Todos os caminhos do centro de Londres pareciam hoje à tarde ir dar ao palácio de Buckingham, residência oficial dos monarcas britânicos, e local a onde chegará na terça-feira o corpo da Rainha Isabel II, que morreu na quinta-feira passada em Balmoral, na Escócia.
Todas as ruas que levam ao palácio e que não estavam ainda com acesso cortado pela polícia, estavam cheias de multidões a caminho de Buckingham, com milhares de ramos de flores nas mãos e muitas famílias e crianças.
Centenas de polícias e seguranças, alguns com recurso a megafones, organizavam a marcha das multidões nas ruas e parques, já cheios de grades e vedações, ao mesmo tempo que alertavam para os tempos estimados até chegar aos portões do palácio.
A meio da tarde, as filas demoravam umas duas horas a percorrer para aqueles que queriam mesmo deixar as suas flores, cartões, balões, peluches ou frascos de compota -- de que a Rainha gostava -- junto aos portões de Buckingham.
Mas foram muitos os que desistiram da ideia e acabaram por depositar noutros locais os ramos de flores e outros presentes, que durante a tarde foram rodeando, em muitos casos, com enormes círculos, os troncos das árvores dos parques de St James's e Green Park.
As flores foram também enchendo grades, portões e estátuas e o "Jardim do Tributo Floral", uma área maior do que um campo de futebol, criado pelas autoridades no Green Park para as pessoas ali deixarem as flores dedicadas a Isabel II.
Elliott, de 9 anos, de Londres, deixou os seus presentes, um desenho e uma sandes de compota, de que a Rainha tanto gostava, junto de uma árvore de Saint James's Park, porque era "impossível" chegar ao palácio, explicou à Lusa a mãe, Imogen.
Vieram hoje a Buckingham porque é o dia sem aulas e Elliott gostava muito da rainha, como parece acontecer com as crianças britânicas, milhares delas hoje de flores, desenhos, balões e peluches em punho entre as multidões em Buckingham.
O passeio de domingo foi aproveitado para homenagear Isabel II, que reinou durante 70 anos e é a única monarca de que a maioria dos britânicos se lembra, mas também para fazer a seguir ou antes da entrega das flores um piquenique no parque, observar como está o ambiente em Buckingham e como se fazem os preparativos do funeral e, com sorte, ainda ver o novo rei, Carlos III, numa das saídas e entradas do palácio.
Sucedem-se as fotografias, os vídeos, aplausos à passagem de carros e polícias. Mais perto do palácio, domina o silêncio.
O ambiente é de solenidade e respeito pela Rainha, mas também de celebração do novo monarca e, sobretudo, da vida que Isabel II teve, como explica a mãe de Elliott: "É muito emocionante, ela é um ícone, uma referência de esperança, estabilidade, confiança. É triste saber da sua morte, mas teve a sorte de viver até aos 96 anos e morrer sem ter estado doente, sem demências, a trabalhar até ao fim."
Imogen sente que Isabel II cumpriu todas as missões que lhe cabiam, que se despediu dos súbditos em junho, nas celebrações do jubileu de platina (os 70 anos de reinado) e que agora disse "está feito" e foi ter com o marido, que morreu no ano passado.
"Foi um privilégio partilhar com ela este tempo de vida", afirmou.
Buckingham tornou-se local de romaria para milhares de pessoas desde que Isabel II morreu, na quinta-feira, e desde então, progressivamente, a cada dia que passa, vão sendo colocadas mais barreiras e delimitados acessos ao palácio, à medida que as multidões vão engrossando, que o número de jornalistas de todo o mundo vai aumentando e que se aproximam as cerimónias fúnebres previstas para Londres, entre terça-feira e a segunda-feira seguinte, 19 de setembro, data do funeral de Estado.
Hoje já não era possível andar a pé nas faixas centrais da avenida conhecida como "The Mall", que desce até ao monumento de homenagem à rainha Victoria e à fachada principal do palácio.
As laterais do "The Mall" já estão vedadas com barreiras metálicas, controladas por dezenas e polícias, enquanto palanques estavam a ser montados em alguns pontos da avenida e em frente dos portões do palácio.
As bandeiras colocadas em grandes momentos em Buckingham, semelhantes às das celebrações do jubileu, também já estão a postos no fundo de "The Mall". Só falta chegar Isabel II.
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