meu amigo (filho de boas famílias) ao fim de um mês voltou para Portugal. Eu fiquei sem trabalho, sem dinheiro e com vergonha de ter que ir ao consulado pedir repatriamento. Decidi que só voltava quando tivesse amealhado o dinheiro que a minha mãe (que era humilde) me tinha emprestado para eu poder ir. Voltar sem esse dinheiro estava fora de causa. Dormi na rua, tive momentos sem ter o que comer. Fiquei ainda mais perdido, mas nesses momentos sem tecto e comida aprendi a dar o valor às coisas.
Como é que conseguiu ultrapassar esta adversidade?
Jorge Azevedo: Com a ajuda de um tio que vivia noutro estado, arranjei trabalho como ajudante de jardineiro e construção, decidi ficar a trabalhar. Tive momentos duros e difíceis, mas ao fim de 6 meses consegui retornar a Portugal com o dinheiro para a minha mãe e com a minha dignidade. Com isto aprendi o esforço que os emigrantes fazem. Aprendi a dar valor à família. Aprendi o valor de lutarmos e trabalharmos por algo. Outra adversidade mais receite aconteceu quando fiquei desempregado com 45 anos. Nesta conjuntura adversa que vivemos, tive de investir e arriscar os últimos tostões que tinha num negócio arriscado e praticamente desconhecido. Consegui ultrapassá-la com teimosia, perseverança e até obsessão .
Saiu um estudo que revela que os portugueses estão a sorrir cada vez menos, acha que tem a ver com a conjuntura actual?
Jorge Azevedo: Efectivamente a realidade não ajuda a que se sorria muito. Esta conjuntura não é fácil, mas nos momentos difíceis é que efectivamente temos que descobrir a nossa força.
Portugal aumentou o consumo de antidepressivos. O que falta aos portugueses?
Jorge Azevedo: Os portugueses têm “tudo”. Talvez tenham algumas capacidades inatas que estão adormecidas, como a determinação e resiliência.
Que conselho tem para os portugueses que perderam o sorriso?
Jorge Azevedo:Não terem medo de sair da zona de conforto. Todos os dias arriscarem a dar um passo numa direcção nova. Hoje foi um passo, amanha vão ter um caminho novo. “Muitas vezes encontramos o nosso destino por caminhos que enveredamos para o evitar”. O que pensamos que é mau, que não queremos, que nos faz sofrer, um dia pode ser o nosso destino e felicidade. Quem diria que o meu futuro estivesse numa coisa que eu detestava fazer há uns anos? O meu desporto eram atividades radicais e individuais, não gostava de correr. Tive alguns momentos difíceis na minha vida, o falecimento dos meus pais, uma depressão, e o meu posterior despedimento com 45 anos de idade, que me fez ficar sem dinheiro. Isto tudo que não me dava um quadro risonho nem promissor para o futuro foi o que me fez chegar hoje onde cheguei e ser feliz. A teimosia e a perseverança são a mesma coisa, vistas por pessoas diferentes.
Entrevista: Mafalda Agante
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