É sabido que o “Delfim” Miguel Ângelo é um especialista em música. Mas nem todos saberão que o vocalista é, também, um verdadeiro “expert” em matéria de moda. Homem atento às tendências, faz por não perder uma Moda Lisboa, evento que mais uma vez acompanhou este ano.

O que o atrai na Moda Lisboa?

Gosto muito de moda, além de que a moda também está muito associada à música e aos meios musicais. É também um sítio onde encontro muitos amigos, gente que quase só reencontro nas edições semestrais da Moda Lisboa. Tenho acompanhado isto tudo desde o início, nos anos 80, com as Manobras de Maio, as passagens no Bairro do Século, no Bairro Alto, e o início de criadores como o Tenente, por exemplo. Gosto muito de ver que isto se tornou numa indústria produtiva, interessante, moderna, contemporânea. Tenho uma ligação afectiva que já vem de há muitos anos atrás.

Tem muitos cuidados com a sua imagem?

Tenho que fazer a barba (risos). Tenho alguns cuidados. A imagem está muito ligada à música e, hoje em dia, cada vez mais. O que vestimos e o estilo em que nos inserimos são responsáveis por transmitir uma dada mensagem a quem nos vê.
Há marcas que se associam desde sempre à música, como a Fred Perry, com a qual tenho uma ligação muito forte. Era a marca que apoiava os grupos ingleses de que gostava, daquela onda musical mais ligada ao conceito MOD (subcultura dos anos 60, cuja palavra nasce da abreviatura de Modernismo). Acho que há sempre uma ligação entre a música e a moda que é inevitável.

Tem um sítio favorito para comprar roupa?

Tenho. Opto por misturar roupas novas, muitas delas da Fred Perry, que é o meu patrocinador e tenho de aparecer com elas (risos), gosto de comprar no estrangeiro e ir até àqueles sítios de roupa em segunda mão, que tenho pena que cá em Portugal ainda não exista muito. Se formos a Londres ou Paris existem lojas onde se compram peças fantásticas e muito baratas que as pessoas podem, por exemplo, combinar com uns sapatos novos. Há sempre maneira de conseguirmos estar dentro de uma linguagem contemporânea sem termos de gastar rios de dinheiro.

O Miguel Ângelo tem algum estilo definido?

Gosto muito da tendência MOD, mais ligada aos anos 60, dos colarinhos mais justos, as gravatas fininhas, um look mais “sharp”. Julgo que é uma tendência que está a voltar. Basta ver as cantoras que apareceram como a Janelle Monáe ou a Amy Winehouse. Há muito o regresso aos anos 60, à estética cuidada. Uma pessoa deve estar em palco diferente do que está no dia-a-dia. Essa linguagem da imagem do palco, a combinar com a fotografia, sempre me interessou muito. Por isso, gosto de estar de acordo com a música e as letras que canto e com a estética que mais me atrai.

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Sente que em Portugal já existe essa noção de estética?

Sim. Acho que, nos últimos 10 anos, com o advento da internet com os portais e os blogues de moda, toda a gente pode estar na vanguarda e existe uma linguagem muito mais global do que há uns anos onde as coisas estavam mais inacessíveis.

Tem algum estilista português favorito?

Gosto muito da Katty Xiomara e da Maria Gambina. Já vesti muito, e continuo a vestir, Nuno Gama e José António Tenente. Conheço o Tenente desde o início de tudo, é de Cascais como eu, e com o Nuno Gama tivemos uma agradável ligação enquanto “Delfins”. Durante grande parte dos anos 90 vestíamos sempre Nuno Gama e lançávamos as peças das novas colecções antes de surgirem no mercado.

As mulheres portuguesas vestem-se bem?

Vestem-se muito melhor do que se vestiam, já existe um cuidado muito diferente. O que acho perigoso nesta globalização da moda em que todos podemos estar a par de tudo através da internet, é que as pessoas, às tantas, parecem clones umas das outras. Por exemplo, tenho uma filha com 19 anos e um rapaz com 15 e vejo a “linguagem” deles em matéria de roupas. No outro dia fui ao liceu do Martim e vi 60 “Martins”. É quase assustador, parecia um filme do John Carpenter. E as miúdas também usam todas a mesma linguagem. Mas, pelo menos, têm a consciência do que “devem” vestir para ter uma linguagem de moda que seja contemporânea.

(Texto: Inês Costa)

(Foto: Joaquim Gromicho)